quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

NAZISMO PARTE III

Alô queridos e queridas! Eu espero que estejam bem, mas não prometo que vão continuar assim depois de ler este post. Na verdade, se você não está bem, por favor, nem leia. Eu digo isso porque não há como ficar bem lendo um post sobre guerra, morte, destruição, injustiça, derramamento de sangue, tortura, mácula, vilipêndio, violação, enfim tudo aquilo que nós seres humanos temos de pior e que um dia foi excretado sobre a face da Terra. Este post é, em outras palavras, deprimente e horrível, cheio de espectros injustiçados e corpos insepultos, espíritos que clamam por redenção e justiça. Você ouvirá o lamento deles e o seu clamor por descanso no decorrer da leitura.

Dedico, portanto, este post à memória daqueles que tiveram de passar pela terrível provação da guerra.

NAZISMO – Parte III
Campos de desolação

 Entrada de Auschwitz-Birkenau, extraída do Google.

Nem a própria autobiografia de Adolf Hitler, Mein Kampf, nem a historiografia, a sociologia, a psicologia, a psicanálise ou mesmo a psicografia conseguem apresentar explicações satisfatórias para um fato que marcou a era Hitler: o anti-semitismo. Uns dizem que foi por causa de dinheiro; outros que por causa de poder; outros que foi por causa de problemas conjugais; outros ainda que foi simplesmente porque eram judeus. Enfim, ninguém consegue organizar as idéias quanto a isso e esse fato particular do governo do ditador permanece sem resposta concreta. Seja por que motivo for, Hitler viu nos judeus um verdadeiro rebanho expiratório, para o qual dirigiu todo o seu ódio, repulsa, asco, nojo e desejo de vingança.

Partamos do seguinte princípio: para os nazistas, judeus não eram humanos, não eram nada, algo que o próprio Füher sintetiza com suas próprias palavras: “Sem dúvida, os judeus são uma raça, mas não são humanos”. Vamos falar um pouco sobre os campos de concentração, que muitas pessoas, inclusive pensadores, tendem a definir como análogos as prisões convencionais. Não preciso dizer que isso é uma grande mentira, embora seja preciso mencionar que a verdade que se conhece sobre os campos de extermínio e concentração foi criada pelos vencedores da Segunda Guerra: norte-americanos, cuja economia desde a abolição da escravidão era largamente comandada por judeus (e é até hoje). Vamos, então, diferenciar prisão, campo de concentração e campo de extermínio.

Uma prisão, bem ou mal, é envolta e perpassada por leis: há leis específicas que determinam tempo e método de punição, dentre as quais, convenções nacionais e internacionais de direitos humanos; há separação entre homens, mulheres, jovens e crianças, para os quais há legislação punitiva distinta, levando-se em consideração uma série de fatores desde o tipo de infração até questões fisiológicas como condição de saúde e idade. Os presos recebem visitas, tem direitos prescritos e sua punição, salvas algumas exceções, se resume ao cárcere que é, para um Estado de Direito, basicamente a privação dos direitos à liberdade, propriedade e trabalho assalariado. E, cá entre nós, se você tem grana nem preso você fica, independente do país, ou, caso não haja solução, o dinheiro garante férias ao invés de cárcere dentro do sistema prisional.

O campo de concentração é um pouco diferente de uma prisão. Geralmente, é fruto de ato legal do Poder Executivo quando em Estado de Guerra e trata-se, em tese, de um local específico para onde devem ser enviados os prisioneiros de guerra. Essas pessoas tem seus direitos civis e políticos suspensos, ato que deve perdurar somente enquanto permanecer o Estado de Guerra, porém, sem supressão de direitos humanos os quais são determinados observando-se convenções internacionais. Portanto, tecnicamente, o prisioneiro no campo de concentração, embora tenha parte dos seus direitos suspensos, não pode ser vítima de violência ou maus tratos, prevalecendo sua condição de indivíduo e sujeito de direitos. Caso seja comprovado qualquer desrespeito ou desacato a suprema condição humana, os responsáveis, em tese, devem responder pessoalmente pelas acusações e podem ser condenados a pena capital por crime de lesa humanidade.

Um campo de extermínio é completamente diferente de uma prisão convencional ou um campo de concentração.

Homens ou mulheres, adultos ou crianças, ricos ou pobres: todos são uma coisa só, uma massa degenerada completamente alheia ao conceito de humanidade. É um lugar amaldiçoado onde os sujeitos são a todo o momento e de todas as formas despidos da sua condição humana através da tortura, da humilhação, do vilipêndio, da profanação, da violação, da violência. Não há dignidade nem escolha. Tudo o que resta aos prisioneiros de campos de extermínio é esperar por uma morte pouco dolorosa, enquanto preparam seu espírito porque nem mesmo seus corpos lhes pertencem. Os enclausurados em campos de extermínio não são considerados humanos, nem sujeitos e muito menos indivíduos... eles não são nada... eles não são ninguém. Em outras palavras, estão lá para um único propósito apenas: morrer.

