Hoje, quero falar um pouco de algo particular que me chama a atenção no dia-a-dia: o paradoxo entre teoria e prática. Não vou ser breve no que vou escrever porque aqui, neste blog, todos tem a liberdade de ler ou não. Eu escrevo pra caralho mesmo e quem não gosta do meu estilo que busque outras formas de leitura que não lhe firam a visão nem a alma. Não sou eclético e nem tenho política de cotas, portanto, não preciso agradar nem desagradar a ninguém. O que escrevo é para aqueles que tem a coragem de fazer o antigo exercício de "parar - ler - refletir", em um país onde o hábito da leitura é motivo de piada em programas de televisão.
Outro dia vieram reclamar comigo de que eu não cito autores nos meus escritos, que "a veracidade das minhas concepções é duvidosa". Sabe o que eu respondi a essa pessoa? VAI TOMAR NO SEU CU E NÃO TORRE A MINHA PACIÊNCIA! Mas isso me chamou a atenção. Tem uma coisa muito interessante na afirmação que fizeram: a questão do crédito. Ou seja, só tem crédito quem cita autores, obras e afins, como se uma obra se fizesse exclusivamente por quem a escreveu, como se o fato de um autor ser doutor honoris causa ou ter feito doutorado na europa seja, por si, o suficiente para conferir veracidade a uma obra.
A hipocrisia que reina entre teoria e prática é tamanha, que é algo universalmente aceito. Depois de seis anos de graduação, tendo contato com toda essa corja que se convencionou chamar de "cientistas", eu percebo que teoria e prática são criações para manutenção de poder. Nesse meu trajeto, eu passei milhares de horas estudando como reconhecer e estudar relações de dominação. Eu sou uma espécie de "projetista" das Ciências Sociais: sei reconhecer relações sociais, sei desmontá-las e estudar as partes separadamente; se houver inconsistências, sei montar de uma forma que sejam corrigidas; sei, enfim, o que, como e porque fazer para mudar alguma coisa nesta merda de mundo... para, no final de tudo, eu ter que sair da universidade e fazer exatamente da maneira que eu sei que não deve ser feito.
Sabem por quê? Porque tudo o que eu aprendi dentro da sala de aula da universidade foi por intermédio desses "cientistas" que não se acham, em hipótese alguma, obrigados a viver de acordo com as convicções que apresentam em sala de aula. Certa vez, me disse um professor que a sua função dentro da sala de aula de uma universidade é "defender o autor até o fim". Estávamos falando de Maquiavel naquela aula. Um autor mal amado, amargurado, despedido da função farta e voluptosa do serviço público; um homem que disse que no universo da política vale tudo: mentir, dissimular, roubar, matar para que "o príncipe mantenha-se no poder". E um professor de universidade, que teve a mesma formação que eu tive, portanto, que aprendeu as mesmas coisas que eu aprendi e muito mais durante seus mestrado e doutorado, vira pra mim e diz que tem que defender um autor como Maquiavel, que fala abertamente o que acontece no universo da política, que mostrou no século XVI o que os políticos de todos os tempos passam o dia a fazer dentro de seus gabinetes. Um autor que, mais do que expor as entranhas da política, concorda e reafirma que deve ser feita assim mesmo. Aí, o mais legal: minha prima, doutorada há pouco tempo, me solta o seguinte: " a discussão sobre a neutralidade axiológica está encerrada no meio acadêmico..." E eu, na minha humildade de graduando, viro pra ela e repasso: "em qual planeta? Porque aqui, na Terra, o distanciamento do objeto é cobrado dos cientistas nas suas dissertações e descobertas e, muitas vezes, define o aceite da comunidade científica".
No primeiro ano de universidade, eu discordei de Foucault. Imagine uma cena em que toda a sala olha pra você, como se você tivesse peidado e todos soubessem que foi você. Foi o que aconteceu comigo. Eu ergui a minha mão e disse: professor, eu discordo de Foucault nessa passagem. Ele me olhou com uma cara que dizia a mim claramente: quem é você para discordar de Foucault? Eu não sou ninguém. Mas e Foucault é o quê? Um pensador? Um pensador que fala, fala, fala e não diz nada? Que porra de definição de pensador é essa? De que adianta pensar se não se age como se pensa? Pra que serve o conhecimento se ele não é posto em prática? PRA NADA!
