sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal

Quando eu era criança, o Natal tinha um significado diferente do que tem hoje. A começar pelo clima da época. Eu me lembro que, nos anos 1990, passei poucos Natais sem chuva. Nos últimos dez anos, me lembro de um ou dois Natais chuvosos. Mas, falando de clima, não é apenas o clima do tempo que era diferente, mas o clima em relação às próprias pessoas. Todos se preparavam para as festas, todos se convidavam para inúmeros encontros, fazíamos amigo secreto (os cariocas chamam de "amigo oculto", provavelmente só pra colocar um "cu" onde não tinha).

Na faculdade eu fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que, a bem da verdade, simplesmente desconhecem o Natal, o que se deve à uma questão simplesmente cultural: sendo o Brasil um caleidoscópio de nações, é mais do que natural que muitas pessoas não estejam nem aí pro Natal. Ainda assim, aquilo me espantou. Eu sempre fui acostumado a viver um clima de reunião nos Natais. Mas, infelizmente, o mundo não é assim. As pessoas não querem se reunir umas com as outras. Estamos cada vez mais ocupados, cada vez mais ricos e cada vez mais distantes. Não nos preocupamos conosco mesmos nem com nosso futuro. Para nós, a natureza que se foda, porque o mundo precisa "progredir"... Fiquei seis anos na graduação e agora vou para o mestrado sem saber que diabos significa essa palavra. Três sílabas... apenas três sílabas são a justificativa para guerras, morte, destruição, desespero, inflecidade.

Muitos perguntam "para que serviu o Natal desde que foi criado?". Eu pergunto: o que seria do mundo se não tivesse havido nenhum Natal? Estaríamos aqui hoje? Como é possível parar máquinas de fazer dinheiro? Antigamente, sangue inocente seria a resposta. Hoje em dia, nem isso mais. Não há absolutamente nada que seja capaz de parar ou ao menos limitar o domínio que o dinheiro e o poder exercem sobre os seres humanos.

O Natal, apesar de ser sim uma festa comercial e mais uma fonte de riqueza pra quem vive da exploração das pessoas, traz, ainda que praticamente extinta, uma chama de alento aos nossos espíritos. O mundo não tem mais encanto. Aquela sensação de magia que eu sentia quando criança, nas apenas no Natal, mas todos os dias, por mais que eu queira, por mais que eu busque desesperadamente, não sinto mais. Aquele cheiro de dia de Natal se extinguiu, e eu temo que para sempre. O espírito do Natal parece ter deixado este mundo. Tudo o que nos resta são pistas, rastros que em breve serão cobertos pelo pó que compõe este mundo.

Se você concorda ou discorda de mim, não importa. Apenas não se esqueça que o Natal, apesar do que possa parecer nesse mundo desencantado, tem um significado muito mais profundo e muito mais abrangente, que, inclusive, vai muito além até mesmo do que a igreja nos ensina. Meu desejo é que em algum momento da sua vida você encontre esse significado, independente de crença, e sinta o que eu sinto quando é Natal.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Pensamento do dia. Tenha um bom fim de semana!

O mundo dos seres humanos não é tão diferente do mundo dos animais: aqui sobrevive o mais forte, aquele que tem poder simbólico o suficiente para fazer frente aos demais. Poder simbólico. Esta é a grande diferença entre os dois mundos, o dos animais e o dos seres humanos: entre estes vale o símbolo de poder; entre aqueles vale o mais forte, que comprova sua superioridade física corpo-a-corpo. 

Não somos animais. Somos homens e mulheres. Somos diferentes dos animais em muitas coisas; em outras somos semelhantes a eles; e em algumas somos idênticos. Um exemplo de diferença: não precisamos nos morder até a morte para provarmos nossa força. Um exemplo de semelhança: demarcamos território com papéis, cores e muita conversa afiada ao invés de mijo. Um exemplo em que somos idênticos: quando em grupo, precisamos reconhecer ao menos um líder*.

Entretanto, muito embora não precisemos nos morder para demonstrarmos força e nem mijar na terra para demarcar território, nos sujeitamos a fazê-los em nome de um líder... ou para sermos o líder.
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* Na mitologia grega, Quiron não reconhecia nenhuma liderança porque era um centauro: uma espécie de híbrido, um ponto de convergência entre seres humanos e animais, uma síntese, portanto. A representação de Quiron, como arquétipo da figura do centauro, aparece na iconografia tendo a parte humana acima da parte animal, denotando um ideal de supremacia da razão sobre o instinto. Quiron é o grande mestre de várias das mais célebres figuras mitológicas gregas, como Zeus, Hércules e Aquiles, porque está em um ponto extremamente estratégico: 1) é um ser divino, portanto, goza de imortalidade; 2) é metade homem e, como tal, representa o ideal grego de perfeição humana: sabedoria, inteligência e espiritualidade; 3) é metade animal, agregando, além das habilidades de desenvolvimento dos sentidos, força e agilidade próprias dos animais, a capacidade de compreender a própria linguagem natural. Quiron representa, em si, um portal que dá acesso a vários mundos diferentes, sendo ele mesmo a própria chave desses portais, razão pela qual é mais representado como líder do que como liderado.

domingo, 13 de novembro de 2011

OCUPAÇÃO DA USP

O movimento estudantil é legítimo, mas não podemos nos esquecer de que ele é um movimento fundamentalmente político. Existem lugares específicos para se fazer política em uma democracia e, sinto informar, a universidade não é um deles. O ambiente universitário é um lugar para reflexão, debates, discussões, descoberta, formação. O erro desses amontoados de estudantes ridículos que se auto-denominam "movimento estudantil" é fazer da universidade um ambiente político. Estudantil só porque é formado por estudantes? Para eles, é muito fácil, muito tranquilo invadir um prédio de reitoria, onde há ar condicionado, copa, banheiro, móveis confortáveis para se acomodarem, telefones, computadores etc. Por que não barraram a entrada na portaria? Por que não enfrentaram as borrachadas da polícia "mano-a-mano"? Eu pergunto e eu mesmo respondo: porque seu movimento não têm lastro político e porque são um bando de covardes.

Isso é movimento estudantil? Desculpem, eu jamais admitiria ser representado por um bando de arruaceiros. Movimento estudantil foi o dos anos 1960 e 1970, que fizeram política fora da universidade, poupando o centro de formação dos conhecimentos de ser exposto ao ridículo e perder credibilidade diante da sociedade. Esses estudantes se esqueceram de que nem todos os servidores da USP compartilham dos ideais do seu reitor. Tomando uma atitude como a que tomaram, os estudantes acabam atingindo inocentes, além do custo aos cofres públicos para restauração da reitoria.

Agora me digam: onde está o partido que representa a classe estudantil? ELE NÃO EXISTEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!! E sabem por que não existe? Porque até mesmo o universo da política, com sua ética elástica, se recusa a acolher um bando de baderneiros que não buscam legitimar o seu movimento antes de saírem por aí invadindo e depredando prédios públicos.
Quanto a polícia no CAMPUS, qual o problema? A USP é uma instituição do Estado; a PM também... A razão de existência da universidade PÚBLICA é a defesa dos interesses do Estado; o da PM também... então, por que a recusa por parte dos estudantes? Eu mesmo respondo... aqui, no Brasil, infelizmente, o estudante vai para a universidade pensando ser um lugar mágico, um universo paralelo completamente apartado da sociedade. Quanta ingenuidade, quanta mentira... Os calouros não vão à universidade para estudar, mas para festejar o fato de terem passado no vestibular; os veteranos, por sua vez, que deveriam zelar pela reputação da universidade e trazer os calouros à realidade, os encorajam a arrecadarem dinheiro nas ruas para passarem a noite bebendo e fanfarreando... será mesmo que eles tem tanta razão assim? Será mesmo que eles são as pobres vítimas de políticas arbitrárias? A julgar pelas reivindicações, eu duvido. Ao invés de exigirem políticas eficazes de segurança junto ao governo do estado de São Paulo, não... eles apenas querem tirar a PM do campus, sob o pretexto imbecil de perda de liberdade. Liberdade para quê, cabe indagar. Que tanta liberdade o estudante brasileiro quer ter dentro da universidade? Liberde em relação a quê? Nem eles sabem... querem apenas ser livres, não sabem do que e nem por que, mas querem ser livres.

E no fim, tiveram que sair a força, gritando, berrando "injustiça", chorando lágrimas de crocodilo. Tudo em vão. Como adolescentes na puberdade, esses estudantes apenas chamaram a atenção e conseguiram a reprovação das suas atitudes. Amigos estudantes, por favor, não percam seu tempo com invasões. Organizem-se politicamente e reivindiquem seus direitos nas instituições superiores legais... cobrem dos deputados e senadores que elegemos a devida base política para o movimento que foi  a única coisa que faltou para a invasão poder ser chamada de legítima... e isso fez toda a diferença.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O BRILHO DA ALMA

Eu formo amizades não por arquétipos nem interesses, mas pelo brilho da alma. Existem almas de múltiplas cores: castanhas; cor-de-mel, quase amareladas... outras são acinzentadas; algumas são exóticas: verdes, azuis; outras são mutantes: verdes e azuis; castanhas e acinzentadas. Existem, também, as almas negras.



O brilho da alma é o brilho do olhar e este revela a profundidade da alma. Não é, portanto, a cor da alma que me instiga, mas a intensidade do seu brilho. As almas apagadas e foscas não me interessam... fico com aquelas tão brilhantes que, ofuscando  o brilho da minha, forçam-me a intensificá-lo mais e mais. Quanto às almas apagadas e foscas, resta-me apenas estender uma faísca, um lampejo.

A alma lavada não é necessariamente limpa, assim como os olhos lacrimosos não denotam apenas a tristeza. Nem as brilhantes são necessariamente boas, da mesma maneira que as foscas  não podem ser consideradas totalmente ruins.

