terça-feira, 13 de junho de 2017

Há quanto tempo?

Há quase três anos não posto nada aqui no meu blog. Não vou dizer que isso vai mudar, porque é mentira. Foda-se que não tenho regularidade de postagem, porque este blog não é para iniciantes. De qualquer forma, olá a você que, por obra de Forças Ocultas além da nossa compreensão, chegou até aqui. Dê uma olhada nas postagens mais antigas, certamente vai encontrar algo que lhe interesse. Bem, volto do além neste momento para falar de um tema que nunca abordei aqui: espiritualidade.

Há muito tempo deixei de seguir fielmente a uma única religião e passei a me dedicar na busca de espiritualidade. Claro que isso engendra um estudo árduo e contínuo de diferentes formas de concepção espiritual, logo, é preciso rever a maneira como se vive a fé constantemente. Mas, isto é tema pra um outro post. Neste, quero falar de uma iluminação que tive, há muito tempo: fé e religião são coisas distintas.

A princípio, não parece fazer sentido, mas a partir do momento que se inicia uma reflexão a respeito dessa expressão, o resultado é muito impactante e irreversível. Convido você, que chegou a esta leitura, a fazer essa reflexão. E veja que ela não deve se limitar somente à religião. Tudo aquilo que necessita de fé precisa passar por esse crivo. E encerro com uma máxima que acaba de me ocorrer, certamente inspirada pela espiritualidade: não há nada mais racional do que a espiritualidade.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

A administração brasileira

Há, na minha análise, um grave problema na administração pública brasileira. Começo pela maneira como é distribuído o poder nacional. Sabemos que o Brasil é uma união de estados que formam a República Federativa do Brasil. Como a própria denominação sugere, existe uma divisão do exercício do poder na administração pública, com o objetivo de descentralizá-lo e, assim, melhor gerenciar o território nacional, sua demanda e produção de bens e serviços, sua geração de riqueza, em outras palavras, sua economia e sua sociedade. Assim, temos as esferas públicas Municipal (municípios), Estadual (estados) e Federal (União), sendo esta última a instituição representativa do Brasil como País. Podemos dizer, então, que o Brasil é constituído por uma associação corporativa de estados e municípios que formam a União.

Em qualquer associação corporativa, o órgão representativo é mantido pelos associados. Por exemplo: um sindicato de trabalhadores é mantido com recursos financeiros dos trabalhadores a ele associados; uma federação de indústrias é mantida com recursos financeiros das indústrias a ela afiliadas; os conselhos de classe como OAB, CRM etc, são mantidas com recursos financeiros dos seus associados e assim por diante. A união é mantida, nessas associações, pelos recursos financeiros de seus associados. Em troca, essa união deve zelar pela cooperação dos afiliados e representá-los diante de toda a sociedade, gerando benefícios e melhores condições de desenvolvimento.

O problema que observo é que uma União de estados não é diferente e deveria seguir a mesma lógica, de forma que os estados federados e os municípios deveriam enviar recursos à União. No entanto, acontece o oposto: no Brasil, a União é que envia recursos aos estados e municípios por meio do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Isto significa que, de acordo com critérios estabelecidos na Constituição Federal, a União deve repassar verbas aos estados e municípios.

Na minha análise isto está completamente equivocado. Os municípios e os estados, para se constituírem, deveriam seguir uma série de critérios que demonstrassem ser autossuficientes e suprir suas próprias demandas, enviando à União um percentual da sua renda. É possível constituir um município, no Brasil, com pouco mais de 10 mil habitantes e, desde que atinja o número estimado pelo IBGE, esse município recebe recursos da União. Toda essa lógica não onera os cofres federais?

Política e "jeitinho brasileiro"

Todos os dias eu ouço pessoas falando mal dos políticos e os adjetivos preferidos da grande maioria das pessoas são "corrupto" e "ladrão". Na TV, nas mídias impressas, na internet, nas rádios, volta e meia esses adjetivos retornam às bocas dos brasileiros; nas conversas informais em cafés, lanchonetes, bares eles estão sempre presentes. É preciso avisar essas a pessoas que elas estão cometendo um grave equívoco e sempre que posso eu o faço, mas, quase nunca um cidadão está disposto a ouvir uma pequena aula de história, mesmo que seja de graça.

Para construir meu argumento, eu não vou falar sobre conflito e conjuntura, nem fazer uma análise da economia brasileira. Eu vou falar de literatura, outro assunto espinhento para a maioria dos brasileiros, porque, a bem da verdade, a escola brasileira, pública ou privada, não nos introduz nos mistérios das grandes obras literárias do Brasil, limitando-se a treinar nossas mentes para as leituras exigidas em vestibular, o que vicia nosso intelecto e nos tira o prazer da leitura. Nada melhor do que literatura para nos ajudar a compreender porquê é um equívoco chamar um político de corrupto ou ladrão. Como todo leitor de nível avançado, e digo isso sem nenhuma falsa modéstia, há muito tempo eu elegi os autores preferidos, aqueles que conseguem romper a barreira da minha racionalidade e tocar no meu espírito com suas palavras. No que se refere à literatura brasileira, o meu eleito não poderia ser outro senão Joaquim Maria Machado de Assis.

Entre os inúmeros e estonteantes escritos de Machado de Assis há um conto em particular que me chamou a atenção desde a primeira leitura e se tornou, portanto, o meu preferido: Pai contra mãe. Nele, Machado faz uso da estrutura social escravocrata do século XIX no Brasil para criar uma história com uma dose cavalar de realismo: de um lado, Cândido Neves (Candinho), um pai de família que entrou no ramo da captura de escravos fugidos para ganhar sua vida; de outro, Arminda, escrava fugida. No encontro dessas duas personagens, a situação de ambos era terrível: Candinho, praticamente falido, se vê obrigado a levar o filho recém nascido à adoção e Arminda estava fugida porque estava grávida e queria poupar o filho da servidão. Candinho, mais preocupado com sua própria condição, não atende a Arminda que implora por misericórdia. Ele amarra uma corda em seu pescoço e a entrega ao seu senhor a troco da incrível recompensa de cem mil réis. Sem condições de luta, a escrava sofre um aborto espontâneo, mas Candinho, pouco se importando com o sofrimento do outro, vira as costas e volta para a casa feliz por ter ganho o dia sem precisar dar o filho à adoção.

Candinho, de acordo com a descrição de Machado, era um homem que queria ganhar a vida com o mínimo de esforço. Na minha concepção, é a personagem da literatura brasileira que melhor define o que se chama de "jeitinho brasileiro". Mesmo ciente da sua incapacidade de se dedicar a uma função ou ofício, Candinho se casa e tem um filho, sem sequer cogitar as implicações de se ter um filho sem ter trabalho fixo e moradia própria. Quando a coisa aperta, Candinho dá um jeitinho brasileiro e ganha a féria do dia às custas do sofrimento de outrem, já corrompido pelo ganho fácil por pouco esforço, e rouba o direito à vida e liberdade de alguém em piores condições do que ele. Entre o certo e o fácil, portanto, vemos que Candinho sempre escolheu o fácil.

Nós, brasileiros, somos rodeados por esse tipo de canalhice. E a maioria de nós se deixa levar por essa onda de jeitinho brasileiro no cotidiano, principalmente no que concerne à política. Para a maioria dos brasileiros, votar se resume em apertar alguns números e uma teclinha verde, depois ir embora para a casa com a consciência tranquila, sem precisar se preocupar com mais nada até a próxima eleição. A única participação da grande maioria dos cidadãos brasileiros extra-eleições é o xingamento: corrupto, ladrão, não faz nada etc.

Mas, eu acho muito importante frisar que o político não caiu do céu, nem pousou nas sedes governamentais vindos de outro planeta. Eles vieram do povo; eles nasceram, foram criados e foram eleitos entre os seus pares cidadãos brasileiros. Atualmente, eles não tomaram o poder à força, mas foram eleitos democraticamente: eles apresentaram suas propostas e os eleitores as aceitaram. Portanto, chamar um político de corrupto e ladrão é chamar a si mesmo de corrupto e ladrão, porque os governos municipais, estaduais e federais são o retrato mais fiel que existe daqueles que os elegeram.

Se a ideia é melhorarmos nossa forma de fazer política, acredito que já conhecemos muito bem a solução: abolir o jeitinho brasileiro e erigir uma sociedade com nossas próprias mãos. Não há nenhuma facilidade nesse processo; o trabalho é árduo e constante e somente uma sociedade com cidadãos comprometidos é capaz de mudar sua própria situação. No entanto, cabe indagar: será esse o desejo da maioria dos cidadãos brasileiros?

Reencontro

Olá queridos e queridas! Há sete meses eu não publico nada aqui no Perversão! É um tempo muito grande entre uma postagem e outra, mas, em minha defesa, estive ocupado com uma série de acontecimentos de ordem pessoal que me impossibilitaram de dar grande atenção ao blog. Não serei ingênuo como da última vez e não vou prometer que retomarei a regularidade das postagens, mas posso prometer que farei o possível. Abraços!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Música brasileira (só que não)...