Auschwitz: "o trabalho liberta"

 Entrada de Auschwitz-Birkenau. Foto recente extraída do Google.

Não foi a toa que Theodor Adorno, no seu famoso ensaio “A educação após Auschwitz” (1965), foi enfático: Auschwitz não pode acontecer nunca mais! Evidentemente, havia muitíssimos desses campos que eram controlados pela SS, a polícia nazista, e foram idealizados da maneira como conhecemos por Heinrich Himmler, terceiro homem no escalão do Reich e comandante da SS. Mas dentre todos os campos, Auschwitz-Birkenau, sem dúvida, foi o pior. Tratava-se de um complexo gigantesco que abrigava, ao mesmo tempo, prisões, campos de concentração e campos de extermínio. Por isso que, desde Auschwitz, é comum as pessoas confundirem campos de concentração com prisões e campos de extermínio. Estima-se que mais de um milhão de pessoas, entre judeus, ciganos e demais prisioneiros de guerra, tenham morrido durante o período de funcionamento de Auschwitz, entre 1940 e 1945.

Uma vez lá confinadas, as pessoas estavam sujeitas a todo o tipo de vilipêndio: trabalho forçado; torturas; experimentos científicos, como aquele que o doutor Josef Menguele empreendeu na ala Birkenau: métodos de esterilização em massa, injeções de substâncias nos olhos para mudança da cor, dissecações ainda em vida. Além disso, havia também as surras; a escassez de comida; as doenças contagiosas; os vermes; os animais peçonhentos etc.

Imagem de Campo de Concentração extraída do Google.

Auschwitz foi o fruto mais viçoso dos ideais racistas e anti-humanistas dos nazistas. Há poucos dias assisti um documentário feito pela Discovery que se chama “A conspiração nazista”, exibido pela primeira vez em 16 de outubro de 2010 pelo Discovery Channel. Nesse documentário, os autores mostram como, paralelamente a criação de um Rich absolutamente ariano, os ideais nazistas de pureza de sangue e raça eram propagados aos alemães desde tenra idade. A engenharia do esquema tinha uma precisão assustadora, era milimetricamente calculada a curto, médio e longo prazos, desde uma pedagogia nazista até a participação na principal empresa nazista chamada Tausendjährige Reich (Reich de Mil Anos), passando, é claro, pela religião do nazismo, que agregava elementos de várias culturas antigas, como o uso da suástica invertida, mas principalmente aqueles advindos do saxão arcaico, como as runas de Odin que adornavam os uniformes da SS e referiam a divisões distintas, com tarefas distintas no Reich. Auschwitz era para onde convergia toda essa dinâmica, era o lugar de gestação dos ideais que o alto comando postulava em Berlim e por isso era tão grande e proporcionalmente tão terrível.

Se o que o cartunista de vanguarda Art Spiegelman contou na obra “Maus” (1980) foi verdade, é compreensível o medo que Adorno transmite ao falar de Auschwitz. 

Capa da Edição Completa de Maus publicada no Brasil em 2005 pela Cia das Letras.

Vladeck Spiegelman e sua esposa Anja Spiegelman, ambos protagonistas de “Maus” e pais de Art, estiveram em Auschwitz. Eles sobreviveram, mas carregaram as cicatrizes daquele lugar maldito em seus corpos, em suas mentes e em suas almas até o fim de suas vidas. Mas, não é necessariamente este o ponto que me chamou a atenção no livro. Eu sempre me perguntei por que os judeus nunca reagiram durante o Holocausto? Eles resistiram, mas não reagiram. Medo? Religião? Ambos? Não sei. O que mais me chocou na leitura da obra de Spiegelman, muito mais do que a violência, foi a falta de união entre os judeus. Eles se ajudavam não pelo fato de estarem fodidos no mesmo barco, mas sim para adquirirem vantagens uns sobre os outros. Isto não é uma discussão de caráter, mesmo porque penso que seja difícil definir caráter em estado de guerra, mas o que me espanta é que não bastando a crueldade que sofriam dos nazistas, havia uma crueldade interna ao grupo, de tal forma que se estabeleceu uma hierarquia de comando entre os judeus. Não havia solidariedade, havia negociação. Mas o que eles tinham para negociar, afinal de contas? E mais do que isso: para que negociar? E isso sem mencionar os pelegos.

quadrinho de Maus (1980), de Art Spiegelman.

Há uma corrente neonazista que defende que os campos de concentração nazistas, sobretudo Auschwitz, eram retiros de paz e sabedoria para os judeus e foi o conhecimento desse fato que me motivou a fazer essa série de posts sobre o Nazismo. E você, cara leitora, caro leitor, depois do que escrevi até agora, o que você acha disso? Abaixo, o link da internet onde li a respeito para que você mesmo, para que você mesma, possa ver e tecer sua própria opinião.