segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Música brasileira (só que não)...

Acabei de ler uma entrevista do Lobão (http://www.elhombre.com.br/lobao-joga-ventilador-el-hombre/). Eu não gosto das músicas do Lobão. Particularmente, sempre achei que ele fosse um reacionariozinho enrustido. No entanto, não posso deixar de concordar com a opinião dele sobre a música brasileira, no seguinte sentido: há muito tempo que a imundície sonora polui os meus ouvidos. Eu não suporto mais ligar o rádio ou a TV e ouvir/assistir sempre a mesma merda em termos de "atrações" musicais. De fato, qualidade nunca foi uma preocupação da mídia brasileira porque o público não é exigente: se aceita o que se oferece. Ninguém discute. Ninguém opina. Parecemos um bando de vaquinhas de presépio, simplesmente abaixando a cabeça e dizendo "amém" pra tudo que vemos e ouvimos.

Até hoje, penso que só tivemos surtos de qualidade na música brasileira e começou com a Bossa Nova, um movimento interessante e proposto a um projeto realmente inovador: introduzir o jazz. Mas, infelizmente, os artistas dessa leva ou eram somente bons letristas ou somente bons instrumentistas e isso, a meu ver, prejudicou ao longo do tempo o desenvolvimento desse estilo que se tornou absurdamente erudito, fechado e sem espaço para inovação. A Tropicália tentou uma proposta muito legal e, no início, foi bem sucedida, trazendo algo bastante inovador e que tendia à popularização. No entanto, em determinado momento criou-se um cânone de "intocáveis" e a qualidade da música se perdeu paulatinamente, porque caiu na mesmice e depois na chatice. A Jovem Guarda tinha, por outro lado, uma capacidade peculiar de movimentar a juventude brasileira e, no início, isso deu muito certo. A introdução do rock n' roll no Brasil foi um feito memorável, mas, de repente, o seu maior expoente se rendeu ao mercado musical, causando uma fratura tão grande que nenhum dos músicos desse movimento conseguiu jamais se recuperar.

Nos anos 1980 e 1990, ao contrário, muita gente fez coisa muito boa: muita gente nova surgiu e alguns dos antigos amadureceram e foi o período em que a música no Brasil se remodelou. Parecia que tudo se encaminhava pra um desenvolvimento musical no melhor sentido possível. Entretanto, a partir de meados dos anos 1990, só existe uma expressão que seja capaz de definir o sentimento que tenho: QUE PORRA É ESSA? De uma hora pra outra não existe mais trabalho musical; a letra perde cada vez mais espaço pro ritmo nas composições; os temas se tornam cada vez mais simplórios; os instrumentistas e os vocalistas não se experimentam mais. Não há, enfim, mais espaço pra duas coisas fundamentais no trabalho artístico musical: exploração e experimentação.

O problema, então, não é o funk, nem o sertanejo, ou o pagode, ou o samba, ou a MPB, porque cada um desses estilos musicais constitui uma parte importante e valiosa da cultura musical brasileira, tecendo uma história caleidoscópica dessa cultura. O problema é que cada um desses estilos musicais está estagnado e não dialoga com os demais. Cada um segue o seu caminho, como se não existisse mais nada ao redor, como se não houvesse um "ao redor". Se isso continuar, de fato a música brasileira não vai passar de uma sombra mesmo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O MPL E A VIOLÊNCIA

Antes de tudo, um mea culpa. Eu, sinceramente, não achava que os brasileiros seriam capazes, na contemporaneidade, de uma mobilização dessa magnitude. Que bom que eu mordi minha língua, que bom que eu me enganei. Ainda há esperança e isso me fez acreditar que é possível construir um país melhor. Eu agradeço aos manifestantes por mostrarem isso de forma muito legítima. O Movimento Passe Livre (MPL) foi o grande estopim dessa onda de manifestações que observamos no Brasil, mas aos poucos estão vindo à tona outras questões que permaneceram latentes durante muito tempo, dentre as quais notadamente a corrupção e as polêmicas de gênero causadas por Marcus Feliciano e toda a chusma que compõe a bancada da assembléia de Deus no Congresso. Os cidadãos brasileiros utilizaram o seu direito e o seu dever democráticos de manifestação legítima.

O problema é que a mídia inescrupulosa, sempre reacionária, sempre de rabo preso com o poder, ao invés de evidenciar a pauta de reivindicações da multidão comprometida com o protesto de forma séria e objetiva, fica evidenciando a violência. Não preciso dizer que a violência não deslegitima o movimento e explico porquê. Os reaças chamam de violência a agressão contra policiais e civis, a destruição de patrimônio público e privado. Bem, para falar disso eu me valho da definição de Renée Girard: a violência é uma situação que pode ou não se consumar em ato. E, por favor, não nos esqueçamos de Georg Simmel: a violência é uma das formas elementares de associação entre indivíduos. Portanto, o movimento é legítimo com ou sem violência.