Acabei de ler uma entrevista do Lobão (http://www.elhombre.com.br/lobao-joga-ventilador-el-hombre/). Eu não gosto das músicas do Lobão. Particularmente, sempre achei que ele fosse um reacionariozinho enrustido. No entanto, não posso deixar de concordar com a opinião dele sobre a música brasileira, no seguinte sentido: há muito tempo que a imundície sonora polui os meus ouvidos. Eu não suporto mais ligar o rádio ou a TV e ouvir/assistir sempre a mesma merda em termos de "atrações" musicais. De fato, qualidade nunca foi uma preocupação da mídia brasileira porque o público não é exigente: se aceita o que se oferece. Ninguém discute. Ninguém opina. Parecemos um bando de vaquinhas de presépio, simplesmente abaixando a cabeça e dizendo "amém" pra tudo que vemos e ouvimos.

Até hoje, penso que só tivemos surtos de qualidade na música brasileira e começou com a Bossa Nova, um movimento interessante e proposto a um projeto realmente inovador: introduzir o jazz. Mas, infelizmente, os artistas dessa leva ou eram somente bons letristas ou somente bons instrumentistas e isso, a meu ver, prejudicou ao longo do tempo o desenvolvimento desse estilo que se tornou absurdamente erudito, fechado e sem espaço para inovação. A Tropicália tentou uma proposta muito legal e, no início, foi bem sucedida, trazendo algo bastante inovador e que tendia à popularização. No entanto, em determinado momento criou-se um cânone de "intocáveis" e a qualidade da música se perdeu paulatinamente, porque caiu na mesmice e depois na chatice. A Jovem Guarda tinha, por outro lado, uma capacidade peculiar de movimentar a juventude brasileira e, no início, isso deu muito certo. A introdução do rock n' roll no Brasil foi um feito memorável, mas, de repente, o seu maior expoente se rendeu ao mercado musical, causando uma fratura tão grande que nenhum dos músicos desse movimento conseguiu jamais se recuperar.

Nos anos 1980 e 1990, ao contrário, muita gente fez coisa muito boa: muita gente nova surgiu e alguns dos antigos amadureceram e foi o período em que a música no Brasil se remodelou. Parecia que tudo se encaminhava pra um desenvolvimento musical no melhor sentido possível. Entretanto, a partir de meados dos anos 1990, só existe uma expressão que seja capaz de definir o sentimento que tenho: QUE PORRA É ESSA? De uma hora pra outra não existe mais trabalho musical; a letra perde cada vez mais espaço pro ritmo nas composições; os temas se tornam cada vez mais simplórios; os instrumentistas e os vocalistas não se experimentam mais. Não há, enfim, mais espaço pra duas coisas fundamentais no trabalho artístico musical: exploração e experimentação.

O problema, então, não é o funk, nem o sertanejo, ou o pagode, ou o samba, ou a MPB, porque cada um desses estilos musicais constitui uma parte importante e valiosa da cultura musical brasileira, tecendo uma história caleidoscópica dessa cultura. O problema é que cada um desses estilos musicais está estagnado e não dialoga com os demais. Cada um segue o seu caminho, como se não existisse mais nada ao redor, como se não houvesse um "ao redor". Se isso continuar, de fato a música brasileira não vai passar de uma sombra mesmo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O MPL E A VIOLÊNCIA

Antes de tudo, um mea culpa. Eu, sinceramente, não achava que os brasileiros seriam capazes, na contemporaneidade, de uma mobilização dessa magnitude. Que bom que eu mordi minha língua, que bom que eu me enganei. Ainda há esperança e isso me fez acreditar que é possível construir um país melhor. Eu agradeço aos manifestantes por mostrarem isso de forma muito legítima. O Movimento Passe Livre (MPL) foi o grande estopim dessa onda de manifestações que observamos no Brasil, mas aos poucos estão vindo à tona outras questões que permaneceram latentes durante muito tempo, dentre as quais notadamente a corrupção e as polêmicas de gênero causadas por Marcus Feliciano e toda a chusma que compõe a bancada da assembléia de Deus no Congresso. Os cidadãos brasileiros utilizaram o seu direito e o seu dever democráticos de manifestação legítima.

O problema é que a mídia inescrupulosa, sempre reacionária, sempre de rabo preso com o poder, ao invés de evidenciar a pauta de reivindicações da multidão comprometida com o protesto de forma séria e objetiva, fica evidenciando a violência. Não preciso dizer que a violência não deslegitima o movimento e explico porquê. Os reaças chamam de violência a agressão contra policiais e civis, a destruição de patrimônio público e privado. Bem, para falar disso eu me valho da definição de Renée Girard: a violência é uma situação que pode ou não se consumar em ato. E, por favor, não nos esqueçamos de Georg Simmel: a violência é uma das formas elementares de associação entre indivíduos. Portanto, o movimento é legítimo com ou sem violência.

Agora, se tem violência eu explico porquê. Os senhores políticos cospem na cara dos cidadãos todos os dias com sua corrupção desmedida e escancarada, isso não é violência? Uma mãe que tem que acordar cinco horas da manhã, com frio, calor, chuva, e enfrentar uma porra de uma fila pra marcar consulta pro seu filho, isso não é violência? Pessoas que morrem todos os dias nos hospitais largadas no chão, sem ao menos um leito pra apoiar seus restos mortais, isso não é violência? Um aposentado que passa anos sem reajuste no benefício, isso não é violência? Pessoas que são submetidas a regime de trabalho escravo, muitas delas crianças, enquanto os governantes fazem vistas grossas, isso não é violência? Os professores que são obrigados a carregar a educação moral dos indivíduos e enfrentar marginais em sala de aula com um toco de giz na mão, isso não é violência? Os policiais que, a mando dos governantes, descem a borrachada nos professores quando tentam lutar por condições mais humanas de trabalho, isso não é violência? Um político que supervaloriza uma obra que deveria servir ao público e enfia toda essa grana no bolso sem concluí-la e sem entregá-la devidamente funcionando a população, isso não é violência?

É claro que tudo isso corresponde a tipos diferentes de violência contra os cidadãos. Agora, me digam: por causa disso a política é deslegitimada? Por acaso os governantes perderam seu poder por não corresponder com as expectativas da população? Claro que não! A política ainda existe. Por outro lado, essas questões estiveram latentes por tanto tempo, que na situação atual propícia os indivíduos encontraram na violência uma das maneiras de se manifestar. E isso, por acaso, deslegitima as reivindicações? Quer dizer que todo o movimento se reduz a violência como mostram as coberturas jornalísticas? É CLARO QUE NÃO! Com ou sem violência, não importa, o fato é que os brasileiros resolveram cobrar os políticos e isso faz parte da democracia. Tanto é, que inúmeras cidades que haviam aumentado o valor das passagens de ônibus voltaram atrás! E os brasileiros e brasileiras estão de parabéns!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Por que precisamos de heróis

Galileu foi enfático: "infeliz a terra que precisa de heróis" (BRECHT, 1996). Os grandes heróis das histórias em quadrinhos norte-americanas surgiram no começo do século XX, entre as décadas de 1920 e 1940, período que o país era dominado pela "cosa nostra". E foi um período tão terrível, tão marcante na vida dos norte-americanos que o primeiro filme da trilogia O Poderoso Chefão (Paramount, 1972, 172 min) foi impedido pelo sindicato da indústria cinematográfica de usar a palavra máfia. Foi naquele momento que surgiram os heróis contemporâneos.

Mas, a necessidade de heróis é muito anterior aos Batman's e Superman's da vida. É claro que tudo começou lá na Grécia, mas a percepção grega de herói tem muito pouco a ver com o altruísmo dos mocinhos dos quadrinhos contemporâneos. Todo herói grego tinha medo de morrer sem deixar o legado do seu nome e dos seus feitos. Então, eles buscavam o que Jean-Pierre Vernant chama de "a bela morte" (VERNANT, 1979).

A "bela morte" é aquela que marca de tal maneira os rumos de uma batalha que o nome do guerreiro seria lembrado para todo o sempre. No momento da morte o soldado virava herói. Claro que há a toda a mística da mitologia grega, belíssima, em que os deuses elegiam o seus escolhidos e os conduziam a uma bela morte. E qual prêmio de um herói morto? Os Campos Elísios, o paraíso que somente os portadores da dádiva da bela morte poderiam alcançar.

Mas, por que nós que nos distanciamos quase 4.000 anos da Antiguidade ainda precisamos de heróis? Porque, no fundo, todos nós buscamos uma bela morte e queremos ser lembrados pelos nossos feitos. Por isso damos tanta importância aos referenciais, a quem fez o quê, quando e por quê. E, por isso, criamos os nossos vilões a nossa imagem e semelhança. No final, é o medo da morte que nos impulsiona e nos transforma.

Estamos, então, fadados a maldição de Galileu: somos infelizes porque precisamos morrer e fazemos de tudo pra que essa morte seja bela. Logo, fomos, somos e sempre seremos e precisaremos de heróis.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Vamos relembrar?

Bom dia minhas caras e meus caros!

Só tenho uma coisa a dizer nesta sexta-feira, e é bem rápido:

Se Raul Seixas tivesse vivido a década de 1990 ele, provavelmente, mudaria o nome da música "Aluga-se" para "Vende-se" e sua "musa inspiradora" não seria ninguém menos que FHC. Agora, deem uma olhada no link abaixo para relembrarem o que aconteceu com o Brasil naquela década por causa do FHC. Isso nunca deve ser esquecido.