As almas ao meu redor são um misto de paradoxos sem sentido,  cores e brilhos inumeráveis, formas e traços indefiníveis... uma junção de peças desconexas que se conectam apenas pelas frestas. Essas são a minha própria alma.


(este texto é uma leitura, de minha autoria, do poema "Loucos e Santos" de Oscar Wilde).

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

INJUSTIÇA SOCIAL

Um dia desses logo pela manhã, estava eu indo em diereção à senzala... digo... ao trabalho, quando me deparei com uma senhora, aparentemente bastante idosa, parada sob uma árvore, esperando por alguém ou alguma coisa. Como sempre, eu estava com pressa de chegar ao trabalho [sim, eu bato cartão de ponto] e, bem na hora que eu passava pela senhora ela resolveu que deveria ir, me obrigando a diminuir o ritmo da caminhada. Em um primeiro momento, confesso que fiquei um pouco aborrecido com a diminuição súbita, mas isso me fez pensar.

Vivemos em um momento pautado pela emergência, pela urgência. Mas de quê? Por que temos sempre a impressão de que estamos no último segundo para tudo? Stuart Hall (A identidade cultural na pós-modernidade. DP&A: 2006) aponta, dentre outros fatores, a tal da globalização. O encurtamento das distâncias provocado pela criação de uma "aldeia global", em que o mundo está sempre em conexão, transformou drasticamente a noção que temos de dois pontos-chave da vida moderna humana: o tempo e o espaço. E se as idéias de tempo e espaço sofreram mutações, uma outra idéia também se tornou "híbrida", digamos assim, e não comporta mais os significados que tinham até, mais ou menos, meados da década de 1990: a idéia de lugar.
O tempo está diferente; o espaço está diferente; a idéia de lugar está diferente. No entanto, as pessoas de mais idade, digamos as das gerações entre o final de década de 1940 e meados da de 1950, que hoje tem aproximadamente entre 55 e 60 anos, dificilmente conseguem acompanhar essas mudanças de caráter, permitam-me dizer, puramente abstrato. Ou seja, não é possível distinguir tempo, espaço e lugar, mas essas idéias são fundamentais para ciências como a Física e a Geografia. Na verdade, eu desconfio de que as pessoas daquelas gerações se recusam deliberadamente a acompanhar essa mudanças, simplesmente não aceitando se metamorfosearem [nem sei se essa palavra existe]. Digo isso com base na convivência com meus pais.

Então, me parece que o choque da emergência dos mais novos com a paciência [necessária] dos mais velhos, provoca um sentimento de confusão em ambos: de um lado, o mais jovem não entende o que leva um idoso a andar tão devagar, ou a acordar as 5h da manhã; o idoso, por sua vez, não entende porque o jovem tem tanta pressa, tanta urgência em fazer sabe-se lá o quê. Esse choque está diretamente relacionado à noção de utilidade de um de outro diante da sociedade. Esta, infelizmente, ainda atrela de maneira vital a noção de utilidade com a noção de trabalho, de forma que quem não trabalha, seja por vagabundagem, falta de emprego ou mesmo porque já trabalhou os 35 anos necessários à aposentadoria, é considerado socialmente inútil, reduzido a um "gasto desnecessário". Isso é o que Stuart Hall chama de "tradução", esse ato de se reduzir certas noções ao mesmo patamar [antigamente, nas ciências sociais a gente chama isso de "nivelar por baixo"... hoje eu sinceramente não conheço uma gíria científica específica pra isso... acho que estou ficando velho]. Por outro lado, o jovem, por possuir atributos que ainda podem ser explorados pela sociedade é o parâmetro para estabelecer usos e desusos.

Eu discordo veementemente dessa idéia de que ser útil é ser trabalhador. A função do trabalho, de acordo com Marx, é a produção para a sobrevivência. Acontece que tem sempre um filho da puta que se apropria dos meios de produção e quer superfaturar essa produção para ganhar mais. São esses filhos da puta que fizeram com que a utilidade do ser humano fosse tornada sinônimo de trabalho. E vejam que aqui me refiro a todo tipo de trabalho, em especial ao trabalho alienado. Um paradoxo interessante, uma vez que na Grécia antiga o movimento seguia na via exatamente contrária: o ócio era a referência para a cultura, para o pensamento e, evidentemente, para a utilidade do ser humano. Mas esse ócio não era um simples "não fazer nada da vida" e sim um tempo de reflexão [essa é a chave da filosofia grega]. O mais velho era o parâmetro para usos e desusos e, exatamente por isso, era respeitado pela sua vivência e sabedoria.

Hoje o mais velho é, por definição,  aquele que atrapalha o desenvolvimento, é a pedra no sapato, é a barreira a ser vencida e não me refiro apenas ao ser humano. As noções pós-modernas, de uma maneira geral, não comportam, de forma alguma,  nada que lhe pareça obsoleto. Os processos não se concluem... não que algum processo algum dia tenha se concluído, eles sempre se transformam. Acontece que o tempo necessário inclusive para isso mudou: as transformações processuais são muito mais rápidas, fazendo com que o novo nasça, praticamente, obsoleto. 

Ô pós-modernidade do caralho! Tira o pé da minha vida!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

"POLEMICUZINHA"

Tem um zumzum aí de uma "polemicuzinha" envolvendo um certo comentário do humorista Rafinha Bastos a respeito do filho [ou da filha, sei lá!] de uma certa [pseudo] cantora. Há certas coisas neste país que são para "azular a porta do cu": todo o estardalhaço midiático em torno dessa história não é porque ele fez uma piada com uma criança, nem porque isso teria atingido a tal [pseudo] cantora, mas porque ela é esposa de um grande empresário aí. Como o Rafinha Bastos já se pronunciou a respeito e Marcelo Tas também teceu algumas palavras sobre o ocorrido, penso que escrever a minha opinião como deveria é como chover no oceano.

Mesmo assim eu vou dar a minha opinião! O humor é uma sátira da vida e esta não tem sentido sem uma dose de humor. A vida é, de alguma maneira, o humor de cada dia e quem não vive com certa dose de humor não está vivendo, mas apenas caminhando para a morte. Ao ofendido, a retratação; ao ofensor, o direito de ser ouvido; e à sociedade... bem... a sociedade que se foda, porque essa maldita hipócrita fecha os olhos para aquilo que deveria realmente enxergar e prefere ficar fingindo orgasmos em meio a panis et circenses como esse!

sábado, 1 de outubro de 2011

EI VEJA... VAI TOMAR NO CU!

"Ensino obrigatório de Filosofia e Sociologia nas escolas públicas: Em vez de empreender um esforço para melhorar o quadro lastimável da educação brasileira, o governo se empenha em tornar obrigatórias disciplinas que, na prática, só vão servir de vetor para aumentar a pregação ideológica de esquerda, que já beira a calamidade nas escolas". (In: Revista Veja, ed. 2236, 28/09/2011, p. 93, grifos do autor deste post).
Particularmente, eu nunca me importei, não me importo e jamais me importarei com as opiniões expressas por esse excremento publicado pela Editora Abril ("Abril" o quê? "ABRIL" O CU! Porque só sai merda). Tampouco me importa o fato dessa opinião ser corroborada na íntegra por uma certa parcela da sociedade, porque convenhamos: essa é a opinião das camadas ricas e, uma vez que a política gira em torno delas, é por extensão a opinião dos políticos brasileiros. Enquanto sociólogo isso não me impressiona porque eu me preparei para isso durante o tempo de graduação, inclusive digo a vocês que muitos dos sociólogos e sociólogas que estudaram comigo partilham da mesma opinião da revista excremento. Em suma: foda-se a veja, os seus pseudo-jonalistas, pseudo-colunistas e pseudo-comentaristas. Eu já disse em um post anterior e repito: a veja expressa opiniões burras para uma classe burra que se veste de culta.
O que realmente me preocupa é o fato dessa revistinha de bosta ter estendido a calúnia à área da Filosofia. Bem, senhoras e senhores responsáveis pelo corpo editorial da veja, uma dita como essa apenas poderia vir de mentalidades tacanhas como as suas mesmo. Eu disse mentalidade? Por favor, me perdoem. Afinal eu não posso esperar que seres que possuem exoesqueleto tenham uma mente. Isso que vocês veicularam no papel higienico publicado por vocês demonstra uma incrível capacidade de fazer e dizer merda, em todos os sentidos. Estamos em 2011 e vocês juram que ainda culpam a esquerda pelos males da humanidade? DE QUAL ESQUERDA VOCÊS ESTÃO FALANDO? AONDE, NESTE PAÍS, TEM ESQUERDA? Não sei se os senhores sabem, mas a esquerda se desmanchou no ar junto com o muro de Berlim. Esquerda simplesmente não existe mais. E aqui quem está afirmando isso categoricamente é um sociólogo. Agora, de onde tiraram que a esquerda nas escolas já beira a calamidade, sinceramente, eu queria muito descobrir. Só pode ser do manual de instruções do Hyundai Elantra, não é verdade? Quanta falta de imaginação. Quanta falta de informação, o que é ainda pior.
Desculpem, acho que exigir capacidade de um corpo editorial de tão tacanha revista é exigir demais. Afinal, os seus leitores nem sabem o que isso significa porque, como vocês mesmos disseram, a educação é lastimável. Mas isso se estende ao corpo editorial da veja também, porque eu presumo que os seus componentes estudaram e se formaram nessa educação lastimável. A própria reportagem é prova disso.
Bom, resumindo o que tenho a dizer é isto:
EI VEJA, VAI TOMAR NO CU! E aqui quem está falando é o ser humano, o cidadão, o trabalhador, o estudante, o pai de família: o filósofo e sociólogo nas horas vagas.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ROCK IN RIO É A PUTA QUE O PARIU!!! BANDO DO FILHO DA PUTA DO CARALHO!