Agora, se tem violência eu explico porquê. Os senhores políticos cospem na cara dos cidadãos todos os dias com sua corrupção desmedida e escancarada, isso não é violência? Uma mãe que tem que acordar cinco horas da manhã, com frio, calor, chuva, e enfrentar uma porra de uma fila pra marcar consulta pro seu filho, isso não é violência? Pessoas que morrem todos os dias nos hospitais largadas no chão, sem ao menos um leito pra apoiar seus restos mortais, isso não é violência? Um aposentado que passa anos sem reajuste no benefício, isso não é violência? Pessoas que são submetidas a regime de trabalho escravo, muitas delas crianças, enquanto os governantes fazem vistas grossas, isso não é violência? Os professores que são obrigados a carregar a educação moral dos indivíduos e enfrentar marginais em sala de aula com um toco de giz na mão, isso não é violência? Os policiais que, a mando dos governantes, descem a borrachada nos professores quando tentam lutar por condições mais humanas de trabalho, isso não é violência? Um político que supervaloriza uma obra que deveria servir ao público e enfia toda essa grana no bolso sem concluí-la e sem entregá-la devidamente funcionando a população, isso não é violência?

É claro que tudo isso corresponde a tipos diferentes de violência contra os cidadãos. Agora, me digam: por causa disso a política é deslegitimada? Por acaso os governantes perderam seu poder por não corresponder com as expectativas da população? Claro que não! A política ainda existe. Por outro lado, essas questões estiveram latentes por tanto tempo, que na situação atual propícia os indivíduos encontraram na violência uma das maneiras de se manifestar. E isso, por acaso, deslegitima as reivindicações? Quer dizer que todo o movimento se reduz a violência como mostram as coberturas jornalísticas? É CLARO QUE NÃO! Com ou sem violência, não importa, o fato é que os brasileiros resolveram cobrar os políticos e isso faz parte da democracia. Tanto é, que inúmeras cidades que haviam aumentado o valor das passagens de ônibus voltaram atrás! E os brasileiros e brasileiras estão de parabéns!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Por que precisamos de heróis

Galileu foi enfático: "infeliz a terra que precisa de heróis" (BRECHT, 1996). Os grandes heróis das histórias em quadrinhos norte-americanas surgiram no começo do século XX, entre as décadas de 1920 e 1940, período que o país era dominado pela "cosa nostra". E foi um período tão terrível, tão marcante na vida dos norte-americanos que o primeiro filme da trilogia O Poderoso Chefão (Paramount, 1972, 172 min) foi impedido pelo sindicato da indústria cinematográfica de usar a palavra máfia. Foi naquele momento que surgiram os heróis contemporâneos.

Mas, a necessidade de heróis é muito anterior aos Batman's e Superman's da vida. É claro que tudo começou lá na Grécia, mas a percepção grega de herói tem muito pouco a ver com o altruísmo dos mocinhos dos quadrinhos contemporâneos. Todo herói grego tinha medo de morrer sem deixar o legado do seu nome e dos seus feitos. Então, eles buscavam o que Jean-Pierre Vernant chama de "a bela morte" (VERNANT, 1979).

A "bela morte" é aquela que marca de tal maneira os rumos de uma batalha que o nome do guerreiro seria lembrado para todo o sempre. No momento da morte o soldado virava herói. Claro que há a toda a mística da mitologia grega, belíssima, em que os deuses elegiam o seus escolhidos e os conduziam a uma bela morte. E qual prêmio de um herói morto? Os Campos Elísios, o paraíso que somente os portadores da dádiva da bela morte poderiam alcançar.

Mas, por que nós que nos distanciamos quase 4.000 anos da Antiguidade ainda precisamos de heróis? Porque, no fundo, todos nós buscamos uma bela morte e queremos ser lembrados pelos nossos feitos. Por isso damos tanta importância aos referenciais, a quem fez o quê, quando e por quê. E, por isso, criamos os nossos vilões a nossa imagem e semelhança. No final, é o medo da morte que nos impulsiona e nos transforma.

Estamos, então, fadados a maldição de Galileu: somos infelizes porque precisamos morrer e fazemos de tudo pra que essa morte seja bela. Logo, fomos, somos e sempre seremos e precisaremos de heróis.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Vamos relembrar?

Bom dia minhas caras e meus caros!