Depois dessa leitura, muito básica e que pode ser feita em uma cagada rápida, leiam A privataria tucana (2011) do jornalista Amaury Ribeiro Junior. É leitura obrigatória para toda brasileira e todo brasileiro que desejam trilhar o caminho da consciência política. Abaixo da imagem, tem um link da Carta Capital com a resenha do livro.




quinta-feira, 4 de abril de 2013

Pessimismo

Bom gente, olá! Como esta é a primeira postagem do ano, nada melhor do que começar desejando um bom 2013 pra todo mundo. Que se foda o atraso, porque eu não tenho todo o tempo do mundo pra postar. E, cá entre nós, nunca é tarde para recomendar bons desejos não é verdade?

É curioso que, embora esperemos sempre algo de alvissareiro, nem sempre as coisas fluam como desejamos. Ocorreram alguns fatos nestes primeiros três meses do ano (já caminhando para quatro) bastante alarmantes, como todos devem ter acompanhado. O primeiro e mais terrível foi o incêndio na boate Kiss, na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, onde quase 250 pessoas morreram. Uma tragédia horrível. Depois, Renan Calheiros retorna do além e é novamente eleito para a presidência do Senado, seguido do detestável Marco Feliciano eleito para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Uma jovem inocente é vítima de estupro coletivo e morre depois passar dias agonizando. Anteontem a tarde, acontece o terrível acidente em que um ônibus caiu de um viaduto na Avenida Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, matando 7 pessoas. Puta que pariu velho, é tragédia atrás de tragédia!!

Mas, deixando um pouco de lado os entraves da vida, penso ser importante sempre esperar o melhor. Há alguns conhecidos meus que dizem o seguinte: "eu sempre espero o pior, porque se entre tudo o que der errado alguma coisa der certo, eu ainda saio no lucro". Esse tipo de pessimismo impede o andamento das coisas, porque reafirma o fato de termos sido educados para acompanhar o tempo dos homens que  é arbitrário e cruel. Outro dia eu estava chegando em casa e me dei conta de que saio para o trabalho pouco depois do sol ter nascido e retorno depois que ele já se pôs. Mas, que porra é essa? Eu não vejo o dia passar porque sou obrigado a ficar a terça parte mais importante dele trabalhando! Porra cara, quem inventou uma jornada de trabalho de oito horas diárias não tinha uma vida da qual gostasse. Isso sem mencionar as pessoas que trabalham em escala de doze horas. Vai se fuder! Será que o trabalho é tão importante assim? Isso é, pra mim, o maior exemplo da crueldade humana e, no entanto, a adesão a filosofias estúpidas como "o trabalho dignifica o homem" é unanimidade.

Depois de passar a parte mais interessante do dia trabalhando, chego em casa e ligo a TV e só o que as emissoras abertas tem a oferecer é panis et circenses: novelas estúpidas, reality shows nojentos, séries de "humor" sem graça, programas de auditório sem o menor sentido de existência. Vou, então, para a rede fechada e o quadro é o mesmo, exceto que além de somente pão e circo existe um pretenso toque de charme para que as ditas "classes emergentes" tenham a falsa sensação de que estão vendo na Warner algo de diferente do que passa na Globo. Digamos que seja uma refeição mais elaborada, algo como panis, vinum et circensem. Internet eu nem cogito. Evidentemente, eu desligo a droga da TV e abro um livro pra ler, só que a rua da minha casa é a única ligação do extremo sul da cidade com o resto do mundo. É uma barulheira infernal 24h por dia.

A única coisa que me resta é lutar pra transformar essa situação. Eu poderia, é claro, me revoltar e sair matando todo mundo, mas não creio que isso seria uma atitude sábia. Eu também poderia virar um revanchista e sair por aí pregando ideais de resistência, mas possivelmente ninguém me daria ouvidos. Embora eu me levante todos os dias com um profundo mal estar por ter de deixar o que mais amo, mesmo que por poucas horas (bem, nem tão poucas assim), eu tento me lembrar de que é necessário deixar o refúgio do lar e seguir adiante, ainda que esse "adiante" seja apenas um eufemismo para o desconhecido. Não fui eu que fiz as regras, mas é possível modificá-las desde que eu as conheça, as entenda e as faça trabalhar a meu favor. Eu sei: é mais fácil falar do que fazer. Mas, acredite: ser pessimista não é uma saída interessante.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

NAZISMO PARTE III

Alô queridos e queridas! Eu espero que estejam bem, mas não prometo que vão continuar assim depois de ler este post. Na verdade, se você não está bem, por favor, nem leia. Eu digo isso porque não há como ficar bem lendo um post sobre guerra, morte, destruição, injustiça, derramamento de sangue, tortura, mácula, vilipêndio, violação, enfim tudo aquilo que nós seres humanos temos de pior e que um dia foi excretado sobre a face da Terra. Este post é, em outras palavras, deprimente e horrível, cheio de espectros injustiçados e corpos insepultos, espíritos que clamam por redenção e justiça. Você ouvirá o lamento deles e o seu clamor por descanso no decorrer da leitura.

Dedico, portanto, este post à memória daqueles que tiveram de passar pela terrível provação da guerra.

NAZISMO – Parte III
Campos de desolação

 Entrada de Auschwitz-Birkenau, extraída do Google.

Nem a própria autobiografia de Adolf Hitler, Mein Kampf, nem a historiografia, a sociologia, a psicologia, a psicanálise ou mesmo a psicografia conseguem apresentar explicações satisfatórias para um fato que marcou a era Hitler: o anti-semitismo. Uns dizem que foi por causa de dinheiro; outros que por causa de poder; outros que foi por causa de problemas conjugais; outros ainda que foi simplesmente porque eram judeus. Enfim, ninguém consegue organizar as idéias quanto a isso e esse fato particular do governo do ditador permanece sem resposta concreta. Seja por que motivo for, Hitler viu nos judeus um verdadeiro rebanho expiratório, para o qual dirigiu todo o seu ódio, repulsa, asco, nojo e desejo de vingança.

Partamos do seguinte princípio: para os nazistas, judeus não eram humanos, não eram nada, algo que o próprio Füher sintetiza com suas próprias palavras: “Sem dúvida, os judeus são uma raça, mas não são humanos”. Vamos falar um pouco sobre os campos de concentração, que muitas pessoas, inclusive pensadores, tendem a definir como análogos as prisões convencionais. Não preciso dizer que isso é uma grande mentira, embora seja preciso mencionar que a verdade que se conhece sobre os campos de extermínio e concentração foi criada pelos vencedores da Segunda Guerra: norte-americanos, cuja economia desde a abolição da escravidão era largamente comandada por judeus (e é até hoje). Vamos, então, diferenciar prisão, campo de concentração e campo de extermínio.

Uma prisão, bem ou mal, é envolta e perpassada por leis: há leis específicas que determinam tempo e método de punição, dentre as quais, convenções nacionais e internacionais de direitos humanos; há separação entre homens, mulheres, jovens e crianças, para os quais há legislação punitiva distinta, levando-se em consideração uma série de fatores desde o tipo de infração até questões fisiológicas como condição de saúde e idade. Os presos recebem visitas, tem direitos prescritos e sua punição, salvas algumas exceções, se resume ao cárcere que é, para um Estado de Direito, basicamente a privação dos direitos à liberdade, propriedade e trabalho assalariado. E, cá entre nós, se você tem grana nem preso você fica, independente do país, ou, caso não haja solução, o dinheiro garante férias ao invés de cárcere dentro do sistema prisional.

O campo de concentração é um pouco diferente de uma prisão. Geralmente, é fruto de ato legal do Poder Executivo quando em Estado de Guerra e trata-se, em tese, de um local específico para onde devem ser enviados os prisioneiros de guerra. Essas pessoas tem seus direitos civis e políticos suspensos, ato que deve perdurar somente enquanto permanecer o Estado de Guerra, porém, sem supressão de direitos humanos os quais são determinados observando-se convenções internacionais. Portanto, tecnicamente, o prisioneiro no campo de concentração, embora tenha parte dos seus direitos suspensos, não pode ser vítima de violência ou maus tratos, prevalecendo sua condição de indivíduo e sujeito de direitos. Caso seja comprovado qualquer desrespeito ou desacato a suprema condição humana, os responsáveis, em tese, devem responder pessoalmente pelas acusações e podem ser condenados a pena capital por crime de lesa humanidade.

Um campo de extermínio é completamente diferente de uma prisão convencional ou um campo de concentração.

Homens ou mulheres, adultos ou crianças, ricos ou pobres: todos são uma coisa só, uma massa degenerada completamente alheia ao conceito de humanidade. É um lugar amaldiçoado onde os sujeitos são a todo o momento e de todas as formas despidos da sua condição humana através da tortura, da humilhação, do vilipêndio, da profanação, da violação, da violência. Não há dignidade nem escolha. Tudo o que resta aos prisioneiros de campos de extermínio é esperar por uma morte pouco dolorosa, enquanto preparam seu espírito porque nem mesmo seus corpos lhes pertencem. Os enclausurados em campos de extermínio não são considerados humanos, nem sujeitos e muito menos indivíduos... eles não são nada... eles não são ninguém. Em outras palavras, estão lá para um único propósito apenas: morrer.