Dei uma olhada na programação do assim chamado "rock in rio". Sabem o que tenho a dizer? VÃO TOMAR NO MEIO DO SEUS CU, BANDO DE FILHOS DAS PUTAS!!! 

Essa porra tem tudo menos rock! Onde já se viu Claudia Leite e Ivete Sangalo no ROCK in rio, e faço questão de escrever ROCK em letras garrafais para que todo mundo saiba que ROCK é um estilo de música COMPLETAMENTE DIFERENTE de axé! PORRA VELHO!!! NÃO É "AXÉ IN RIO", CARALHO!!! É ROCK, R-O-C-K IN RIO CACETE!!!
Aí tem lá rihana... quem é rihana? O que é rihana? Tem Katy Perry, SHAKIRA [santo Deus milagroso!!! Shakira...] Eu já disse que é ROCK in rio e não pseudo-cantoras in rio!!! Porra gente! Rock é atitude, é ação, é força, é música!!!! Rock não é moda como essas cantoras e cantores de merda que só aparecem em programinhas de quinta categoria que só passam clips... só faltou chamarem a tal da lady gaga pro rock in rio.... VAI PRA PUTA QUE PARIU!!!!

CADE O IRON? CADE O PURPLE? CADE O OZZY? CADE O AEROSMITH? CADE O RUSH? CADE SCORPIONS? CADE A PORRA DO ROCK???? CADE AQUELES QUE FAZEM O ROCK SER ROCK?? Mas não... Me colocam Maná...SENHOR!!! REI DO CÉU E DA TERRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!! MANÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!!!!!!!!! Eu tenho vontade de vomitar... Aliás, deveriam mudar o nome do evento para "vomito in rio", ou quem sabe "excremento in rio"... aí senhores organizadores, que tal? Por que não mudam de uma vez para "filhos da puta" in rio????

MUDEM O NOME DESSA MERDA PRA "NADA IN RIO" QUE FICA MAIS BONITO!!!
MALDITOS FILHOS DA PUTA!!! TOMARA QUE EXPLODAM OS ALTO-FALANTES E ACABE TODA A ENERGIA DESSA MERDA E NUNCA MAIS ELES PENSEM EM FAZER UM EVENTO COM ESSE NOME QUE NÃO TEM ABSOLUTAMENTE NADA DE ROCK....

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

PSEUDO CRÍTICA DE CINEMA

Colocar a Isabela Boscov para criticar cinema é algo como colocar um padre para fazer uma homilia numa missa negra. Ela e cinema são duas coisas que não casam, não ornam, não se dão bem... se fossem modalidades esportivas não estariam nem na mesma categoria e se fossem times de futebol seriam arqui-rivais. Isabela Boscov criticando cinema é como o Pelé cantando: tem sempre alguém que grita "coloca um sapato na boca dele!". 

É claro que devemos levar em conta que ela elabora uma crítica tacanha para o público tacanho das elites que lêm o excremento chamado "veja" (sim, eu escrevi com letra minúscula... algum problema?). Então, não se pode esperar grandes coisas de uma classe burra que se veste de culta e muito menos de alguém que desenvolve suas críticas diretamente para esse público, não é verdade?

Só peço uma coisa: não leiam e nem assistam as baboseiras sem precedentes que Isabela Boscov escreve e apresenta. É pura perda de tempo. Vão ao cinema, assistam ao filme e tirem suas próprias conclusões, formem suas próprias opiniões e discutam-nas em uma mesa de bar, com bastante petiscos e cerveja. A sua crítica, na verdade, é a que realmente importa. O resto é pura bosta!

sábado, 27 de agosto de 2011

O IMPÉRIO DO CAOS

A mídia em geral, os livros e a maioria dos pesquisadores, inclusive, vivem a dizer e reafirmar: "vivemos em um mundo globalizado... precisamos estar atentos, informados... precisamos abrir nossas mentes ao novo e abandonar o obsoleto". Se isso quer dizer alguma coisa eu não sei... tudo o que sei é que a atualialidade é mais incerta do que nunca: tudo e nada se confundem e ninguém, absolutamente ninguém pode dizer que "é" e nem que "está". Em outras palavras, o momento histórico em que estamos hoje é um "não-lugar".

Eu concordo que o obsoleto, por razões óbvias, deve ser deixado para trás; eu partilho da opinião dos nossos queridos cientistas e pesquisadores de que é necessário cosmopolizar nossa visão; e penso ser válido afirmar a diferença como uma caracterísitca que todos os seres humanos têm em comum... mas [como diz o meu irmão: "e sempre tem que ter um maldito mas"], é preciso ter cuidado. Mesmo nesta "atualidade líquida", utilizando aqui uma terminologia baumaniana, as relações, por mais diáfanas que sejam, precisam de seu tempo de maturação; precisam de tempo para aceitação; precisam, em última instância, se desenvolver, ainda que essa fase de desenvolvimento pareça simplesmente não existir, dada a dinâmica volátil do nosso mundo.

O sexo é um grande exemplo disso. Ainda hoje, por incrível que pareça para o início da segunda década do século XXI, qualquer tipo de relação que fuja demais ao hétero, ao monogâmico, ao cristão, ao patriarcal, ao nuclear, é motivo de desconfiança e, se me permitem dizer, até mesmo de discriminação. Bem, se voltarmos algo em torno de três ou quatro mil anos atrás, na Grécia por exemplo, o hétero era o marginal em uma religião POLIteísta. Paradoxo interessante. A partir do momento que entrou em cena uma certa religião MONOteísta, entrou em voga o tipo de relacionamento HETEROssexual: POLI-HOMO; MONO-HÉTERO.

Nos dias hoje, entretanto, nem um nem outro podem ser comportados. Em primeiro lugar, porque a religião, e digo qualquer tipo de religião, perdeu o seu poder sobre o ser humano, senão completamente, quase isso... não acreditamos mais em nada essa é a verdade; em segundo lugar, porque o hétero está se transformando numa mesmice, as pessoas não querem mais se contentar com o que se convencionou chamar de "normal" e preferem procurar maneiras de antinomia, quando não anomia mesmo; e em terceiro lugar porque não há uma especificação precisa, hoje, que seja capaz de englobar a sexualidade humana. O que mais se aproxima de uma definição nesse sentido é o pansexualismo, que por irônico que pareça, é também uma definição insuficiente.

A relação paradoxal que propus toma uma dimensão ainda mais interessante: POLI-HOMO; MONO-HÉTERO; NADA-PAN [ou seja NADA-TUDO]. As interpretações dessa proposição eu deixo com vocês porque cada um tem a sua. Eu só quero dar a minha opinião: cuidado! Para aqueles que não sabem, TUDO e NADA são elementos essenciais do caos, aquela massa informe, difusa, concentrada e ao mesmo tempo diluída,  em que não é possível a compreensão nem o esclarecimento. Sim amigos, esta é minha opinião: caminhamos para o caos, o que é natural em momentos de transição... o problema é o estacionamento nesse período de transição, neste momento de caos.

Buscar sempre mais é próprio do ser humano. "Navegar é preciso" dizia Fernando Pessoa: viajar para outros mundos; para outras sensações; escalar outras montanhas que não as costumeiras. Sim, é verdade! É preciso! É necessário! Contudo, e agora eu assumirei a minha costumeira posição de chato, a história nos mostra que temos o péssimo costume de buscar o além antes de entendermos o aqui, o agora. Então, aqui fica a perguntinha filha da puta que eu sempre gosto de deixar: estamos preparados para enfrentar o além, e digo toda a forma de além imaginável, se vemos a cada dia que o aqui é demais para nós?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

UM ROEDOR EM MINHA CASA

Neste exato momento em que começo a escrever este post, é domingo, dia 07 de agosto de 2011, precisamente 23h31 (horário de Brasília). Há cerca de 10 min. recebi uma ilustre visita em minha humilde casa: um mamífero roedor popularmente conhecido como rato. Diga-se de passagem, um dos ratinhos mais bonitinhos que eu já vi na minha vida. 

Estava eu perambulando pela internet quando vi um pontinho preto passar da cozinha para a sala quase na velocidade da luz! Pensei fosse uma barata ou uma aranha, mas era um ratinho cinza, correndo desesperado para fugir. Eu senti medo. Mas, no mesmo instante, eu comecei a me perguntar: medo do quê? Ele não é peçonhento, não bica, não pica, não é venenoso. O bichinho estava com medo... por quê? Porque queria viver. Minha esposa queria matá-lo, mas eu a convenci a ficar em cima do sofá enquanto tentava pegá-lo. A última atitude desesperada do pequeno mamífero foi se esconder atrás do fogão que fica num beco na cozinha, entre a pia e parede do fundo. Tudo o que precisei fazer foi colocar um saco plástico grande o bastante para me dar tempo de prendê-lo em uma das saídas. Dito e feito. Eu o espantei e ele entrou no saco. Ele quase fugiu! É muito ágil, muito esperto, atento a tudo! Mas deu tempo de fechar a boca do saco e eu o soltei no matinho que fica a um quarteirão daqui de casa.

Esta foi a terceira vez que um desses bichinhos injustamente tachados de "nojentos" visitou a nossa humilde casa. Nas duas anteriores recebemos as ilustres presenças de dois anfíbios: uma rã e, mais recentemente, um sapo. Nas duas eu fiz questão de capturá-los e soltá-los no matinho. Eles me ensinaram uma lição interessante: quando sentiram medo ao me ver, eles não fizeram nada a não ser tentar correr para algum lugar para tentarem sobreviver. Eu, ao contrário, nas três vezes pensei em matá-los, embora tenha conseguido pensar em alguma coisa para evitar essa atitude.

