Antes de iniciar esse segundo post sobre o nazismo, eu preciso fazer algumas observações. Embora a maneira como costumo escrever aqui neste espaço de livre expressão que é o meu blog — ou pelo menos assim eu o considero — prime pela informalidade, há certos assuntos que não podem ter como ponto de partida a doxa em seu estado puro. Foi preciso que eu passasse minhas idéias por um filtro e, por isso, tive de entrar em contato com alguma literatura e algumas fontes de mídia que tratam ou referenciam o tema do nazismo.
No que diz respeito a literatura, estarei dialogando o tempo todo com: Origens do Totalitarismo (ARENDT, 1979); Educação após Auschwitz e Dialética do Esclarecimento (ADORNO, 1985 e 2003); O Livro Negro do Comunismo (1999); a autobiografia de Hitler, Mein Kampf (HITLER, 1937); escritos diversos de Foucault, Althusser e Gramsci; além da Tríade Digital do Século XXI: Scielo, Google e Wikipedia.
Nas fontes de mídia figuram as seguintes obras: O grande ditador (Chaplin, 1940); Fahrenheit 451 (Truffaut, 1966); Laranja Mecânica (Kubrick, 1971); Saló ou os 120 dias de Sodoma (Pasolini, 1975); 1984 (Radford, 1984); A lista de Schindler (Spielberg, 1993); Matrix (irmãos Wachowski, 1999); O Pianista (Polanski, 2002); A queda: as últimas horas de Hitler (Ganz, 2004); Operação Valquiria (Singer, 2008); e Bastardos Inglórios (Tarantino, 2009).
Espero que curtam o post.
Nazismo – Parte II
O despertar de um líder
O cenário que se apresentava no pós Primeira Guerra era um quadro desesperador. Após o armistício de 1919, o mundo mergulhou em uma profunda crise econômica. Destruída, a Europa dependia de terceiros para se reorganizar e se reestruturar e por um longo tempo não seria o mercado promissor de outrora, uma vez que os investimentos debandaram. Fome, miséria, desemprego, doenças e uma profunda cicatriz na alma do hemisfério norte constituíam o produto da Primeira Grande Guerra, o grande legado da vontade de igualdade que fizeram os países mais ricos do mundo entrarem em conflito.
Aproveitando-se do desespero da Europa destruída, os Estados Unidos fizeram crescer sua economia em larga escala financiando a recuperação do Velho Continente, conseguindo, em troca, taxas de exportação extremamente propícias, o que fez sua produção e mercado interno aumentarem indiscriminadamente. A Europa engoliu seu orgulho e beijou a mão do Uncle Sam, aceitando essa sujeição provisória em troca de uma pequena chama de esperança. Já na segunda metade da década de 1920, entretanto, a Europa conseguiu retomar sua produção interna e restabelecer parcialmente sua economia, reduzindo consideravelmente as importações dos EUA. Isso, combinado ao crescimento econômico desenfreado e mal planejado dos EUA, acarretou a grave Grande Depressão a partir de 1929: extrema produção e demanda quase nula, situação que apenas se resolveu com o final da Segunda Guerra.
Ironicamente, o quadro favoreceu os germânicos: de um lado, os países aliados, felizes que estavam por conseguir retomarem sua economia, deixaram de lado o castigo à Alemanha; de outro, os EUA estagnou sua economia e sofreu um período de crise extrema, a ponto da máfia se infiltrar no governo americano e controlá-lo dos bastidores. Preocupados que estavam com seus próprios problemas, todos eles se esqueceram da República de Wiemar.
Percebendo a crise internacional e se aproveitando do restabelecimento econômico europeu, os alemães ao mesmo tempo em que retomaram sua própria economia, procuraram se organizar social e politicamente. Vários partidos se formaram durante esse período e a Alemanha, gradativamente, retomou também seu controle político interno. Entre esses partidos, havia um certo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei), cuja sigla resumida era NAZI. Um certo Adolf Hitler, jovem austríaco, nascido na província de Linz e lutador condecorado com a Cruz de Ferro de Primeira Classe na Primeira Grande Guerra por bravura, filiado ao NAZI, começou a chamar a atenção dos defensores do Nacional Socialismo pelo seu histórico, pela sua retórica revanchista, pelos trabalhos que vinha prestando ao exército alemão como divulgador do nacionalismo e pelo seu discurso anti-semita, o qual Hitler apoiava desde o início da década de 1910, quando esteve em Viena pela primeira vez e teve contato com os panfletos anti-semitas de Jörg Lanz von Liebenfels, que no exército alemão era defendido por Dietrich Eckart, o qual logo se tornou amigo pessoal de Adolf. Em 1929, como expoente do NAZI, Hitler já conclamava os alemães a recuperarem seu orgulho ferido pelo Tratado de Versalhes e em novembro de 1933 ele prestava juramento como Chanceler ao Reichstag.
Imbuído desse arsenal retórico-demagógico e apoiado pelo alto escalão das forças armadas, Adolf Hitler precisou apenas sitiar e se apossar da última instância de resistência de qualquer nação orgulhosa: o povo. A partir de então, se tornou seu condutor, o Füher, o supremo comandante. “Tudo o que vocês são, o são através de mim; e tudo o que eu sou, sou somente através de vocês” (ARENDT, 1979, p. 374). Essa frase proferida pelo próprio Hitler em discurso, mostra a essência da sua política totalitária: não havia nada entre ele e o povo; ele era o povo e tudo, absolutamente tudo o que ele fizesse representaria a própria vontade do povo. Uma sacada genial, é preciso admitir. Com essa jogada de mestre, ele, a um só tempo, eliminou oposições e unificou opiniões que justificariam os empreendimentos da “limpeza étnica” e do avanço extra fronteiras do Estado alemão. Como Hitler representava a vontade do povo, não houve questionamento popular, embora dentro do partido tenha havido várias insurgências, todas localizadas, reprimidas e punidas exemplarmente.
Assim ascendeu ao poder o “Grande Ditador” do século XX, sob os auspícios da população, dos políticos, dos industriários e das forças armadas. O Füher não apenas restabeleceu o orgulho alemão, como expandiu a economia interna com o fabrico de armamentos e investimentos pesados em tecnologia bélica, aumentando a oferta de emprego e ganhando, definitivamente, o total apoio popular. Após seis anos de investimento em guerra, faltava apenas uma coisa para coroar a subida de Hitler ao poder: uma guerra.
Continua em NAZISMO – Parte III: campos de desolação
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