Auschwitz: "o trabalho liberta"

 Entrada de Auschwitz-Birkenau. Foto recente extraída do Google.

Não foi a toa que Theodor Adorno, no seu famoso ensaio “A educação após Auschwitz” (1965), foi enfático: Auschwitz não pode acontecer nunca mais! Evidentemente, havia muitíssimos desses campos que eram controlados pela SS, a polícia nazista, e foram idealizados da maneira como conhecemos por Heinrich Himmler, terceiro homem no escalão do Reich e comandante da SS. Mas dentre todos os campos, Auschwitz-Birkenau, sem dúvida, foi o pior. Tratava-se de um complexo gigantesco que abrigava, ao mesmo tempo, prisões, campos de concentração e campos de extermínio. Por isso que, desde Auschwitz, é comum as pessoas confundirem campos de concentração com prisões e campos de extermínio. Estima-se que mais de um milhão de pessoas, entre judeus, ciganos e demais prisioneiros de guerra, tenham morrido durante o período de funcionamento de Auschwitz, entre 1940 e 1945.

Uma vez lá confinadas, as pessoas estavam sujeitas a todo o tipo de vilipêndio: trabalho forçado; torturas; experimentos científicos, como aquele que o doutor Josef Menguele empreendeu na ala Birkenau: métodos de esterilização em massa, injeções de substâncias nos olhos para mudança da cor, dissecações ainda em vida. Além disso, havia também as surras; a escassez de comida; as doenças contagiosas; os vermes; os animais peçonhentos etc.

Imagem de Campo de Concentração extraída do Google.

Auschwitz foi o fruto mais viçoso dos ideais racistas e anti-humanistas dos nazistas. Há poucos dias assisti um documentário feito pela Discovery que se chama “A conspiração nazista”, exibido pela primeira vez em 16 de outubro de 2010 pelo Discovery Channel. Nesse documentário, os autores mostram como, paralelamente a criação de um Rich absolutamente ariano, os ideais nazistas de pureza de sangue e raça eram propagados aos alemães desde tenra idade. A engenharia do esquema tinha uma precisão assustadora, era milimetricamente calculada a curto, médio e longo prazos, desde uma pedagogia nazista até a participação na principal empresa nazista chamada Tausendjährige Reich (Reich de Mil Anos), passando, é claro, pela religião do nazismo, que agregava elementos de várias culturas antigas, como o uso da suástica invertida, mas principalmente aqueles advindos do saxão arcaico, como as runas de Odin que adornavam os uniformes da SS e referiam a divisões distintas, com tarefas distintas no Reich. Auschwitz era para onde convergia toda essa dinâmica, era o lugar de gestação dos ideais que o alto comando postulava em Berlim e por isso era tão grande e proporcionalmente tão terrível.

Se o que o cartunista de vanguarda Art Spiegelman contou na obra “Maus” (1980) foi verdade, é compreensível o medo que Adorno transmite ao falar de Auschwitz. 

Capa da Edição Completa de Maus publicada no Brasil em 2005 pela Cia das Letras.

Vladeck Spiegelman e sua esposa Anja Spiegelman, ambos protagonistas de “Maus” e pais de Art, estiveram em Auschwitz. Eles sobreviveram, mas carregaram as cicatrizes daquele lugar maldito em seus corpos, em suas mentes e em suas almas até o fim de suas vidas. Mas, não é necessariamente este o ponto que me chamou a atenção no livro. Eu sempre me perguntei por que os judeus nunca reagiram durante o Holocausto? Eles resistiram, mas não reagiram. Medo? Religião? Ambos? Não sei. O que mais me chocou na leitura da obra de Spiegelman, muito mais do que a violência, foi a falta de união entre os judeus. Eles se ajudavam não pelo fato de estarem fodidos no mesmo barco, mas sim para adquirirem vantagens uns sobre os outros. Isto não é uma discussão de caráter, mesmo porque penso que seja difícil definir caráter em estado de guerra, mas o que me espanta é que não bastando a crueldade que sofriam dos nazistas, havia uma crueldade interna ao grupo, de tal forma que se estabeleceu uma hierarquia de comando entre os judeus. Não havia solidariedade, havia negociação. Mas o que eles tinham para negociar, afinal de contas? E mais do que isso: para que negociar? E isso sem mencionar os pelegos.

quadrinho de Maus (1980), de Art Spiegelman.

Há uma corrente neonazista que defende que os campos de concentração nazistas, sobretudo Auschwitz, eram retiros de paz e sabedoria para os judeus e foi o conhecimento desse fato que me motivou a fazer essa série de posts sobre o Nazismo. E você, cara leitora, caro leitor, depois do que escrevi até agora, o que você acha disso? Abaixo, o link da internet onde li a respeito para que você mesmo, para que você mesma, possa ver e tecer sua própria opinião.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

NAZISMO PARTE II

Antes de iniciar esse segundo post sobre o nazismo, eu preciso fazer algumas observações. Embora a maneira como costumo escrever aqui neste espaço de livre expressão que é o meu blog — ou pelo menos assim eu o considero — prime pela informalidade, há certos assuntos que não podem ter como ponto de partida a doxa em seu estado puro. Foi preciso que eu passasse minhas idéias por um filtro e, por isso, tive de entrar em contato com alguma literatura e algumas fontes de mídia que tratam ou referenciam o tema do nazismo.

No que diz respeito a literatura, estarei dialogando o tempo todo com: Origens do Totalitarismo (ARENDT, 1979); Educação após Auschwitz e Dialética do Esclarecimento (ADORNO, 1985 e 2003); O Livro Negro do Comunismo (1999); a autobiografia de Hitler, Mein Kampf (HITLER, 1937); escritos diversos de Foucault, Althusser e Gramsci; além da Tríade Digital do Século XXI: Scielo, Google e Wikipedia.

Nas fontes de mídia figuram as seguintes obras: O grande ditador (Chaplin, 1940); Fahrenheit 451 (Truffaut, 1966); Laranja Mecânica (Kubrick, 1971); Saló ou os 120 dias de Sodoma (Pasolini, 1975); 1984 (Radford, 1984); A lista de Schindler (Spielberg, 1993); Matrix (irmãos Wachowski, 1999); O Pianista (Polanski, 2002); A queda: as últimas horas de Hitler (Ganz, 2004); Operação Valquiria (Singer, 2008); e Bastardos Inglórios (Tarantino, 2009).

Espero que curtam o post.

Nazismo – Parte II
O despertar de um líder

O cenário que se apresentava no pós Primeira Guerra era um quadro desesperador. Após o armistício de 1919, o mundo mergulhou em uma profunda crise econômica. Destruída, a Europa dependia de terceiros para se reorganizar e se reestruturar e por um longo tempo não seria o mercado promissor de outrora, uma vez que os investimentos debandaram. Fome, miséria, desemprego, doenças e uma profunda cicatriz na alma do hemisfério norte constituíam o produto da Primeira Grande Guerra, o grande legado da vontade de igualdade que fizeram os países mais ricos do mundo entrarem em conflito.

Aproveitando-se do desespero da Europa destruída, os Estados Unidos fizeram crescer sua economia em larga escala financiando a recuperação do Velho Continente, conseguindo, em troca, taxas de exportação extremamente propícias, o que fez sua produção e mercado interno aumentarem indiscriminadamente. A Europa engoliu seu orgulho e beijou a mão do Uncle Sam, aceitando essa sujeição provisória em troca de uma pequena chama de esperança. Já na segunda metade da década de 1920, entretanto, a Europa conseguiu retomar sua produção interna e restabelecer parcialmente sua economia, reduzindo consideravelmente as importações dos EUA. Isso, combinado ao crescimento econômico desenfreado e mal planejado dos EUA, acarretou a grave Grande Depressão a partir de 1929: extrema produção e demanda quase nula, situação que apenas se resolveu com o final da Segunda Guerra.

Ironicamente, o quadro favoreceu os germânicos: de um lado, os países aliados, felizes que estavam por conseguir retomarem sua economia, deixaram de lado o castigo à Alemanha; de outro, os EUA estagnou sua economia e sofreu um período de crise extrema, a ponto da máfia se infiltrar no governo americano e controlá-lo dos bastidores. Preocupados que estavam com seus próprios problemas, todos eles se esqueceram da República de Wiemar.