Eu olhei nos olhos do ratinho dentro do saco e consegui ler claramente o pedido naqueles dois pequenos potinhos pretos: "por favor, não me mate!". Ele respirava tão forte que até embaçou um pouquinho o saco. Quando abri, ele abraçou a liberdade como se reencontrasse um amor que não via há muito tempo; saiu correndo o mais rápido que pode matinho adentro, provavelmente muito feliz em poder correr novamente, em poder respirar uma vez mais o ar puro que somente a liberdade pode oferecer
Vejam vocês: um ratinho, tido como um animal insignificante, terror das mulheres, historicamente apontado como responsável pela peste na Europa... um pequeno rato cinza, cientificamente apontado como um ser "irracional" e desprovido de alma, soube aproveitar a liberdade como o mais precioso dos dons. E agora eu penso: será que eu sei aproveitar a minha liberdade da mesma maneira que um ratinho sabe? Será que algum dia eu dei um abraço tão carinhoso na minha liberdade como aquele rato cinza deu?

Me acha louco? Foda-se! Não pedi sua opinião e nem preciso dela. Mas será que você sabe aproveitar a sua liberdade como um rato?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

DENÚNCIA!!!!!!!!!!!!

Acho que todo mundo, ou grande parte da população ao menos, utiliza pagamento com cartão de débito e crédito. Então, eu vos digo: "aquele ou aquela, dentre vós, que nunca passou pela humilhação de comprar algo e descobrir, já no caixa na hora de pagar, que especificamente para aquilo que você comprou a loja não oferece pagamento com cartão, atire a primeira pedra".

Isto aconteceu comigo hoje, OUTRA VEZ PORRA!!! EU TO DE SACO CHEIO DESSAS MERDAS DE LOJINHAS QUE COLOCAM A PORCARIA DA MAQUININHA DE CARTÃO E FICAM ESTIPULANDO UM DETERMINADO VALOR DE COMPRA PARA EFETUAR O PAGAMENTO OU QUE NÃO OFERECEM A MODALIDADE DE PAGAMENTO COM CARTÃO PARA TODOS OS PRODUTOS E SERVIÇOS OFERECIDOS!!!!
Fui numa merda de uma loja da VIVO para comprar um chip. Vejam que interessante: você compra o chip (R$ 10,00), mas já tem que fazer, no ato da compra, uma recarga de R$ 18,00, sendo que o valor mínimo da recarga VIVO é R$ 12,00. Bom, até aí eu deixei passar porque faz sentido você comprar um chip e recarregar, ainda que essa exigência fira de morte o Código de Defesa do Consumidor. A experiência me ensinou que para tudo na vida é necessário tirar suas dúvidas ANTES, e lá fui eu fazer a minha velha pergunta: "vocês aceitam cartão?". E a atendente responde: "o pagamento da recarga tem que ser em dinheiro"... E eu torno: "por quê? Qual a diferença? Cartão de débito é pagamento a vista"... E ela responde: "...".

Ou seja, para comprar o chip pode ser com cartão, mas para a recarga tem que ser moeda em espécie... COMO ASSIM CARALHO????? 

Bom, como cavalheiro que sou eu pedi licença e me retirei da loja. A moça ainda quis me consolar... até descobrir eu estava inconsolável. E foi, então, que teve início o massacre dos serviços da VIVO e a lenda da técnica das Cinco-redes-sociais-que-acabam-com-a-reputação-de-qualquer-ser-humano: blog, orkut, twitter, facebook e e-mail. Pois será nessas redes que postarei a reclamação que fiz no site da VIVO, uma pequena salva-guarda para o caso deles não responderem minha reclamação.

Peço que leiam e, caso concordem, repassem. Eu gostaria de deixar claro que essa é a minha opinião sobre a VIVO, o que não siginifica que seja a única e nem que seja a melhor. Apenas quero compartilhar minha experiência para que cada um que ler esta mensagem possa ter um subsídio a mais na hora de escolher uma operadora de celular.

"Tentei comprar um Vivo ship numa das lojas da franquia, aqui na cidade de "xxxx", interior de "XX". Ao tentar passar o cartão de débito para pagamento, qual foi minha surpresa quando a atendente me disse que o pagamento da primeira recarga do ship no ato da compra deveria ser feito em dinheiro espécie. Bom, como ela não soube me explicar, eu gostaria de entender qual é a diferença, já que o ship eu poderia pagar com o cartão de débito? Afinal de contas, as lojas da Vivo aceitam ou não aceitam cartão de débito para pagamento? Digo isso porque, de acordo com a legislação vigente, o estabelecimento que ofereça a modalidade de pagamento com cartão deve fazê-lo para TODOS os produtos e serviços oferecidos e não somente para um determinado grupo de produtos e serviços. Não obstante, o pagamento efetuado com cartão de débito é considerado PARA TODOS OS FINS LEGAIS, um pagamento a vista!!! Então, qual é a desculpa? Eu sou cliente Vivo há algum tempo e tentei comprar o ship para presentear a minha esposa. Interessante que desde que me tornei cliente Vivo só tenho tido decepções em termos de atendimento: atendentes dos serviços discados incompetentes e mal-educados; demora no atendimento etc. Até o atendimento da porcaria da Claro é melhor que o da Vivo (e olha que a Claro é péssima!). Interessante que quando é para oferecer promoções e serviços, vocês são tão doces e amáveis. Porém, quando é para responder por esses mesmos produtos, tudo muda. Diante disso, eu não posso permitir que a minha esposa faça parte de uma rede que não preza pela satisfação e comodidade do cliente. Não vou comprar o Vivo ship para ela e em breve vou mudar de operadora. Talvez esta seja a única maneira de protestar, visto que, muito provavelmente, vocês nem irão responder a esta reclamação. Por via das dúvidas, ela será, também, postada nos meus canais de comunicação de redes sociais, para que todos os meus contatos e os contatos deles possam ver que tipo de política de atendimento é relegada aos clientes da operadora Vivo".

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Satisfações

Olá caros familiares, amigos e, por que não, inimigos!

Ultimamente tenho tido pouco tempo para elaborar minhas postagens aqui no Perversão! porque os estudos da minha monografia de conclusão de curso tem tomado grande parte das minhas atividades diárias. Então, por ora, eu receio não poder postar com a mesma frequencia em que o fazia.
Mas, como "eu vim para espalhar a dúvida" nos seus corações e aguçar sua curiosidade, vou adiantar os assuntos para os quais estou preparando postagens, as quais, provavelmente, apenas estarão aqui no blog a partir da metade de agosto.
Um deles é o nazismo. Há uma necessidade muito grande que eu faça uma postagem cuidadosa e detalhada aqui, especialmente porque tem chegado até mim rumores de um esforço neo-nazista que gira em torno de lançar o Holocausto ao esquecimento. Isso eu não posso permitir.

Outro assunto interessante, e que faz parte da minha monografia, é a tênue distinção que descobri entre o herói e o anti-herói. Haverá um post especial sobre eles.

E um terceiro assunto que, permitam-me dizer, consiste em uma das minhas paixões é o RPG, o famoso role-playing game. Pretendo fazer um estudo sobre as figuras mais interessantes desse jogo tão fantástico e erroneamente atrelado a práticas satânicas.

Bem, então é isso. Em breve conversaremos novamente. Por enquanto, preciso cumprir minha jornada e sabemos que a última etapada de uma jornada, seja ela qual for, é sempre a mais difícil. Mas eu prometo que quando terminar, compartilharei com vocês os conhecimentos que adquiri no caminho do guerreiro que percorri ao longo dos meus seis anos de graduação.

Beijo e abraços e não deixem de visitar o Perversão! regularmente, do contrário, sofrerão as consequencias!

 

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O PODER DA FÉ

O que é a Fé? Para o que ela serve? De onde ela vem? Para onde ela nos leva? Divagações, dúvidas, incognitas. São palavras como essas que passam pela minha cabela quando penso em Fé. Eu não a vejo; eu não conheço seu sabor; eu não consigo tocá-la; nunca senti seu cheiro; jamais a ouvi. Eu simplesmente sinto que ela existe, mas isso me confunde porque embora eu saiba da sua existência, meus cinco sentidos simplesmente a desconhecem. E como fugir dos cinco sentidos, sendo que são eles que nos ligam ao mundo onde vivemos? Por isso, para mim, a Fé é uma característica do espírito. Penso que ter Fé não é simplesmente acreditar em algo. Deve haver algo mais; deve haver alguma... coisa, alguma força que está contida no acreditar que produz mudança. Esta sim, tangível aos cinco sentidos.

"Em verdade, em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: passa daqui para acolá e ele passará. Nada vos será impossível". [Mt, 17, 20]

Certamente, muitos aqui argumentarão que a fé é intangível e por isso improvável; a fé não existe porque  "Deus está morto"; que "vodú é pra jacu" e que se a ciência não a comprova, ela não existe. Para esses, eu faço apenas uma pergunta: quantas coisas a ciência não prova que existem e, no entanto, sabemos existir de fato? Ou quantas delas são comprovadas cientificamente, mas a própria ciência reluta em acreditar naquilo mesmo que ela comprova? Um exemplo é a Teoria das Supercordas: matematicamente comprovada, mas a "comunidade científica" reluta em aceitá-la. Bem, aqueles que acompanham o meu blog (muito obrigado!) já sabem o que eu penso sobre a tal da "comunidade científica", que, aliás, nem sei por que ela é chamada de comunidade. Uma comunidade pressupõe, antes de tudo, a partilha de uma mesma gama de idéias, de um mesmo pendor para o mesmos caminhos; o seu princípio e fim é o consenso. A ciência nunca fez isso, portanto, não é uma comunidade. E, por favor, os que discordarem sintam-se desde já desafiados a me convencer do contrário, se é que são capazes há!(OPAAAAA!!! PROVOCAÇÃO!!).

