sexta-feira, 26 de abril de 2013

Por que precisamos de heróis

Galileu foi enfático: "infeliz a terra que precisa de heróis" (BRECHT, 1996). Os grandes heróis das histórias em quadrinhos norte-americanas surgiram no começo do século XX, entre as décadas de 1920 e 1940, período que o país era dominado pela "cosa nostra". E foi um período tão terrível, tão marcante na vida dos norte-americanos que o primeiro filme da trilogia O Poderoso Chefão (Paramount, 1972, 172 min) foi impedido pelo sindicato da indústria cinematográfica de usar a palavra máfia. Foi naquele momento que surgiram os heróis contemporâneos.

Mas, a necessidade de heróis é muito anterior aos Batman's e Superman's da vida. É claro que tudo começou lá na Grécia, mas a percepção grega de herói tem muito pouco a ver com o altruísmo dos mocinhos dos quadrinhos contemporâneos. Todo herói grego tinha medo de morrer sem deixar o legado do seu nome e dos seus feitos. Então, eles buscavam o que Jean-Pierre Vernant chama de "a bela morte" (VERNANT, 1979).

A "bela morte" é aquela que marca de tal maneira os rumos de uma batalha que o nome do guerreiro seria lembrado para todo o sempre. No momento da morte o soldado virava herói. Claro que há a toda a mística da mitologia grega, belíssima, em que os deuses elegiam o seus escolhidos e os conduziam a uma bela morte. E qual prêmio de um herói morto? Os Campos Elísios, o paraíso que somente os portadores da dádiva da bela morte poderiam alcançar.

Mas, por que nós que nos distanciamos quase 4.000 anos da Antiguidade ainda precisamos de heróis? Porque, no fundo, todos nós buscamos uma bela morte e queremos ser lembrados pelos nossos feitos. Por isso damos tanta importância aos referenciais, a quem fez o quê, quando e por quê. E, por isso, criamos os nossos vilões a nossa imagem e semelhança. No final, é o medo da morte que nos impulsiona e nos transforma.

Estamos, então, fadados a maldição de Galileu: somos infelizes porque precisamos morrer e fazemos de tudo pra que essa morte seja bela. Logo, fomos, somos e sempre seremos e precisaremos de heróis.

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