Percebendo a crise internacional e se aproveitando do restabelecimento econômico europeu, os alemães ao mesmo tempo em que retomaram sua própria economia, procuraram se organizar social e politicamente. Vários partidos se formaram durante esse período e a Alemanha, gradativamente, retomou também seu controle político interno. Entre esses partidos, havia um certo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei), cuja sigla resumida era NAZI. Um certo Adolf Hitler, jovem austríaco, nascido na província de Linz e lutador condecorado com a Cruz de Ferro de Primeira Classe na Primeira Grande Guerra por bravura, filiado ao NAZI, começou a chamar a atenção dos defensores do Nacional Socialismo pelo seu histórico, pela sua retórica revanchista, pelos trabalhos que vinha prestando ao exército alemão como divulgador do nacionalismo e pelo seu discurso anti-semita, o qual Hitler apoiava desde o início da década de 1910, quando esteve em Viena pela primeira vez e teve contato com os panfletos anti-semitas de Jörg Lanz von Liebenfels, que no exército alemão era defendido por Dietrich Eckart, o qual logo se tornou amigo pessoal de Adolf. Em 1929, como expoente do NAZI, Hitler já conclamava os alemães a recuperarem seu orgulho ferido pelo Tratado de Versalhes e em novembro de 1933 ele prestava juramento como Chanceler ao Reichstag.

Imbuído desse arsenal retórico-demagógico e apoiado pelo alto escalão das forças armadas, Adolf Hitler precisou apenas sitiar e se apossar da última instância de resistência de qualquer nação orgulhosa: o povo. A partir de então, se tornou seu condutor, o Füher, o supremo comandante. “Tudo o que vocês são, o são através de mim; e tudo o que eu sou, sou somente através de vocês” (ARENDT, 1979, p. 374). Essa frase proferida pelo próprio Hitler em discurso, mostra a essência da sua política totalitária: não havia nada entre ele e o povo; ele era o povo e tudo, absolutamente tudo o que ele fizesse representaria a própria vontade do povo. Uma sacada genial, é preciso admitir. Com essa jogada de mestre, ele, a um só tempo, eliminou oposições e unificou opiniões que justificariam os empreendimentos da “limpeza étnica” e do avanço extra fronteiras do Estado alemão. Como Hitler representava a vontade do povo, não houve questionamento popular, embora dentro do partido tenha havido várias insurgências, todas localizadas, reprimidas e punidas exemplarmente.

Assim ascendeu ao poder o “Grande Ditador” do século XX, sob os auspícios da população, dos políticos, dos industriários e das forças armadas. O Füher não apenas restabeleceu o orgulho alemão, como expandiu a economia interna com o fabrico de armamentos e investimentos pesados em tecnologia bélica, aumentando a oferta de emprego e ganhando, definitivamente, o total apoio popular. Após seis anos de investimento em guerra, faltava apenas uma coisa para coroar a subida de Hitler ao poder: uma guerra.

Continua em NAZISMO – Parte III: campos de desolação

sábado, 4 de agosto de 2012

A falácia das Olimpíadas

Agora há pouco, estive lendo um post muito interessante sobre as tais olimpíadas (compartilhado na minha página do facebook). A bandeira levantada é a do fair play, da união, do trabalho em equipe. Se você acredita mesmo nessa idiotice, permita-me lembrá-lo de que onde há competição não há fair play, nem união, nem trabalho em equipe, porque o que importa é vencer, estar no primeiro lugar do pódium, ser o coroado. Os Jogos Olímpicos tiveram início na Grécia, entre os séculos VIII a.C. e IV a.D., mas não eram os únicos. Havia, também, os Jogos Píticos que eram tão ou mais tradicionais do que os jogos olímpicos, embora ninguém sequer os mencione. A diferença é que os Jogos Olímpicos aconteciam na cidade de Olímpia e eram dedicados a Zeus; e os Jogos Píticos aconteciam em Delfos e eram dedicados a Apolo.

A concepção de atleta não surgiu do pacotinho que as redes televisivas embrulham e nos entregam. Não há como saber exatamente como surgiram, embora o mais provável seja que as habilidades que, ao longo do tempo, passaram a integrar a concepção de atleta que temos hoje sejam provenientes das atividades de agricultura, caça e defesa territorial. Vejam vocês, por exemplo, que os atletas gregos eram todos soldados. Bem, alguém já se perguntou, em uma época em que o ser humano tinha que fazer tudo para se sustentar, desde plantar sua comida até costurar as amarras dos próprios sapatos, como seria possível haver pessoas que em meio a tantos afazeres ainda encontravam tempo para treinar? É evidente que essas pessoas tinham quem fizesse o resto por elas para que se preocupassem com treinamento e não o treinamento para jogos e sim o treinamento para a guerra. Eu detesto destruir ilusões, mas eis o porque de fair play, união e espírito de equipe não passarem de jargões hipócritas: a concepção de atleta nasceu fundamentalmente atrelada à guerra, de forma que só pode haver um vencedor. Sem misericórdia. Sem altruísmo. Guerra é guerra. Bom, ao menos sempre foi assim que nós seres humanos, dotados de incrível inteligência, a concebemos não é?

Então, por favor, não me venham reclamar que os "coitadinhos" dos atletas brasileiros são injustiçados. Não são. Na Antiguidade, os atletas competiam pelas honras da consagração como herói junto ao deus cultuado. Vencer era muito mais do que ganhar uma rodela de ouro em volta do pescoço ou uma coroa de tempero em volta da cabeça; era uma questão muito mais de fé e respeito ao deus cultuado do que trazer pedacinhos de terra ou plantas para o país de origem. Hoje, ganhar significa justamente isso: quanto mais rodelinhas de metal você tem em volta do pescoço, melhor você é, melhor o seu país é. Eu me pegunto quem, em sã consciência, representaria com garra e determinação um país como o Brasil que se diz entre o Top Ten mundial enquanto jovens chegam ao ensino médio sem saber juntar letras para formar palavras. Quando eu digo isso, muita gente me diz "não misture as coisas, uma não tem nada a ver com outra". Não mesmo? Eu discordo. Para mim tudo tem a ver com tudo no sentido em que ainda pensamos o Brasil, como Estado-nação. De que adianta, por exemplo, investir todo o PIB em olimpíada e copa, se isso significa negar infraestrutura necessária ao país? Eu sempre me pergunto o que o Brasil ainda quer provar para os gringos, uma vez que eles já sabem que nossa "cultura" se resume e bunda gostosa, futebol e samba.

Vamos parar de ficar com dozinho de atletas olímpicos. Eles sabem no que se meteram e porque estão lá, ninguém foi buscá-los em casa dizendo "por favor, compita pelo Brasil, nós precisamos de você". Todos e cada um deles sabe que ao decidir pelo nível mundial, a seleção começa muito mais pelo bolso do que pela habilidade, dedicação e treinamento. Olimpíada é coisa de rico e se o atleta não tem como se bancar, sinto muito, mas o Estado está pouco se lixando para isso. O que importa para a imagem do Brasil, em termos de olimpíadas, é o quantum de Au-197 os atletas irão trazer. Se trouxerem bastante, ótimo, somos os melhores. Se trouxerem pouco, ninguém vai consolá-los ou dizer "eu acredito em você", porque serão vistos como desperdício de grana e, infelizmente, o dinheiro, o mercado e as finanças são capazes de superar qualquer marca olímpica. Então atleta, por favor, pare de competir pelo Brasil e compita por você, porque o mérito da vitória tem que ser seu e não de uma nação que não o apóia e, ainda assim, cobra rendimento.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

COMISSÃO DA VERDADE É O CARALHO!

Então a tal da """""""""""""""""""Comissão da Verdade"""""""""""""'' foi """""aprovada""""". Ótimo! E nada mais justo do que começar, é claro, pela apuração dos crimes (?) das vítimas das ditaduras entre 1946 e 1985. Nada mais justo do que começar por onde? Pela esquerda, ora essa!. Eu não sei nem o que dizer diante da reportagem da Folha de São Paulo desta quarta-feira, 16/05/2012, sobre essa farsa muito mal montada intitulada de "Comissão da Verdade" (vejam o link no final da postagem). Eu fui obrigado a parar tudo o que estava fazendo para manifestar o meu repúdio, para dizer o mínimo, diante dessa chusma de filhos da puta que estão brincando com a história.

Essa merda já começou mal, e muito mal diga-se de passagem. Minha opinião quanto a isso é uma só: se for para ficar brincando de passa-anel e depois de pega-pega, é melhor nem começar. Dito de outra forma: para que mexer com o passado senão para acertar as contas com ele? Se é apenas para deixar os cardíacos como eu em estado ainda mais crítico, então é melhor deixar toda essa merda na latrina em que se encontra agora: alguma gaveta fétida, de alguma sala imunda em uma sala de lugar nenhum. Essa porra dessa comissão da puta que pariu não vai punir os responsáveis pelos crimes de lesa-humanidade, mas apenas vai trazê-los a público, evidentemente, porque uma parcela considerável deles ainda está viva (pelo menos aqueles do período entre 1964-1985). E esta é, também, a razão pela qual protelou-se e negociou-se tanto para que fosse aprovada. O resultado, pelo que tenho observado, é que essa vai ser mais uma daquelas marolinhas, mais um daqueles surtos, mais um daqueles espasmos de mudança na história brasileira. Nesses momentos Caio Prado Júnior e seu livro História Econômica do Brasil visitam a minha mente: surtos de desenvolvimento; surtos de riqueza; surtos de mudança; surtos, surtos... somente surtos.