Sempre a ciência. "A ciência isso, a ciência aquilo, a ciência aquilo outro, a ciência BLA BLA BLA". Eu não partilho dessa hipocrisia generalizada que põe toda a confiança na ciência. O ser humano parece não aprender com seus erros: a mesma confiança foi depositada na Grécia; no Império Romano; na Dinastia Merovíngia; no Sacro Império Romano-Germânico; depois na Igreja; depois no Renascimento; depois no Racionalismo; depois no Empirismo; depois no Iluminismo; depois nos EUA;  nos Positivistas; nos Marxistas; nos Freudianos; nos Frankfurtianos; no Bruce Lee; na Madonna; na Lady Gaga; NA PUTA QUE PARIU A QUATRO!! Mas nunca, nunca, jamais, em hipótese alguma, sequer o ser humano pensou na possibilidade de cogitar depositar essa confiança em si mesmo. Sempre dirigimos nossa confiança a outrem, sempre colocamos nossa Fé em terceiros... ah, e quando as coisas acontecem diferentes do que pensávamos, culpamos essas mesmas pessoas em quem acreditamos, como se elas fossem muito diferentes de nós mesmos, a ponto de produzir mudanças como em um pace de mágica ou uma palavra Cabalística: PARANGARICOTIRIMIRUARO!!! E pronto!!! Feito!! Olha que beleza!! Tudo se transforma e o conto de fadas acaba com seu típico final feliz. Quanta mentira!

"You underestimate the power of the Dark Side. If you will not fight, then you will meet your destiny". [Fala de Darth Vader a Look, em O Retorno de Jedi, 1983]

De fato, a palavra Cabalística realmente funciona. Mas para isso, é necessário, antes de tudo, ter Fé. E não  Fé na palavra, nem no ato, nem na magia, nem na religião e nem que um dia o Tom conseguirá fuder a vida do Jerry. A Fé precisa ser, antes de tudo, em si mesmo, é preciso querer fazer para que realmente aconteça. Este é o princípio mais elementar da Magia,  mãe da Religião e avó da Ciência: o querer. Nada funciona sem o querer! Se existe alguma lógica na Fé, esta é o querer. Este, o querer, deve ser um vontade espontânea, uma vontade livre de qualquer tendência ou amarra; simplesmente, querer. Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, outrossim, com efeito, o querer age por intermédio de processos e, em geral, estabelece-se uma relação de reciprocidade: ninguém pode querer mais do que pode oferecer. E o que nós, reles e dantescos seres humanos, podemos oferecer? Nada além de nosso sacrifício. Vejo que é algo próximo a isso o mecanismo da Fé: quero algo; acredito nesse algo; me sacrifico por esse algo. Então eu vejo a mudança ocorrer e isso a torna próxima ao meu aprelho sensorial e passo a acreditar na sua existência factual.

É preciso querer usá-la, Potter! É preciso realmente querer causar dor [Fala de Belatrix Lestrange a Harry Potter, em Harry Poter e a Ordem da Fênix, 2003]

Ainda assim, há muitos que não acreditam em Fé. A estes eu digo para tentarem dissociar Fé de religião. São coisas completamente diferentes: a Fé é um princípio; a religião é (ou deveria ser) um meio. AH, MAS VOCÊ ESQUECEU DO FIM!! Não há fim. O fim, o único fim a que todos estamos fadados, não é outro senão a morte. A Fé como princípio e a religião como meio são ferramentas, por assim dizer, para que se  tenha uma boa morte, pois este é o mistério que mais nos assombra. Se algum dia vier a ser revelado, certamente nenhum de nós poderá existir neste mundo, porque tudo perderia o sentido. Não que as coisas já não estejam, há muito, desprovidas de sentido, mas existe, eu suponho, algum sentido alheio a nossa vontade que permanece ao nosso redor. Talvez seja isso que torne possível a existência da Fé.

terça-feira, 28 de junho de 2011

PARADA DO ORGULHO LGBT

Neste último fim de semana, aconteceu em São Paulo a parada do orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais), a maior do mundo, popular e vulgarmente conhecida como "parada gay". Como sempre, muito bonita, muito colorida, lotada de pessoas, um evento ímpar de socialização em um momento no qual os laços de solidariedade estão praticamente desfeitos. Acho extremamente válida essa mobilização e, mais do que isso, significante, pois demonstra o adiantado da hora para a nossa Cultura não apenas aceitar, mas "culturalizar" a existência de pessoas que optam, de livre e espontanea vontade, por uma sexualidade que distoa do hétero (que nada mais é do que a personificação de uma contradição).

MAS...

Eu gostaria de chamar a atenção para o seguinte: o movimento social encabeçado pelos homossexuais que culminou na parada do orgulho LGBT perdeu seu lastro social. Ao mesmo tempo que o movimento atingiu proporções exponenciais (só a parada LGBT contou com 4 milhões de pessoas, segundo estimativas oficiais da prefeitura de São Paulo), perdeu, por outro lado, sua organicidade e seriedade, características estas, a meu ver, essenciais para a coesão de qualquer movimento social.

O que vem ocorrendo nos últimos anos, em relação a parada do orgulho LGBT, não é um evento que tem a finalidade de chamar a atenção da sociedade para a questão da aceitação de opções sexuais distintas, mas um momento comum de festejos e bebedeira, como o é o carnaval, por exemplo. Na verdade, a parada do orgulho LGBT já foi cooptada pelo sistema e se tornou um trampolim político, um momento utilizado para a propagação, na surdina (por incrível que pareça), dos mesmos ideais tradicionais que permeiam os meandros da nossa sociedade e contra os quais o movimento deveria lutar.

Não quero ser injusto. Eu sei que muitas pessoas estavam lá com a finalidade de dar continuidade na luta contra o preconceito, esse câncer que infecta todo o sistema. Mas, me desculpem e com todo respeito, a Avenida Paulista não é lugar de fazer uma pseudo-manifestação em forma de festinha. O lugar onde o movimento LGBT deve buscar sua autonomia e o expurgo do preconceito é o Congresso Nacional, com representações políticas que abracem de verdade a causa e a façam entrar goela abaixo de um Bonsonaro da vida por maioria política e não por compaixão (em termos democráticos, maioria política significa LEI; e LEI significa o seguinte para a sociedade: ou você aceita ou você aceita).

Então, gente, por favor: parem de ficar brincando de movimento social e se organizem da maneira como deve ser, ou seja, com representações políticas organizadas. Por mais que não queiramos aceitar, a política faz parte de nossa vida; se nos abstemos de assumir uma postura ou de colocar nossa opinião, ou se preferimos aproveitar a festa como está ao invés de melhorá-la, não tenham dúvida de que alguém fará isso por nós. A chave de qualquer mudança, e a história está aí par provar isso, consiste em, basicamente, dois caminhos que devem, necessariamente, ser trilhados ao mesmo tempo: 1) educação; 2) participação política. Os benefícios ou os malefícios dessa mudança são desdobramentos da maneira como esses dois sustentáculos do change são construídos.

VIVA LA REVOLUCIÓN! ARRIVA EL ORGULLO LGBT!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Desabafo

Hoje, quero falar um pouco de algo particular que me chama a atenção no dia-a-dia: o paradoxo entre teoria e prática. Não vou ser breve no que vou escrever porque aqui, neste blog, todos tem a liberdade de ler ou não. Eu escrevo pra caralho mesmo e quem não gosta do meu estilo que busque outras formas de leitura que não lhe firam a visão nem a alma. Não sou eclético e nem tenho política de cotas, portanto, não preciso agradar nem desagradar a ninguém. O que escrevo é para aqueles que tem a coragem de fazer o antigo exercício de "parar - ler  - refletir", em um país onde o hábito da leitura é motivo de piada em programas de televisão.

Outro dia vieram reclamar comigo de que eu não cito autores nos meus escritos, que "a veracidade das minhas concepções é duvidosa". Sabe o que eu respondi a essa pessoa? VAI TOMAR NO SEU CU E NÃO TORRE A MINHA PACIÊNCIA! Mas isso me chamou a atenção. Tem uma coisa muito interessante na afirmação que fizeram: a questão do crédito. Ou seja, só tem crédito quem cita autores, obras e afins, como se uma obra se fizesse exclusivamente por quem a escreveu, como se o fato de um autor ser doutor honoris causa ou ter feito doutorado na europa seja, por si, o suficiente para conferir veracidade a uma obra.
A hipocrisia que reina entre teoria e prática é tamanha, que é algo universalmente aceito. Depois de seis anos de graduação, tendo contato com toda essa corja que se convencionou chamar de "cientistas", eu percebo que teoria e prática são criações para manutenção de poder. Nesse meu trajeto, eu passei milhares de horas estudando como reconhecer e estudar relações de dominação. Eu sou uma espécie de "projetista" das Ciências Sociais: sei reconhecer relações sociais, sei desmontá-las e estudar as partes separadamente; se houver inconsistências, sei montar de uma forma que sejam corrigidas; sei, enfim, o que, como e porque fazer para mudar alguma coisa nesta merda de mundo... para, no final de tudo, eu ter que sair da universidade e fazer exatamente da maneira que eu sei que não deve ser feito.

Sabem por quê? Porque tudo o que eu aprendi dentro da sala de aula da universidade foi por intermédio desses "cientistas" que não se acham, em hipótese alguma, obrigados a viver de acordo com as convicções que apresentam em sala de aula. Certa vez, me disse um professor que a sua função dentro da sala de aula de uma universidade é "defender o autor até o fim". Estávamos falando de Maquiavel naquela aula. Um autor mal amado, amargurado, despedido da função farta e voluptosa do serviço público; um homem que disse que no universo da política vale tudo: mentir, dissimular, roubar, matar para que "o príncipe mantenha-se no poder". E um professor de universidade, que teve a mesma formação que eu tive, portanto, que aprendeu as mesmas coisas que eu aprendi e muito mais durante seus mestrado e doutorado, vira pra mim e diz que tem que defender um autor como Maquiavel, que fala abertamente o que acontece no universo da política, que mostrou no século XVI o que os políticos de todos os tempos passam o dia a fazer dentro de seus gabinetes. Um autor que, mais do que expor as entranhas da política, concorda e reafirma que deve ser feita assim mesmo. Aí, o mais legal: minha prima, doutorada há pouco tempo, me solta o seguinte: " a discussão sobre a neutralidade axiológica está encerrada no meio acadêmico..." E eu, na minha humildade de graduando, viro pra ela e repasso: "em qual planeta? Porque aqui, na Terra, o distanciamento do objeto é cobrado dos cientistas nas suas dissertações e descobertas e, muitas vezes, define o aceite da comunidade científica".