Só tenho uma coisa a dizer nesta sexta-feira, e é bem rápido:

Se Raul Seixas tivesse vivido a década de 1990 ele, provavelmente, mudaria o nome da música "Aluga-se" para "Vende-se" e sua "musa inspiradora" não seria ninguém menos que FHC. Agora, deem uma olhada no link abaixo para relembrarem o que aconteceu com o Brasil naquela década por causa do FHC. Isso nunca deve ser esquecido.


Depois dessa leitura, muito básica e que pode ser feita em uma cagada rápida, leiam A privataria tucana (2011) do jornalista Amaury Ribeiro Junior. É leitura obrigatória para toda brasileira e todo brasileiro que desejam trilhar o caminho da consciência política. Abaixo da imagem, tem um link da Carta Capital com a resenha do livro.




quinta-feira, 4 de abril de 2013

Pessimismo

Bom gente, olá! Como esta é a primeira postagem do ano, nada melhor do que começar desejando um bom 2013 pra todo mundo. Que se foda o atraso, porque eu não tenho todo o tempo do mundo pra postar. E, cá entre nós, nunca é tarde para recomendar bons desejos não é verdade?

É curioso que, embora esperemos sempre algo de alvissareiro, nem sempre as coisas fluam como desejamos. Ocorreram alguns fatos nestes primeiros três meses do ano (já caminhando para quatro) bastante alarmantes, como todos devem ter acompanhado. O primeiro e mais terrível foi o incêndio na boate Kiss, na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, onde quase 250 pessoas morreram. Uma tragédia horrível. Depois, Renan Calheiros retorna do além e é novamente eleito para a presidência do Senado, seguido do detestável Marco Feliciano eleito para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Uma jovem inocente é vítima de estupro coletivo e morre depois passar dias agonizando. Anteontem a tarde, acontece o terrível acidente em que um ônibus caiu de um viaduto na Avenida Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, matando 7 pessoas. Puta que pariu velho, é tragédia atrás de tragédia!!

Mas, deixando um pouco de lado os entraves da vida, penso ser importante sempre esperar o melhor. Há alguns conhecidos meus que dizem o seguinte: "eu sempre espero o pior, porque se entre tudo o que der errado alguma coisa der certo, eu ainda saio no lucro". Esse tipo de pessimismo impede o andamento das coisas, porque reafirma o fato de termos sido educados para acompanhar o tempo dos homens que  é arbitrário e cruel. Outro dia eu estava chegando em casa e me dei conta de que saio para o trabalho pouco depois do sol ter nascido e retorno depois que ele já se pôs. Mas, que porra é essa? Eu não vejo o dia passar porque sou obrigado a ficar a terça parte mais importante dele trabalhando! Porra cara, quem inventou uma jornada de trabalho de oito horas diárias não tinha uma vida da qual gostasse. Isso sem mencionar as pessoas que trabalham em escala de doze horas. Vai se fuder! Será que o trabalho é tão importante assim? Isso é, pra mim, o maior exemplo da crueldade humana e, no entanto, a adesão a filosofias estúpidas como "o trabalho dignifica o homem" é unanimidade.

Depois de passar a parte mais interessante do dia trabalhando, chego em casa e ligo a TV e só o que as emissoras abertas tem a oferecer é panis et circenses: novelas estúpidas, reality shows nojentos, séries de "humor" sem graça, programas de auditório sem o menor sentido de existência. Vou, então, para a rede fechada e o quadro é o mesmo, exceto que além de somente pão e circo existe um pretenso toque de charme para que as ditas "classes emergentes" tenham a falsa sensação de que estão vendo na Warner algo de diferente do que passa na Globo. Digamos que seja uma refeição mais elaborada, algo como panis, vinum et circensem. Internet eu nem cogito. Evidentemente, eu desligo a droga da TV e abro um livro pra ler, só que a rua da minha casa é a única ligação do extremo sul da cidade com o resto do mundo. É uma barulheira infernal 24h por dia.

A única coisa que me resta é lutar pra transformar essa situação. Eu poderia, é claro, me revoltar e sair matando todo mundo, mas não creio que isso seria uma atitude sábia. Eu também poderia virar um revanchista e sair por aí pregando ideais de resistência, mas possivelmente ninguém me daria ouvidos. Embora eu me levante todos os dias com um profundo mal estar por ter de deixar o que mais amo, mesmo que por poucas horas (bem, nem tão poucas assim), eu tento me lembrar de que é necessário deixar o refúgio do lar e seguir adiante, ainda que esse "adiante" seja apenas um eufemismo para o desconhecido. Não fui eu que fiz as regras, mas é possível modificá-las desde que eu as conheça, as entenda e as faça trabalhar a meu favor. Eu sei: é mais fácil falar do que fazer. Mas, acredite: ser pessimista não é uma saída interessante.