Abaixo o link apenas da manchete na Folha online. Eu recomendo a todos e a todas que, se possível, comprem o jornal e leiam a reportagem na íntegra.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

NAZISMO PARTE I

Há algum tempo, venho sendo acometido por um estranho sentimento que, embora suportável, está sempre visitando os recônditos mais profundos e sombrios da minha mente exortando-me ao dever. Não é, absolutamente, um sentimento ruim, mas um chamado a cumprir certas promessas que fiz a mim mesmo há muito tempo atrás. Por fim, decidi que devia seguir minha natureza e levar a cabo esta empreitada. Decidi, ainda, que vou fazê-lo em diversos volumes, dividindo em vários posts esta breve ontologia do nazismo.

O que espero de vocês, internautas, que aqui chegaram e prestigiam meu humilde blog? Paciência. Compreensão. Eu espero que as linhas que escreverei a seguir não se tornem um mote para extremismos, mas que sirvam, minimamente, para trazer tão somente um ponto de vista a somar aos incontáveis já existentes. Além disso, espero que vocês contribuam com suas opiniões a respeito do que escreverei.

NAZISMO – PARTE I
A pré-história

Não vou me deter em definir um conceito de nazismo... por enquanto. Antes, porém, de mergulhar nesse mundo obscuro e repleto de inconsistências, talvez seja interessante analisar o contexto em que o nazismo ocorreu. Para isso, convido a todos a atrasar o tempo para o século XIX, no período histórico conhecido como Imperialismo ou Neocolonialismo, proporcionado pela segunda Revolução Industrial, em que o ideal de produção em massa havia se alastrado de tal maneira pela Europa que o continente ficou pequeno para as emergentes potências industriais, encabeçadas por Inglaterra, França, Alemanha e Bélgica e, posteriormente, aderido pela Rússia e Itália. Duas outras nações vinham na mesma marcha, porém, caminhavam a espreita: na América, EUA, e na Ásia o Japão. O que estava em jogo era o controle do Mundo [só pra variar], de forma que o vencedor dessa corrida industrial ditaria os rumos históricos [acha?!]. É importante, aqui, pensarmos o conceito de controle do mundo em todos os termos possíveis: econômico, evidente, mas também político, social e cultural. Na verdade, o vencedor daquela corrida desmedida por expansão e lucro seria capaz controlar o poder dos demais e dizer-lhes o que pensar, como agir, ditar-lhes rumos independentemente das suas aspirações internas, impor costumes, fazer regras etc. Até aqui, como vocês já devem ter percebido, nenhuma novidade. Em termos históricos, esse sempre fora o rumo das grandes conquistas empreendidas pelo homem. Apenas um único fator marcou a diferença entre aquelas potências e decidiu os rumos da humanidade a partir de então: a indústria bélica. É claro. Cada uma das potências manipulava diversas técnicas de industrialização de metais e possuía a capacidade de transformar esse potencial em produção de armamento em massa. E não duvidem de que estavam dispostas e utilizá-las sob os auspícios da soberania nacional e da supremacia racial, razões de fato utilizadas por todas elas para expandirem suas fronteiras extra-continente e que, em um futuro não muito distante dali, serviria também para justificar as mais terríveis e abomináveis atrocidades.

A corrida expansionista atravessou o Mediterrâneo, encontrando em seu caminho a velha África, onde as potências acharam por bem estabelecer suas, digamos assim, “bases” de exploração. Indo um pouco mais adiante, entraram também no território asiático, estabelecendo suas “novas colônias” na Índia, nos Tigres Asiáticos etc. Aproveitando a deixa, o Japão entrou em guerra com a China e dominou a região da Manchuria e suas rotas comerciais. Começava, então, um dos períodos mais funestos da história, sob o estandarte da exploração e do racismo por parte de países que se auto-intitulavam “civilizados”. Sim... Milhões de vidas sacrificadas em nome daquilo que se convencionou chamar “progresso”, transmutado depois para “civilização”. Mas, por que África e Ásia? Houve na Europa, em meados do século XIX um movimento chamado Evolucionismo, erroneamente atrelado a teoria da Seleção Natural de Charles Darwin. Esse movimento, apropriado pelos donos do poder, passou a entender o desenvolvimento humano como uma marcha em linha reta atravessando etapas de desenvolvimento, do primitivo ao civilizado. Estabeleceu-se, evidentemente, padrões sociais do que se entendia por “civilizado” a partir do estilo de vida europeu, mais precisamente, o estilo inglês, uma vez que a Inglaterra atravessava a sua primavera histórica conhecida como Era Vitoriana. Partindo desse recorte, estabeleceu-se a primitividade como sendo tudo o que diferia dos tipos sociais ingleses de base aristocrática: o gentleman e a lady. É válido dizer que havia pouquíssimos gentlemen e quase nenhuma lady além da Europa, então, curiosamente, africanos e asiáticos foram considerados exatamente o contrário, razão esta utilizada pelos europeus para legitimar suas ações extra-continentais.

No final do século XIX, as potências européias decidiram que a África e a Ásia seriam partilhadas, pelo fato de que as potências que possuíam colônias naquelas terras, em virtude da sua expansão desmedida, começaram a invadir territórios pertencentes a outros países. Contudo, um país que vinha em contínua marcha de crescimento, sentiu-se prejudicado nessa partilha, dada a escassez de territórios. Este foi o estopim da Primeira Guerra Mundial, que colocou europeus contra europeus em um dos maiores genocídios da história da humanidade. O confronto central se deu entre dois grupos: a Tríplice Aliança  encabeçada por Alemanha, Império austro-húngaro e Itália, países estes que se sentiram lesados na partilha da África e Ásia, versus a Tríplice Entente regida por Inglaterra, França e Rússia, os quais juntos detinham a maior capacidade industrial.

Dentro desse conflito, outros propósitos que estavam latentes havia séculos, foram vomitados na face da terra por parte de cada um dos países envolvidos: nacionalismo, xenofobismo, vinganças as mais diversas, poder, questões políticas, rixas internas e externas etc. Mas o confronto tomou tamanhas proporções devido ao fator armamentista e acabou por fugir ao controle dos envolvidos. Quando se deram conta, a “civilizada” Europa estava em ruínas e nenhum dos países envolvidos poderia voltar atrás, sob pena de extinção. Não havia retorno: teriam de lutar todos até o último homem se fosse preciso. Porém, ironicamente, nenhum dos países combatentes alcançou aquilo que tanto almejava, nenhum deles conseguiu o domínio do mundo. Foi um outro país, dotado, é preciso reconhecer, de exímios políticos e negociantes implacáveis, que deu o maior chapéu da história, transformando a Guerra Mundial em nada além de lucro e fazendo os europeus vítimas das suas próprias artimanhas liberalistas: os Estados Unidos da America, cujo período de quatro anos de guerra entre europeus foi mais do que o suficiente para que se transformasse na maior potência da terra e submetesse todos os “civilizados”, um a um, enquanto se digladiavam vorazmente. Bem, se os EUA foram os verdadeiros vitoriosos da guerra, é claro que houve a contrapartida, o perdedor, o bode expiatório: a Alemanha. Como os europeus estavam reduzidos, literalmente, a pó e não poderiam, mesmo que se unissem, guerrear contra os EUA, se contentaram em espoliar a Alemanha, assinando em 28 de junho de 1919 o Tratado de Versalhes, o armistício mais desprezível da história da humanidade. A Alemanha foi dividida entre Capitalistas e Socialistas; perdeu o direito de exploração dentro e fora de suas fronteiras; perdeu os territórios que tinha na África e Ásia; foi proibida de formar exército; e teve de pagar indenizações à Tríplice Entente e seus aliados. Isso tudo, somado a um país reduzido a, praticamente, cinzas. A Alemanha foi humilhada, foi ferida em seu brio de nação, perdeu seu rumo e foi entregue a terceiros por muitos anos.

Mas, a Tríplice Entente, ao reduzir uma potência industrial a espólio de guerra, não levou em consideração três fatores históricos que sempre foram decisivos nos destinos da Europa: o orgulho, a obstinação e a frieza germânicas.


Continua em NAZISMO – PARTE II: o despertar de um líder...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Em breve (coming soon)


Um post sobre o nazismo

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal

Quando eu era criança, o Natal tinha um significado diferente do que tem hoje. A começar pelo clima da época. Eu me lembro que, nos anos 1990, passei poucos Natais sem chuva. Nos últimos dez anos, me lembro de um ou dois Natais chuvosos. Mas, falando de clima, não é apenas o clima do tempo que era diferente, mas o clima em relação às próprias pessoas. Todos se preparavam para as festas, todos se convidavam para inúmeros encontros, fazíamos amigo secreto (os cariocas chamam de "amigo oculto", provavelmente só pra colocar um "cu" onde não tinha).

Na faculdade eu fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que, a bem da verdade, simplesmente desconhecem o Natal, o que se deve à uma questão simplesmente cultural: sendo o Brasil um caleidoscópio de nações, é mais do que natural que muitas pessoas não estejam nem aí pro Natal. Ainda assim, aquilo me espantou. Eu sempre fui acostumado a viver um clima de reunião nos Natais. Mas, infelizmente, o mundo não é assim. As pessoas não querem se reunir umas com as outras. Estamos cada vez mais ocupados, cada vez mais ricos e cada vez mais distantes. Não nos preocupamos conosco mesmos nem com nosso futuro. Para nós, a natureza que se foda, porque o mundo precisa "progredir"... Fiquei seis anos na graduação e agora vou para o mestrado sem saber que diabos significa essa palavra. Três sílabas... apenas três sílabas são a justificativa para guerras, morte, destruição, desespero, inflecidade.