Veja o estrago que interpretações arbitrárias da obra de Descartes provocaram na história do Ocidente! Procuramos respostas para tudo na ciência... Eu detesto estragar os devaneios das pessoas, mas para quem não sabe, a ciência é filha legítima da religião, que por sua vez, é filha legítima da magia. Estudiosos dos séculos XVIII e XIX tentaram, de todas as maneiras, repudiar essa verdade, estabelecendo a noção de desenvolvimento e primitividade. Desenvolvimento? QUE desenvolvimento? Estamos em pleno século XXI e ainda nos matamos por causa de um liquido preto e viscoso que sai de dentro da terra; nos matamos por muito menos do que isso: por causa de poeira ou de um monte de plantas... a ciência cartesiana diz que tudo isso é legítimo; eu digo que tudo isso é uma grande e estúpida hipocrisia. Quer ver quem realmente são os seres humanos? Dê folga a todos os lixeiros por um mês; ou prenda os bombeiros por atentado ao patrimônio público, como fez o Rio de Janeiro. Então veremos o quanto de inteligência está realmente contida na ciência e para o que realmente ela serve.
Muitos dizem que "a ciência cartesiana foi derrubada". É mesmo? Bem, então porque Descartes ainda é ensinado nas escolas? Por que as crianças aprendem desde cedo a usar apenas duas das três dimensões que nossos olhos conseguem alcançar? Aliás... você que está lendo este post, por favor me responda: você aprendeu na escola quais são as três dimensões de que os professores de matemática e física tanto nos falam durante os longos anos de estudo? Se não, eu tenho certeza de uma coisa: você, certamente, aprendeu logarítimo, fazer equação do 1° ao 1000° graus, raíz quadrada, trigonometria, balanceamento de enquações químicas; vetores... e vocês professores de humanas e biológicas não pensem que eu me esqueci de vocês: análise sintática; história da américa; geologia; leis de mendel; angiospermas - giminospermas; BLA BLA BLA...
Aprendi tudo isso e sabe qual foi a primeira pergunta que o entrevistador me fez no meu primeiro emprego? "Você tem idéia do que você vai fazer aqui?"... detalhe: fui entrevistado para uma vaga de menor aprendiz... APRENDIZ, ou seja, alguém que vai APRENDER, e sim, tive de fazer uma entrevista mesmo assim, para o imbecil me perguntar "você tem idéia do que vai fazer aqui".
Na escola, parecia um lindo sonho no País das Maravilhas o mercado de trabalho. Nunca ninguém me disse que eu iria me tornar rico e poderoso, desde que estivesse disposto a abdicar de tudo que acredito, fazer conchavos, destruir vidas de pessoas inocentes, roubar e, até mesmo, em alguns casos, matar. Nunca me disseram que meu chefe iria me promover desde que eu fizesse tudo o que ele mandasse sem questionar, ouvisse ele me humilhar calado, deixasse de viver com minha família para viver em prol da empresa e, além de tudo, que eu "vestisse a camisa da empresa"... QUE PORRA SIGNIFICA ISSO? Ninguém me disse na escola, que mesmo que eu me tornasse o maior cientista de todos os tempos minhas descobertas só teriam crédito se eu aceitasse que um bando de "marmanjo" mal amados e que não comem ninguém criticassem minha obra e me dissessem que não sou nada comparado a eles.
E depois disso tudo, vivem tentando me convencer de que eu tenho que me acostumar porque a vida é assim mesmo. Mas quando eu tive que estudar a noite e trabalhar de madrugada se eu quisesse parar de me foder na linha de produção de uma fábrica, nenhum desses que diziam que eu deveria aceitar estavam comigo. Onde estavam os professores, os amigos, e até os familiares que diziam: "faça tudo direitinho que você será recompensado"?! Acho que se lembraram de que tinham se esquecido da parte do "desde que..." e se esconderam enquanto eu comia o pão em que o diabo tinha gozado dentro. Não sei porque, eu vivia ouvindo risos que não sabia de onde vinham...
Essa história de bons modos, de fazer direito, de obedecer, de ter sonhos, de ser normal (seja lá que porra seja isso), de aprender a conviver, de "faça tudo o que te disserem", de ser creditado por alguma coisa, pra mim não passa de uma piada de mal gosto. O interessante, é que essa mesma piada é contada pra todo mundo e ninguém ri, mas vivem passando para as gerações que chegam. Faça o que digo e não o que faço..."eu matei minha mãe, mas você deve respeitar a sua"; "eu estuprei a irmã do vizinho, mas se você chegar perto da minha..."; "eu humilho as pessoas, mas não se atreva a me humilhar"... Afinal de contas, o que significa tudo isso? Significa que eu não sei porque as coisas são assim, mas de uma coisa eu sei: vai ter volta.
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