No primeiro ano de universidade, eu discordei de Foucault. Imagine uma cena em que toda a sala olha pra você, como se você tivesse peidado e todos soubessem que foi você. Foi o que aconteceu comigo. Eu ergui a minha mão e disse: professor, eu discordo de Foucault nessa passagem. Ele me olhou com uma cara que dizia a mim claramente: quem é você para discordar de Foucault? Eu não sou ninguém. Mas e Foucault é o quê? Um pensador? Um pensador que fala, fala, fala e não diz nada? Que porra de definição de pensador é essa? De que adianta pensar se não se age como se pensa? Pra que serve o conhecimento se ele não é posto em prática? PRA NADA!

Veja o estrago que interpretações arbitrárias da obra de Descartes provocaram na história do Ocidente! Procuramos respostas para tudo na ciência... Eu detesto estragar os devaneios das pessoas, mas para quem não sabe, a ciência é filha legítima da religião, que por sua vez, é filha legítima da magia. Estudiosos dos séculos XVIII e XIX tentaram, de todas as maneiras, repudiar essa verdade, estabelecendo a noção de desenvolvimento e primitividade. Desenvolvimento? QUE desenvolvimento? Estamos em pleno século XXI e ainda nos matamos por causa de um liquido preto e viscoso que sai de dentro da terra; nos matamos por muito menos do que isso: por causa de poeira ou de um monte de plantas... a ciência cartesiana diz que tudo isso é legítimo; eu digo que tudo isso é uma grande e estúpida hipocrisia. Quer ver quem realmente são os seres humanos? Dê folga a todos os lixeiros por um mês; ou prenda os bombeiros por atentado ao patrimônio público, como fez o Rio de Janeiro. Então veremos o quanto de inteligência está realmente contida na ciência e para o que realmente ela serve.

Muitos dizem que "a ciência cartesiana foi derrubada". É mesmo? Bem, então porque Descartes ainda é ensinado nas escolas? Por que as crianças aprendem desde cedo a usar apenas duas das três dimensões que nossos olhos conseguem alcançar? Aliás... você que está lendo este post, por favor me responda: você aprendeu na escola quais são as três dimensões de que os professores de matemática e física tanto nos falam durante os longos anos de estudo? Se não, eu tenho certeza de uma coisa: você, certamente, aprendeu logarítimo, fazer equação do 1° ao 1000° graus, raíz quadrada, trigonometria, balanceamento de enquações químicas; vetores... e vocês professores de humanas e  biológicas não pensem que eu me esqueci de vocês: análise sintática; história da américa; geologia; leis de mendel; angiospermas - giminospermas; BLA BLA BLA...

Aprendi tudo isso e sabe qual foi a primeira pergunta que o entrevistador me fez no meu primeiro emprego? "Você tem idéia do que você vai fazer aqui?"... detalhe: fui entrevistado para uma vaga de menor aprendiz... APRENDIZ, ou seja, alguém que vai APRENDER, e sim, tive de fazer uma entrevista mesmo assim, para o imbecil me perguntar "você tem idéia do que vai fazer aqui".

Na escola, parecia um lindo sonho no País das Maravilhas o mercado de trabalho. Nunca ninguém me disse que eu iria me tornar rico e poderoso, desde que estivesse disposto a abdicar de tudo que acredito, fazer conchavos, destruir vidas de pessoas inocentes, roubar e, até mesmo, em alguns casos, matar. Nunca me disseram que meu chefe iria me promover desde que eu fizesse tudo o que ele mandasse sem questionar, ouvisse ele me humilhar calado, deixasse de viver com minha família para viver em prol da empresa e, além de tudo, que eu "vestisse a camisa da empresa"... QUE PORRA SIGNIFICA ISSO? Ninguém me disse na escola, que mesmo que eu me tornasse o maior cientista de todos os tempos minhas descobertas só teriam crédito se eu aceitasse que um bando de "marmanjo" mal amados e que não comem ninguém criticassem minha obra e me dissessem que não sou nada comparado a eles.

E depois disso tudo, vivem tentando me convencer de que  eu tenho que me acostumar porque a vida é assim mesmo. Mas quando eu tive que estudar a noite e trabalhar de madrugada se eu quisesse parar de  me foder na linha de produção de uma fábrica, nenhum desses que diziam que eu deveria aceitar estavam comigo. Onde estavam os professores, os amigos, e até os familiares que diziam: "faça tudo direitinho que você será recompensado"?! Acho que se lembraram de que tinham se esquecido da parte do "desde que..." e se esconderam enquanto eu comia o pão em que o diabo tinha gozado dentro. Não sei porque, eu vivia ouvindo risos que não sabia de onde vinham...

Essa história de bons modos, de fazer direito, de obedecer, de ter sonhos, de ser normal (seja lá que porra seja isso), de aprender a conviver, de "faça tudo o que te disserem", de ser creditado por alguma coisa, pra mim não passa de uma piada de mal gosto. O interessante, é que essa mesma piada é contada pra todo mundo e ninguém ri, mas vivem passando para as gerações que chegam. Faça o que digo e não o que faço..."eu matei minha mãe, mas você deve respeitar a sua"; "eu estuprei a irmã do vizinho, mas se você chegar perto da minha..."; "eu humilho as pessoas, mas não se atreva a me humilhar"... Afinal de contas, o que significa tudo isso? Significa que eu não sei porque as coisas são assim, mas de uma coisa eu sei: vai ter volta.

domingo, 5 de junho de 2011

A CONTROVÉRSIA TARANTINESCA

Como diria V “my turn...”.

Desculpem a demora em postar esta réplica ao post do Cido. Nossa controvérsia é sensacional e espero que apreciem nossa discussão, sugerindo que visitem o blog dele O Caminho Recusado.

1) Bem, como eu e o Cido já expusemos mais do que o suficiente a respeito da obra do cineasta em questão, vou me deter sobre o ponto exato em que nosso pensamento parece se chocar: violência e perversidade. Devo acrescentar que jamais vi um ser humano na face desta Terra, nesses meus vinte e poucos anos de vida, que definisse o que é a vingança de uma maneira tão lírica como o Cido. Claro que uma definição dessas só poderia vir de um escorpiano (sim, eles entendem de vingança mais do que os deuses criadores da vingança kkkkkkkkk!).

b) Levado, talvez, por um ato falho ou quem sabe uma paixão descontrolada por tornar palavra escrita o seu pensamento sobre a obra desse cineasta extraordinário (claro, inspirado por mim), Cido viciou sua mente no nome do meu blog (Perversão!) e o confundiu com o termo que realmente mencionei na minha análise anterior: a perversidade. Eu não analiso a perversão porque isso é trabalho da psicanálise. O que analiso é a perversidade humana, neste caso definida como um desvio psíquico causado em maior ou menor grau pelo sentimento de incompatibilidade com os ditames sociais (FOUCAULT: História da Sexualidade). A perspectiva sócio-histórica que adotei demonstra que a perversão é um fator e a perversidade uma ação ou um conjunto delas que converge para um desvio de ordem sexual, traduzido em sadismos, masoquismos, exibicionismo, voyeurismo etc. Na análise que faço, portanto, não me interessa o que levou determinada personagem a fazer o que fez (perversão), mas sim o que ela fez (perversidade). De fato, Tarantino não mergulha em análises muito aprofundadas sobre o universo interior de suas personagens no desenrolar das suas tramas. Ele deixa esse conhecimento em suspenso, expondo sim o ambiente em que ocorrem as conseqüências desse conflito causado pelo choque entre o universo interior e obscuro das personagens com o exterior previamente estipulado por alguma força inominável. Esta não determina as personagens em si, mas suas ações, que é o que me importa.

III) Discordando, ainda, do Cido, a violência, na obra tarantinesca, é um mecanismo que consiste na forma mais elementar de quebrar valores tradicionais. A minha leitura sobre a violência na obra do cineasta é que é uma ferramenta eficiente quando utilizada da maneira que melhor se aplica a uma dada situação. Como saber que maneira é essa? Não há como saber. Os personagens dele simplesmente sabem. A violência faz parte de suas vidas constituindo, enfim, seu cotidiano.


Capítulo V: o problema da vingança – parte I

Entendo que a vingança é análoga à reação química que produz o fogo: é necessária a conjugação de uma série de fatores e elementos para que ela ocorra; na falta de qualquer um deles, a reação não funciona. Uma vez desencadeada, torna-se uma reação em cadeia: necessita ser alimentada para continuar a existir e sua fome é insaciável, se expandindo de maneira a ficar cada vez maior até que se perca o controle, pois depende fortemente do acaso para se concretizar de forma eficiente. Se há controle, portanto, não há vingança, mas duas opções: justiça ou perversidade. Ambas se valem da violência como instrumento de ação. Em toda a obra tarantinesca conhecida, me parece que o filme que mais se aproxima de uma leitura sobre a vingança é Kill Bill e é sobre ele que vou me deter para analisar o problema da vingança.

Lembremo-nos das cenas em que Kiddo marca os nomes no caderninho; depois vai até Hanso; depois vai ao encontro de cada um... tudo isso dá certo demais... ela tem um controle extremo sobre o que vai fazer; ela tem calma para fazer. E mais: ela tem controle de como fazer; ela CALCULA friamente todos os seus movimentos... mais adiante, entenderemos porque isso tem mais de perversidade do que de vingança.