Muitos perguntam "para que serviu o Natal desde que foi criado?". Eu pergunto: o que seria do mundo se não tivesse havido nenhum Natal? Estaríamos aqui hoje? Como é possível parar máquinas de fazer dinheiro? Antigamente, sangue inocente seria a resposta. Hoje em dia, nem isso mais. Não há absolutamente nada que seja capaz de parar ou ao menos limitar o domínio que o dinheiro e o poder exercem sobre os seres humanos.

O Natal, apesar de ser sim uma festa comercial e mais uma fonte de riqueza pra quem vive da exploração das pessoas, traz, ainda que praticamente extinta, uma chama de alento aos nossos espíritos. O mundo não tem mais encanto. Aquela sensação de magia que eu sentia quando criança, nas apenas no Natal, mas todos os dias, por mais que eu queira, por mais que eu busque desesperadamente, não sinto mais. Aquele cheiro de dia de Natal se extinguiu, e eu temo que para sempre. O espírito do Natal parece ter deixado este mundo. Tudo o que nos resta são pistas, rastros que em breve serão cobertos pelo pó que compõe este mundo.

Se você concorda ou discorda de mim, não importa. Apenas não se esqueça que o Natal, apesar do que possa parecer nesse mundo desencantado, tem um significado muito mais profundo e muito mais abrangente, que, inclusive, vai muito além até mesmo do que a igreja nos ensina. Meu desejo é que em algum momento da sua vida você encontre esse significado, independente de crença, e sinta o que eu sinto quando é Natal.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Pensamento do dia. Tenha um bom fim de semana!

O mundo dos seres humanos não é tão diferente do mundo dos animais: aqui sobrevive o mais forte, aquele que tem poder simbólico o suficiente para fazer frente aos demais. Poder simbólico. Esta é a grande diferença entre os dois mundos, o dos animais e o dos seres humanos: entre estes vale o símbolo de poder; entre aqueles vale o mais forte, que comprova sua superioridade física corpo-a-corpo. 

Não somos animais. Somos homens e mulheres. Somos diferentes dos animais em muitas coisas; em outras somos semelhantes a eles; e em algumas somos idênticos. Um exemplo de diferença: não precisamos nos morder até a morte para provarmos nossa força. Um exemplo de semelhança: demarcamos território com papéis, cores e muita conversa afiada ao invés de mijo. Um exemplo em que somos idênticos: quando em grupo, precisamos reconhecer ao menos um líder*.

Entretanto, muito embora não precisemos nos morder para demonstrarmos força e nem mijar na terra para demarcar território, nos sujeitamos a fazê-los em nome de um líder... ou para sermos o líder.
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* Na mitologia grega, Quiron não reconhecia nenhuma liderança porque era um centauro: uma espécie de híbrido, um ponto de convergência entre seres humanos e animais, uma síntese, portanto. A representação de Quiron, como arquétipo da figura do centauro, aparece na iconografia tendo a parte humana acima da parte animal, denotando um ideal de supremacia da razão sobre o instinto. Quiron é o grande mestre de várias das mais célebres figuras mitológicas gregas, como Zeus, Hércules e Aquiles, porque está em um ponto extremamente estratégico: 1) é um ser divino, portanto, goza de imortalidade; 2) é metade homem e, como tal, representa o ideal grego de perfeição humana: sabedoria, inteligência e espiritualidade; 3) é metade animal, agregando, além das habilidades de desenvolvimento dos sentidos, força e agilidade próprias dos animais, a capacidade de compreender a própria linguagem natural. Quiron representa, em si, um portal que dá acesso a vários mundos diferentes, sendo ele mesmo a própria chave desses portais, razão pela qual é mais representado como líder do que como liderado.

domingo, 13 de novembro de 2011

OCUPAÇÃO DA USP

O movimento estudantil é legítimo, mas não podemos nos esquecer de que ele é um movimento fundamentalmente político. Existem lugares específicos para se fazer política em uma democracia e, sinto informar, a universidade não é um deles. O ambiente universitário é um lugar para reflexão, debates, discussões, descoberta, formação. O erro desses amontoados de estudantes ridículos que se auto-denominam "movimento estudantil" é fazer da universidade um ambiente político. Estudantil só porque é formado por estudantes? Para eles, é muito fácil, muito tranquilo invadir um prédio de reitoria, onde há ar condicionado, copa, banheiro, móveis confortáveis para se acomodarem, telefones, computadores etc. Por que não barraram a entrada na portaria? Por que não enfrentaram as borrachadas da polícia "mano-a-mano"? Eu pergunto e eu mesmo respondo: porque seu movimento não têm lastro político e porque são um bando de covardes.

Isso é movimento estudantil? Desculpem, eu jamais admitiria ser representado por um bando de arruaceiros. Movimento estudantil foi o dos anos 1960 e 1970, que fizeram política fora da universidade, poupando o centro de formação dos conhecimentos de ser exposto ao ridículo e perder credibilidade diante da sociedade. Esses estudantes se esqueceram de que nem todos os servidores da USP compartilham dos ideais do seu reitor. Tomando uma atitude como a que tomaram, os estudantes acabam atingindo inocentes, além do custo aos cofres públicos para restauração da reitoria.

Agora me digam: onde está o partido que representa a classe estudantil? ELE NÃO EXISTEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!! E sabem por que não existe? Porque até mesmo o universo da política, com sua ética elástica, se recusa a acolher um bando de baderneiros que não buscam legitimar o seu movimento antes de saírem por aí invadindo e depredando prédios públicos.
Quanto a polícia no CAMPUS, qual o problema? A USP é uma instituição do Estado; a PM também... A razão de existência da universidade PÚBLICA é a defesa dos interesses do Estado; o da PM também... então, por que a recusa por parte dos estudantes? Eu mesmo respondo... aqui, no Brasil, infelizmente, o estudante vai para a universidade pensando ser um lugar mágico, um universo paralelo completamente apartado da sociedade. Quanta ingenuidade, quanta mentira... Os calouros não vão à universidade para estudar, mas para festejar o fato de terem passado no vestibular; os veteranos, por sua vez, que deveriam zelar pela reputação da universidade e trazer os calouros à realidade, os encorajam a arrecadarem dinheiro nas ruas para passarem a noite bebendo e fanfarreando... será mesmo que eles tem tanta razão assim? Será mesmo que eles são as pobres vítimas de políticas arbitrárias? A julgar pelas reivindicações, eu duvido. Ao invés de exigirem políticas eficazes de segurança junto ao governo do estado de São Paulo, não... eles apenas querem tirar a PM do campus, sob o pretexto imbecil de perda de liberdade. Liberdade para quê, cabe indagar. Que tanta liberdade o estudante brasileiro quer ter dentro da universidade? Liberde em relação a quê? Nem eles sabem... querem apenas ser livres, não sabem do que e nem por que, mas querem ser livres.

E no fim, tiveram que sair a força, gritando, berrando "injustiça", chorando lágrimas de crocodilo. Tudo em vão. Como adolescentes na puberdade, esses estudantes apenas chamaram a atenção e conseguiram a reprovação das suas atitudes. Amigos estudantes, por favor, não percam seu tempo com invasões. Organizem-se politicamente e reivindiquem seus direitos nas instituições superiores legais... cobrem dos deputados e senadores que elegemos a devida base política para o movimento que foi  a única coisa que faltou para a invasão poder ser chamada de legítima... e isso fez toda a diferença.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O BRILHO DA ALMA

Eu formo amizades não por arquétipos nem interesses, mas pelo brilho da alma. Existem almas de múltiplas cores: castanhas; cor-de-mel, quase amareladas... outras são acinzentadas; algumas são exóticas: verdes, azuis; outras são mutantes: verdes e azuis; castanhas e acinzentadas. Existem, também, as almas negras.



O brilho da alma é o brilho do olhar e este revela a profundidade da alma. Não é, portanto, a cor da alma que me instiga, mas a intensidade do seu brilho. As almas apagadas e foscas não me interessam... fico com aquelas tão brilhantes que, ofuscando  o brilho da minha, forçam-me a intensificá-lo mais e mais. Quanto às almas apagadas e foscas, resta-me apenas estender uma faísca, um lampejo.

A alma lavada não é necessariamente limpa, assim como os olhos lacrimosos não denotam apenas a tristeza. Nem as brilhantes são necessariamente boas, da mesma maneira que as foscas  não podem ser consideradas totalmente ruins.

As almas ao meu redor são um misto de paradoxos sem sentido,  cores e brilhos inumeráveis, formas e traços indefiníveis... uma junção de peças desconexas que se conectam apenas pelas frestas. Essas são a minha própria alma.


(este texto é uma leitura, de minha autoria, do poema "Loucos e Santos" de Oscar Wilde).

