Neste último fim de semana, aconteceu em São Paulo a parada do orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais), a maior do mundo, popular e vulgarmente conhecida como "parada gay". Como sempre, muito bonita, muito colorida, lotada de pessoas, um evento ímpar de socialização em um momento no qual os laços de solidariedade estão praticamente desfeitos. Acho extremamente válida essa mobilização e, mais do que isso, significante, pois demonstra o adiantado da hora para a nossa Cultura não apenas aceitar, mas "culturalizar" a existência de pessoas que optam, de livre e espontanea vontade, por uma sexualidade que distoa do hétero (que nada mais é do que a personificação de uma contradição).
MAS...
Eu gostaria de chamar a atenção para o seguinte: o movimento social encabeçado pelos homossexuais que culminou na parada do orgulho LGBT perdeu seu lastro social. Ao mesmo tempo que o movimento atingiu proporções exponenciais (só a parada LGBT contou com 4 milhões de pessoas, segundo estimativas oficiais da prefeitura de São Paulo), perdeu, por outro lado, sua organicidade e seriedade, características estas, a meu ver, essenciais para a coesão de qualquer movimento social.
O que vem ocorrendo nos últimos anos, em relação a parada do orgulho LGBT, não é um evento que tem a finalidade de chamar a atenção da sociedade para a questão da aceitação de opções sexuais distintas, mas um momento comum de festejos e bebedeira, como o é o carnaval, por exemplo. Na verdade, a parada do orgulho LGBT já foi cooptada pelo sistema e se tornou um trampolim político, um momento utilizado para a propagação, na surdina (por incrível que pareça), dos mesmos ideais tradicionais que permeiam os meandros da nossa sociedade e contra os quais o movimento deveria lutar.
Não quero ser injusto. Eu sei que muitas pessoas estavam lá com a finalidade de dar continuidade na luta contra o preconceito, esse câncer que infecta todo o sistema. Mas, me desculpem e com todo respeito, a Avenida Paulista não é lugar de fazer uma pseudo-manifestação em forma de festinha. O lugar onde o movimento LGBT deve buscar sua autonomia e o expurgo do preconceito é o Congresso Nacional, com representações políticas que abracem de verdade a causa e a façam entrar goela abaixo de um Bonsonaro da vida por maioria política e não por compaixão (em termos democráticos, maioria política significa LEI; e LEI significa o seguinte para a sociedade: ou você aceita ou você aceita).
Então, gente, por favor: parem de ficar brincando de movimento social e se organizem da maneira como deve ser, ou seja, com representações políticas organizadas. Por mais que não queiramos aceitar, a política faz parte de nossa vida; se nos abstemos de assumir uma postura ou de colocar nossa opinião, ou se preferimos aproveitar a festa como está ao invés de melhorá-la, não tenham dúvida de que alguém fará isso por nós. A chave de qualquer mudança, e a história está aí par provar isso, consiste em, basicamente, dois caminhos que devem, necessariamente, ser trilhados ao mesmo tempo: 1) educação; 2) participação política. Os benefícios ou os malefícios dessa mudança são desdobramentos da maneira como esses dois sustentáculos do change são construídos.
VIVA LA REVOLUCIÓN! ARRIVA EL ORGULLO LGBT!
Concordo plenamente com você.
ResponderExcluirAliás, minha principal crítica à Parada Gay é justamente essa perda de uma perspectiva política.
Na minha humilde opinião, o momento da passeata e da briga por visibilidade já passou e Stonewall Inn e o Movimento Gay de San Francisco já nos ensinaram tudo que precisávamos saber.
Não há dúvida de que a Parada continua sendo importante, mas agora temos que lutar contra o preconceito nas esferas de poder que realmente podem impactar na sociedade, e não apenas tornando a Avenida Paulista, a Praça da República e a Vieira de Carvalho aquela zona sem nexo que esses lugares viram durante e depois da Parada.
Ninguém é obrigado a gostar da cultura gay, que é basicamente o que a Parada mostra, assim como ninguém é obrigado a gostar de qualquer tipo de cultura. A questão é a luta contra o preconceito ainda tão engastado em nossa sociedade, algo que vejo que não tem sido o foco principal da manifestação.
A bandeira do arco-íris e o triângulo rosa são muito mais do que sinônimos de extravagância e de alta cultura pop: se nós não resgatarmos esse "muito mais" ele vai se perder e os Demônios (Bolsonaro, Malafaia) vão continuar a fazer adeptos e lavagens cerebrais infames.
De fato. O "muito mais" é o que falta para que toda essa luta, todo o sofrimento acarretado pela necessidade de se fazer ver e ouvir, sejam, de uma vez por todas, validados como elementos culturais e , portanto, reconhecidos como parte do complexo conhecido como Ser Humano!!
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