O ato de Kiddo se pretende vingativo e segue, até certo ponto, os moldes de vingança já debatidos pela Filosofia, especialmente na corrente da Ética. Entretanto, esta enfatiza que a vingança tem por objetivo ser uma reação ao ato desencadeador igualmente poderosa e causar como resposta um dano que reduza o ente causador a uma condição que impeça uma contra-vingança, o que não necessariamente implica a sua morte. E este é o problema da vingança em Kill Bill: Bellatrix Kiddo sobreviveu ao Massacre de El Paso, mas matou TODOS aqueles que a humilharam. O próprio Bill evitou que ela fosse morta por Elle no hospital, pois ele já havia se vingado pelo que considerou uma traição e sua cólera fora aplacada. Ele queria matá-la, é verdade... mas como falhou uma vez (e aqui temos a ação do acaso), percebeu que não seria necessária uma segunda tentativa. Ela acabaria chegando até ele de qualquer maneira. E por que ele tinha essa certeza? Porque conhecia sua amada-amante pupila.

A análise que Bill fez de Kiddo no final da saga, se aplica a todos os integrantes das Víboras, inclusive ao próprio Bill, e ele, melhor do que ninguém, sabia disso. Por isso era quem era e estava no lugar em que estava. Uma análise daquelas só pode ser feita por alguém que conhece em pormenor aquilo que sabe fazer de melhor e, mais do que isso, sabe reconhecer suas próprias características nos demais.

Um elemento fundamental para a vingança: a regra de ouro do ego. Como a vingança é um ato que ocorre sempre no perímetro abarcado pelo ego e é sempre despertada pela interiorização de algum acontecimento, entendo que seja desencadeada por processos, antes de tudo, a ele exteriores. Sendo o corpo a primeira instância do ego é ele que sofre o primeiro impacto. Por outro lado, o corpo é a última instância da perversão, pois os impulsos perversos vêem do id, portanto, do interior para o exterior. Mas é através do corpo que ela se materializa em perversidade. Disso decorre que toda figura de vingador se encontra em grande conflito consigo mesma, o que a conduz, no mais das vezes, à perda do sentido da sua missão ou busca, como foi o caso de Kiddo: passou tanto tempo se deliciando em acabar com os outros que quando chegou finalmente em Bill ele já estava mais do que preparado para ela; Kiddo parecia uma criancinha mimada diante do pai que a repreende. Ela só venceu porque ele se deixou vencer. Isso não foi vingança... primeiro foi treinamento e depois se tornou um fiasco (mas foi lindo de ver rs!)!

Capítulo VI: perversidade

A perversidade, ao contrário da vingança, não parte de pressuposto algum. Ela não necessita de uma combinação de elementos e nem leva a uma reação em cadeia. Geralmente, os perversos possuem um autocontrole fora do comum, como o Coronel “SS” Hans Landa, o “amigo que todo mundo queria ter” (eu não!): carismático, simpático, amável, elegante, inteligente, possuidor de uma cultura que beira a erudição... todas máscaras que escondem o mais terrível dos demônios. E aqui voltamos ao ponto do controle excessivo que Kiddo tinha sobre seu plano, que mencionei anteriormente. A vingança não é um sentimento, mas um impulso de satisfação egocêntrica desencadeado por processos alheios ao corpo. O vingador, por outro lado, tem sempre a opção do perdão ao seu alcance que é, também, uma forma de vingança, porém despida da violência. A perversidade, não. Ao contrário, ela é um sentimento e uma necessidade que acompanham o ser humano desde tenra idade, necessitando de máscaras e esconderijos; necessitando ser controlada se quisermos conviver em grupo. MAS... Assassinos frios e cruéis como Kiddo e Bill não querem viver em outro grupo que não o seu próprio grupo. Tudo o que existe fora desse grupo, para eles, não existe.

A perversidade se conjuga com as mais variadas necessidades humanas: ela está presente quando acordamos, quando nos encontramos com nossos amigos, quando estamos com nossos entes queridos, quando vamos à igreja, quando pagamos nossos impostos, quando vamos trabalhar, quando discutimos sobre a obra de algum cineasta maluco. A perversidade faz parte da constituição humana porque vem do id e o id faz parte da constituição humana: sempre estará lá à espreita, queiramos ou não. Diferente da vingança que integra temporariamente uma parte da mente humana e depois parte para nunca mais voltar ou voltar quando necessário. Assim, a vingança nada mais é do que uma convenção social extremamente maleável. Vejamos alguns exemplos:

Landa se arrependeu dos seus atos sujos? E o sargento Werner por acaso pediu clemência antes de ter seu esqueleto estilhaçado pelo Bear Jew? Hitler matava judeus por diversão; Stiglitz matava nazis por diversão; Bear Jew matava nazis por diversão (2 a 0 para os Bastardos rsrs!)... será que os atos do Stiglitz e do Bear Jew, motivados por um falso senso de justiça, os fizeram menos perversos do que Hitler? Os mrs. Blonde e White: que motivos tinham para torturar um policial cujo destino já estava selado, mesmo sabendo que ele não sabia de nada? O Bear Jew: acertar os “nazis” com um bastão de beisebol até a morte... o que ele ganhava com isso senão prazer pessoal com os aplausos da companhia? Isso é perversidade, não pura e simples violência ou vingança. Os seres humanos são perversos por natureza, contra o que as únicas e débeis barreiras existentes são meia dúzia convenções sociais que caem por terra diante da força da violência. E é apenas isso que, a meu ver, a violência aponta na obra tarantinesca.

Capítulo VII: a verdadeira vingança

A vingança não está acima de sentimentos como honra ou nobreza de espírito; a perversidade está. Até mesmo a Cotton Mouth admitiu seu erro, pediu perdão... Kiddo aceitou, mas a matou mesmo assim só para constar. Se fosse apenas vingança ela teria parado naquele momento. Mas ela continuou.

Muito bem.. Querem um exemplo de vingança de verdadinha em Kill Bill que ninguém percebeu? O Larry! Como eu adoro o filho da puta do Larry! Ele transformou Buddy em PÓ na mais brilhante cena de um chefe comendo o rabo de um subalterno que eu já vi na minha vida! Ele não apenas descontou a raiva dos outros atrasos, como humilhou Buddy de tal modo que ele pareceu esquecer quem era (assassino frio e cruel, lembram?). Além do Larry ter dito tudo aquilo na frente da puta que cheirava cocaína com uma nota de 100, o mandou desentupir uma privada, reduzindo Buddy à merda. Isso sim foi uma vingança (vide capítulo V, 3º parágrafo).

Capítulo VIII – Touché (ou a assim chamada “Gotcha!”)

Apesar da forte presença da violência e do tema da vingança (uma vingança discutível, diga-se de passagem, como é toda vingança e por isso estamos aqui rs!) no todo da obra tarantinesca, para mim elas ainda se configuram como elementos que conferem organicidade ao enredo, mas não são analisadas em profundidade pelo diretor: são desdobramentos de acontecimentos muito superiores e que na maioria das vezes não estão presentes na película. 

É possível ver vingança em Cães de Aluguel? Até é, mas não me lembro de ninguém precisando se vingar de ninguém... só um monte de ladrões que se reuniram pelo PRAZER que tinham em roubar e, no meio deles, um policial “testa de ferro” para pegá-los se sobrevivesse. Vide o requinte com que planejaram o assalto... a violência foi desdobramento disso. Em Jacky Brown tem vingança? Em qual parte? Mas tem violência como desdobramento da situação de sinuca de bico em que ela se encontrava. E em Pulp Fiction? Tem MUITA violência, mas... cadê a vingança? A tal da massagem no pé remete a impulsos sexuais, portanto satisfação de prazer, portanto perversão, com uma pitada de ciúmes do Marcellos Wallace e da boca grande do “bando de costureiras”, tornou-se o quê? Perversidade! Violência e vingança não são nada sem um ato desencadeador, sem algo que leve até elas, porque ambas dependem, antes de tudo, de uma situação, de uma conjugação de fatores. Por isso Tarantino banaliza a violência nos seus filmes, como uma ação rotineira que as personagens nem se dão conta que estão praticando. PARA MIM, isso é um retrato fiel do ser humano despido de qualquer caráter, qualquer pudor, em outras palavras, um ser humano perverso e não simplesmente violento.

Em Pulp Fiction, o que salta à vista é justamente essa violência pura e banal, sem pudor, despida de qualquer traje, porque é assim que ela realmente é: perversa. Zed queria se vingar do Wallace? Até onde se sabe, não. Zed simplesmente queria satisfazer sua necessidade de prazer através da violação sexual e tanto melhor se satisfizesse de brinde a sua ira racista, ou seja, uma busca irrestrita por prazer que ele não controlava ou não queria controlar (perversidade). Wallace depois quis matá-lo, mas não por vingança, e sim por ser o ato de matar o que lhe daria grande prazer e não antes de fazer o que lhe dava ainda mais prazer: torturar (perversidade). 

Ou talvez, Wallace teve aquela reação porque Zed mostrou a ele que mesmo o cu de um chefão do crime organizado é apenas um cu, nada além disso; e até mesmo o cu de um gangster frio e cruel necessita de ajuda para se salvar de algumas situações, ainda que seja a ajuda de um inimigo. Tarantino, em uma análise brilhante, a meu ver, não da vingança nem da violência, mas da Justiça, demonstrou nessa cena como um ser humano que pensa ser alguma coisa por ter dinheiro e capangas de plantão, não é nada diante de alguém que pouco se importa com isso. Porque até o status de chefão do crime organizado em Los Angeles não é nada além de um papel social. E sabem de uma coisa sobre papéis sociais? Eles só são reconhecidos até o ponto em que determinadas camadas e locais específicos da sociedade os reconhecem. Em um porão mal iluminado nos fundos de uma loja de velharias, em algum ponto de uma metrópole global como Los Angeles, amigo... papéis sociais simplesmente não existem. Quem estuprou, portanto, Wallace não foi o Zed, nem a violência, nem a vingança... foi a Justiça.