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

INJUSTIÇA SOCIAL

Um dia desses logo pela manhã, estava eu indo em diereção à senzala... digo... ao trabalho, quando me deparei com uma senhora, aparentemente bastante idosa, parada sob uma árvore, esperando por alguém ou alguma coisa. Como sempre, eu estava com pressa de chegar ao trabalho [sim, eu bato cartão de ponto] e, bem na hora que eu passava pela senhora ela resolveu que deveria ir, me obrigando a diminuir o ritmo da caminhada. Em um primeiro momento, confesso que fiquei um pouco aborrecido com a diminuição súbita, mas isso me fez pensar.

Vivemos em um momento pautado pela emergência, pela urgência. Mas de quê? Por que temos sempre a impressão de que estamos no último segundo para tudo? Stuart Hall (A identidade cultural na pós-modernidade. DP&A: 2006) aponta, dentre outros fatores, a tal da globalização. O encurtamento das distâncias provocado pela criação de uma "aldeia global", em que o mundo está sempre em conexão, transformou drasticamente a noção que temos de dois pontos-chave da vida moderna humana: o tempo e o espaço. E se as idéias de tempo e espaço sofreram mutações, uma outra idéia também se tornou "híbrida", digamos assim, e não comporta mais os significados que tinham até, mais ou menos, meados da década de 1990: a idéia de lugar.
O tempo está diferente; o espaço está diferente; a idéia de lugar está diferente. No entanto, as pessoas de mais idade, digamos as das gerações entre o final de década de 1940 e meados da de 1950, que hoje tem aproximadamente entre 55 e 60 anos, dificilmente conseguem acompanhar essas mudanças de caráter, permitam-me dizer, puramente abstrato. Ou seja, não é possível distinguir tempo, espaço e lugar, mas essas idéias são fundamentais para ciências como a Física e a Geografia. Na verdade, eu desconfio de que as pessoas daquelas gerações se recusam deliberadamente a acompanhar essa mudanças, simplesmente não aceitando se metamorfosearem [nem sei se essa palavra existe]. Digo isso com base na convivência com meus pais.

Então, me parece que o choque da emergência dos mais novos com a paciência [necessária] dos mais velhos, provoca um sentimento de confusão em ambos: de um lado, o mais jovem não entende o que leva um idoso a andar tão devagar, ou a acordar as 5h da manhã; o idoso, por sua vez, não entende porque o jovem tem tanta pressa, tanta urgência em fazer sabe-se lá o quê. Esse choque está diretamente relacionado à noção de utilidade de um de outro diante da sociedade. Esta, infelizmente, ainda atrela de maneira vital a noção de utilidade com a noção de trabalho, de forma que quem não trabalha, seja por vagabundagem, falta de emprego ou mesmo porque já trabalhou os 35 anos necessários à aposentadoria, é considerado socialmente inútil, reduzido a um "gasto desnecessário". Isso é o que Stuart Hall chama de "tradução", esse ato de se reduzir certas noções ao mesmo patamar [antigamente, nas ciências sociais a gente chama isso de "nivelar por baixo"... hoje eu sinceramente não conheço uma gíria científica específica pra isso... acho que estou ficando velho]. Por outro lado, o jovem, por possuir atributos que ainda podem ser explorados pela sociedade é o parâmetro para estabelecer usos e desusos.

Eu discordo veementemente dessa idéia de que ser útil é ser trabalhador. A função do trabalho, de acordo com Marx, é a produção para a sobrevivência. Acontece que tem sempre um filho da puta que se apropria dos meios de produção e quer superfaturar essa produção para ganhar mais. São esses filhos da puta que fizeram com que a utilidade do ser humano fosse tornada sinônimo de trabalho. E vejam que aqui me refiro a todo tipo de trabalho, em especial ao trabalho alienado. Um paradoxo interessante, uma vez que na Grécia antiga o movimento seguia na via exatamente contrária: o ócio era a referência para a cultura, para o pensamento e, evidentemente, para a utilidade do ser humano. Mas esse ócio não era um simples "não fazer nada da vida" e sim um tempo de reflexão [essa é a chave da filosofia grega]. O mais velho era o parâmetro para usos e desusos e, exatamente por isso, era respeitado pela sua vivência e sabedoria.

Hoje o mais velho é, por definição,  aquele que atrapalha o desenvolvimento, é a pedra no sapato, é a barreira a ser vencida e não me refiro apenas ao ser humano. As noções pós-modernas, de uma maneira geral, não comportam, de forma alguma,  nada que lhe pareça obsoleto. Os processos não se concluem... não que algum processo algum dia tenha se concluído, eles sempre se transformam. Acontece que o tempo necessário inclusive para isso mudou: as transformações processuais são muito mais rápidas, fazendo com que o novo nasça, praticamente, obsoleto. 

Ô pós-modernidade do caralho! Tira o pé da minha vida!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

"POLEMICUZINHA"

Tem um zumzum aí de uma "polemicuzinha" envolvendo um certo comentário do humorista Rafinha Bastos a respeito do filho [ou da filha, sei lá!] de uma certa [pseudo] cantora. Há certas coisas neste país que são para "azular a porta do cu": todo o estardalhaço midiático em torno dessa história não é porque ele fez uma piada com uma criança, nem porque isso teria atingido a tal [pseudo] cantora, mas porque ela é esposa de um grande empresário aí. Como o Rafinha Bastos já se pronunciou a respeito e Marcelo Tas também teceu algumas palavras sobre o ocorrido, penso que escrever a minha opinião como deveria é como chover no oceano.

Mesmo assim eu vou dar a minha opinião! O humor é uma sátira da vida e esta não tem sentido sem uma dose de humor. A vida é, de alguma maneira, o humor de cada dia e quem não vive com certa dose de humor não está vivendo, mas apenas caminhando para a morte. Ao ofendido, a retratação; ao ofensor, o direito de ser ouvido; e à sociedade... bem... a sociedade que se foda, porque essa maldita hipócrita fecha os olhos para aquilo que deveria realmente enxergar e prefere ficar fingindo orgasmos em meio a panis et circenses como esse!

sábado, 1 de outubro de 2011

EI VEJA... VAI TOMAR NO CU!

"Ensino obrigatório de Filosofia e Sociologia nas escolas públicas: Em vez de empreender um esforço para melhorar o quadro lastimável da educação brasileira, o governo se empenha em tornar obrigatórias disciplinas que, na prática, só vão servir de vetor para aumentar a pregação ideológica de esquerda, que já beira a calamidade nas escolas". (In: Revista Veja, ed. 2236, 28/09/2011, p. 93, grifos do autor deste post).
Particularmente, eu nunca me importei, não me importo e jamais me importarei com as opiniões expressas por esse excremento publicado pela Editora Abril ("Abril" o quê? "ABRIL" O CU! Porque só sai merda). Tampouco me importa o fato dessa opinião ser corroborada na íntegra por uma certa parcela da sociedade, porque convenhamos: essa é a opinião das camadas ricas e, uma vez que a política gira em torno delas, é por extensão a opinião dos políticos brasileiros. Enquanto sociólogo isso não me impressiona porque eu me preparei para isso durante o tempo de graduação, inclusive digo a vocês que muitos dos sociólogos e sociólogas que estudaram comigo partilham da mesma opinião da revista excremento. Em suma: foda-se a veja, os seus pseudo-jonalistas, pseudo-colunistas e pseudo-comentaristas. Eu já disse em um post anterior e repito: a veja expressa opiniões burras para uma classe burra que se veste de culta.
O que realmente me preocupa é o fato dessa revistinha de bosta ter estendido a calúnia à área da Filosofia. Bem, senhoras e senhores responsáveis pelo corpo editorial da veja, uma dita como essa apenas poderia vir de mentalidades tacanhas como as suas mesmo. Eu disse mentalidade? Por favor, me perdoem. Afinal eu não posso esperar que seres que possuem exoesqueleto tenham uma mente. Isso que vocês veicularam no papel higienico publicado por vocês demonstra uma incrível capacidade de fazer e dizer merda, em todos os sentidos. Estamos em 2011 e vocês juram que ainda culpam a esquerda pelos males da humanidade? DE QUAL ESQUERDA VOCÊS ESTÃO FALANDO? AONDE, NESTE PAÍS, TEM ESQUERDA? Não sei se os senhores sabem, mas a esquerda se desmanchou no ar junto com o muro de Berlim. Esquerda simplesmente não existe mais. E aqui quem está afirmando isso categoricamente é um sociólogo. Agora, de onde tiraram que a esquerda nas escolas já beira a calamidade, sinceramente, eu queria muito descobrir. Só pode ser do manual de instruções do Hyundai Elantra, não é verdade? Quanta falta de imaginação. Quanta falta de informação, o que é ainda pior.
Desculpem, acho que exigir capacidade de um corpo editorial de tão tacanha revista é exigir demais. Afinal, os seus leitores nem sabem o que isso significa porque, como vocês mesmos disseram, a educação é lastimável. Mas isso se estende ao corpo editorial da veja também, porque eu presumo que os seus componentes estudaram e se formaram nessa educação lastimável. A própria reportagem é prova disso.
Bom, resumindo o que tenho a dizer é isto:
EI VEJA, VAI TOMAR NO CU! E aqui quem está falando é o ser humano, o cidadão, o trabalhador, o estudante, o pai de família: o filósofo e sociólogo nas horas vagas.