sábado, 4 de agosto de 2012

A falácia das Olimpíadas

Agora há pouco, estive lendo um post muito interessante sobre as tais olimpíadas (compartilhado na minha página do facebook). A bandeira levantada é a do fair play, da união, do trabalho em equipe. Se você acredita mesmo nessa idiotice, permita-me lembrá-lo de que onde há competição não há fair play, nem união, nem trabalho em equipe, porque o que importa é vencer, estar no primeiro lugar do pódium, ser o coroado. Os Jogos Olímpicos tiveram início na Grécia, entre os séculos VIII a.C. e IV a.D., mas não eram os únicos. Havia, também, os Jogos Píticos que eram tão ou mais tradicionais do que os jogos olímpicos, embora ninguém sequer os mencione. A diferença é que os Jogos Olímpicos aconteciam na cidade de Olímpia e eram dedicados a Zeus; e os Jogos Píticos aconteciam em Delfos e eram dedicados a Apolo.

A concepção de atleta não surgiu do pacotinho que as redes televisivas embrulham e nos entregam. Não há como saber exatamente como surgiram, embora o mais provável seja que as habilidades que, ao longo do tempo, passaram a integrar a concepção de atleta que temos hoje sejam provenientes das atividades de agricultura, caça e defesa territorial. Vejam vocês, por exemplo, que os atletas gregos eram todos soldados. Bem, alguém já se perguntou, em uma época em que o ser humano tinha que fazer tudo para se sustentar, desde plantar sua comida até costurar as amarras dos próprios sapatos, como seria possível haver pessoas que em meio a tantos afazeres ainda encontravam tempo para treinar? É evidente que essas pessoas tinham quem fizesse o resto por elas para que se preocupassem com treinamento e não o treinamento para jogos e sim o treinamento para a guerra. Eu detesto destruir ilusões, mas eis o porque de fair play, união e espírito de equipe não passarem de jargões hipócritas: a concepção de atleta nasceu fundamentalmente atrelada à guerra, de forma que só pode haver um vencedor. Sem misericórdia. Sem altruísmo. Guerra é guerra. Bom, ao menos sempre foi assim que nós seres humanos, dotados de incrível inteligência, a concebemos não é?

Então, por favor, não me venham reclamar que os "coitadinhos" dos atletas brasileiros são injustiçados. Não são. Na Antiguidade, os atletas competiam pelas honras da consagração como herói junto ao deus cultuado. Vencer era muito mais do que ganhar uma rodela de ouro em volta do pescoço ou uma coroa de tempero em volta da cabeça; era uma questão muito mais de fé e respeito ao deus cultuado do que trazer pedacinhos de terra ou plantas para o país de origem. Hoje, ganhar significa justamente isso: quanto mais rodelinhas de metal você tem em volta do pescoço, melhor você é, melhor o seu país é. Eu me pegunto quem, em sã consciência, representaria com garra e determinação um país como o Brasil que se diz entre o Top Ten mundial enquanto jovens chegam ao ensino médio sem saber juntar letras para formar palavras. Quando eu digo isso, muita gente me diz "não misture as coisas, uma não tem nada a ver com outra". Não mesmo? Eu discordo. Para mim tudo tem a ver com tudo no sentido em que ainda pensamos o Brasil, como Estado-nação. De que adianta, por exemplo, investir todo o PIB em olimpíada e copa, se isso significa negar infraestrutura necessária ao país? Eu sempre me pergunto o que o Brasil ainda quer provar para os gringos, uma vez que eles já sabem que nossa "cultura" se resume e bunda gostosa, futebol e samba.

Vamos parar de ficar com dozinho de atletas olímpicos. Eles sabem no que se meteram e porque estão lá, ninguém foi buscá-los em casa dizendo "por favor, compita pelo Brasil, nós precisamos de você". Todos e cada um deles sabe que ao decidir pelo nível mundial, a seleção começa muito mais pelo bolso do que pela habilidade, dedicação e treinamento. Olimpíada é coisa de rico e se o atleta não tem como se bancar, sinto muito, mas o Estado está pouco se lixando para isso. O que importa para a imagem do Brasil, em termos de olimpíadas, é o quantum de Au-197 os atletas irão trazer. Se trouxerem bastante, ótimo, somos os melhores. Se trouxerem pouco, ninguém vai consolá-los ou dizer "eu acredito em você", porque serão vistos como desperdício de grana e, infelizmente, o dinheiro, o mercado e as finanças são capazes de superar qualquer marca olímpica. Então atleta, por favor, pare de competir pelo Brasil e compita por você, porque o mérito da vitória tem que ser seu e não de uma nação que não o apóia e, ainda assim, cobra rendimento.