Capítulo IX – Apologia

Eu detesto reducionismos. Uma obra como a de Quentin Tarantino é muito mais do que violência, vingança, perversidade etc. Os foucaultianos que se explodam: eu considero Tarantino um instaurador de discursividade, um filósofo do cinema! Ele lida com questões fundamentais concernentes não a um ou outro grupo de pessoas, mas à própria categoria de ser humano em diversas dimensões. Assistir um filme de Quentin Tarantino é mergulhar em si mesmo. Ele transforma a grande tela cinematográfica em um espelho universal no qual vemos a nós mesmos refletidos: nossa fraqueza, nossa covardia, nossa mesquinhez... Mas vemos também nossa capacidade de transformação, esse dom que nos aproxima da categoria divina, essa marca que, mais do que a racionalidade, nos diferencia da Natureza e, ao mesmo tempo, nos torna iguais a ela (pena que ainda não nos demos conta disso). 

Devemos apenas atentar para o fato de que essa capacidade de transformação, e vejo que esse é o principal diferencial do cineasta ao desenvolver suas tramas, é uma massa informe. Damos a ela as características que quisermos. Mas, que não nos esqueçamos de três coisas: 

1) da existência de seres e forças alheios a nossa compreensão agindo neste mundo; 

2) da lei da causalidade; 

3) da cena do Hitler dizendo NEIN! NEIN! NEIN! NEIN! NEIN!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A MALDIÇÃO DA CASA CIVIL

Parece que existe algum tipo de força oculta que ronda a Casa Civil na administração do PT. Primeiro o Zé Dirceu, um dos únicos políticos que, até então, eu tinha em alta conta caiu por corrupção; agora o Palocci (este há muito desconsiderei).
Eu entendo que a posição de Chefe da Casa Civil engendra um poder acima do comum, muito acima incluisve do Chefe do Estado. É um lugar que concentra, nada mais nada menos, em poucas palavras, toda a essência do Executivo brasileiro. A Casa Civil, por assim dizer, é o funil pelo qual tudo passa antes de sair e antes de entrar no gonverno. Com um poder dessa magnitude nas mãos, nenhum ser humano, por franciscano que seja, é capaz de controlar o impulso de deixar aflorar o "jeitinho brasileiro".

A verdade é uma só: enquanto os cidadãos não resolverem participar mais ativamente da política nacional, não haverá mudança nem melhoria. Dar um voto de confiança a algum candidato é perigoso. Os eleitores já tem alguma noção disso atualmente, ao menos uma noção maior do que há dez anos atrás, mas ainda assim é pouco. A figura presidencial e toda a sua trupe, por assim dizer, vai direcionar os destinos dos cidadãos durante quatro anos, no mínimo. - e o PT já faz isso há quase doze. Com isso todo mundo concorda. Mas eu gostaria de chamar a atenção de todos para o fato de que a democracia representativa, em geral, está desgastada; no Brasil, ela está velha e carcomida pela corrupção.

Sinceramente, apesar de eu ser inimigo fidagal da violência, vejo apenas duas alternativas para alguma mudança, seja a curto ou longo prazos: 1) os cidadãos intervêm na política brasileira e a salvam de um colapso; 2) revolta armada generalizada. Mas não essas revoltinhas que vira e mexe explodem por aí. Tem que ser uma revolta de verdade, bem estruturada, preferencialmente com o apoio das Forças Armadas (porque em um Estado de Direito Laico, são elas as legitimadoras da violência, muito mais do que os políticos ou a sociedade). O problema da segunda alternativa é o perigo iminente de despotismo e tirania, risco no qual poucos teriam coragem de  incorrer e que, cá entre nós, para o qual o brasileiro já comprovou  ao londo da história que não tem talento.

Para o que temos talento então? Não temos a centralidade nem a frieza germânicas; não temos o sangue quente francês; não temos a obstinação islâmica; não temos a paciência japonesa; nem a precisão chinesa; não temos a espiritualidade indiana; nao temos nem mesmo a esperteza gatuna dos americanos e ingleses. Temos talento para a malandragem; para o mandonismo; o apadrinhamento; o compadril; o patriarcalismo; a cordialidade vazia; a aceitação sem discussão; a incultura... 

Não me venham falar que isso é culpa do passado colonial... NÃO É! A época colonial já foi há muito tempo mas não aprendemos merda nenhuma com ela, pelo que parece! Nos deixamos vender por figurinhas pretensamente carismáticas, cheias de dons do Espírito Santo que brilham quando estão em campanha. Nós brasileiros somos verdadeiras mulheres de malandro: sofremos o inferno e comemos o pão que o diabo amassou com a bunda, mas gostamos! SIM! Sentimos PRAZER em nos fazermos de coitadinhos; gozamos de felicidade quando levamos socos e ponta pés distribuídos todos os dias pelos políticos. Somos masoquistas, em outras palavras.
Bem, o fato é que enquanto não aprendermos a bater, vamos continuar apanhando... mas, eu me pergunto: se aprendemos a gostar de apanhar, seria possível aprendermos a bater?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

UMA LEMBRANÇA

Há 123 anos atrás, aos 13 dias do mês de maio do ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1888, com os auspícios de el rey Dom Pedro II representado por sua filha Isabel (sim, chefe de estado viajar em momentos importantes é cultural), era sancionada uma das poucas leis que fizeram alguma diferença significativa neste país. Uma lei que, ao reconhecê-la como legítima, os censitários de então reconheceram também sua própria ignorância e desumanidade. Tinha fim a escravidão e, com ela, punha-se termo à sofreguidão da lida que o negro, vindo de África, tinha que executar sob sol forte, calejo de mãos e açoite de capitão-do-mato.

Quantos filhos foram arrancados de suas mães e estas dos seus filhos; quantas famílias destruídas; quantas lembranças lançadas ao mar em longa viagem de Negreiro... quanta humilhação em Praça de Mercancia; em ser despido da honra e da dignidade humanas; em ser transportado como ferramenta em lombo bovino ou muar.

E as senzalas... quantos gritos ainda podem ser ouvidos nos Pelourinhos; nos campos canaviais ou cafezais; quanto sangue e suor misturados nos cantos sombrios das Casas-grandes; quanto ódio; medo; raiva; ANGÚSTIA! IRA! CÓLERA! QUANTA MALDIÇÃO PROFERIDA PELOS GRITOS DE ALMAS EMUDECIDAS PELA DOR... a dor... a dor que cansa; e a mesma que alimenta, talvez, uma última chama de esperança.

Toda vez que visito os antigos engenhos, eu sinto exatamente tudo o que descrevi acima. Junto com a tortura e o preconceito, a escravidão fecha a Tríade Maldita criada pelo ser mais asqueroso da face desta e, provavelmente, de outras terras. Li muitas coisas sobre escravidão e percebo que, infelizmente, é um período que não vai muito além dos livros com a devida força para chegar à consciência. Basta apenas nos lembrar que a Consciência Negra, no Brasil, não é comemorada neste dia 13 de maio... é em novembro... pertinho do Natal... todo mundo já em clima de festa e pouco se lixando para isso. Consciência Negra não é festa... Consciência Negra deveria ser uma pedra no sapato deste país para ser lembrada e relembrada a todo momento, todo dia, porque a escravidão é um período que faz parte da genética do Brasil.

Não houve uma alma viva que sequer mencionou o fato de hoje ser o 123º aniversário da Lei Aurea. Tava todo mundo muito mais preocupado com a roupa que ia vestir na balada ou quantos amigos iria chamar para o churras do final de semana. Havia muita gente preocupada com o fato de hoje ser sexta-feira 13... Enfim, ninguém estava nem aí para o fato histórico importante ocorrido há mais de um século.

Mas eu não... eu lembrei disso o dia todo e fiz uma reflexão a respeito... e lamentei por todas as pessoas que sofreram tamanha provação e por aquelas que, infelizmente, nos confins deste país ainda sofrem. Ninguém nasce escravo... acredito que a liberdade é um bem inalienável para toda e qualquer forma de vida. Portanto escravizar é roubar a vida das pessoas.

Eu não perdôo o Brasil por ter roubado a vida, a dignidade e a honra de tantas pessoas; nem aos EUA; nem a Espanha; nem a Holanda; nem a França; nem Portugal nem nenhum outro país. Nenhum deles sequer apresentou uma retratação pública e formal, admitindo esse erro... se, eu disse SE, isso acontecer algum dia, talvez eu pense em perdoá-los.

E você Igreja, pensa que eu te esqueci? Não. A sua culpa é maior porque você além de ser conivente se aproveitou da escravidão. Esse era um privilégio que você não tinha. E não me venha com esse papinho de "a igreja é feita por seres humanos, fracos". Isso se chama hipocrisia. O seu Mestre deve ter sentido muita vergonha de você neste e em outros incidentes com os quais você compactuou, cuja lista é extensa demais para ser exposta aqui. A você também eu digo: se e somente SE você algum dia resolver seguir o exemplo que você mesma dá e se curvar diante do mundo, com o rosto por terra, pedindo perdão por todos os horrores que praticou em conluio com os "donos do mundo" ao longo da história, talvez eu considere pensar sobre perdoá-la.

Mas a você homem e mulher descendentes em linha direta ou indireta dos escravos que aqui foram aprisionados, peço perdão por eu ter nascido tarde demais e não ter podido combater esse mal ao lado deles. Peço perdão pela ganância dos meus antepassados ter levado a eles choro, dor e ranger de dentes. Espero que tenham paz, que é a amiga mais íntima da liberdado.

Quanto a nós, espero que não sejamos nunca coniventes com essa prática inominável e nem com ela compactuemos. Afinal, tudo o que tivermos que deixar aqui vai ficar aqui.