Dentre as dez questões que eu gostaria de ver respondidas antes da minha morte, existe uma que eu considero o meu maior pé no saco. É um problema que não é só meu; a maioria das pessoas já passou ou ainda passa por isso cotidianamente, muitas vezes, sem sequer parar para pensar sobre o assunto. E aqui vai a questão, com a força de um AK-47 para estourar os seus miolos:
Por que, neste mundo, todas as pessoas que possuem poder de mando — e aqui me refiro a poder de decisão em grande escala — têm o mesmo perfil? Uns mais, outros menos, mas em geral são todos parecidos: com a mesma mentalidade tacanha, a mesma incapacidade de perceber o óbvio, a mesma inclinação mais para números do que para fatos, a mesma desumanidade, o mesmo gosto por um poder que, uma vez em suas mãos, não sabem o que fazer com ele; são como cães que colocam a cara para fora do vidro do carro apenas para sentirem o vento batendo. Se caíssem do carro, não saberiam o que fazer.
Em relação ao perfil pessoal, também não há quase nenhuma diferença: mal casados, mal amados, sem amigos de verdade... todos os seus contatos pessoais, de uma maneira ou de outra, possuem alguma utilidade além do “oi, tudo bem? Como você está?”... se eles realmente fossem o que pensam que são, não desprezariam essas expressões. Onde será que foi parar o seu lado humano? Está escondido, lacrado, soterrado por camadas e mais camadas de dinheiro ou favores... é lastimável, é deplorável. São pessoas solitárias, amargas, escondidas atrás de máscaras por tanto tempo que não sabem mais quem realmente são. Não são nada.
Ei, se você se encaixa nesse perfil, você está fudido rs! Sua grana, seus automóveis, suas propriedades dentro e fora do país, vão ficar aqui, exatamente onde estão rs! Elas não irão com você para o além-túmulo (você deveria saber disso, a história prova)! E o seu fantasma ficará acorrentado a este mundo para todo o sempre, vagando sem rumo e tentando recuperar algo que nunca foi seu. E você vai sofrer mais de uma era de solidão, uma eternidade de dor. Será isso que você quer para sua existência? Lembre-se: o poder não pertence a ninguém, não tem pátria nem responde a senhor algum. O poder é como um vírus: suga tudo daquele a quem lhe serve temporariamente... quando achar que deve partir, ele vai e você fica com o que você tem: se tiver tudo, ótimo, fica com tudo... se não tiver nada, fica até mesmo sem o pouco o que pensa ter.
Acha que sou cruel? Acha que estou blefando? Pague para ver e não diga que não foi avisado. Quem avisa, amigo é... mas não sou seu amigo; sou seu inimigo fidagal e enquanto eu viver vou lutar para que você não tenha o poder. Sabe aquela pedrinha no sapato? Aquela pulguinha atrás da sua orelha? Aquele pernilongo que zune no seu ouvido e não te deixa dormir? Sabe o toquinho em que você tropeça e descarna o dedinho? Sou eu... mas você não vai saber quem realmente sou até que eu cruze o seu caminho. E não reze para que eu não cruze o seu caminho, porque eu vou cruzar você querendo ou não... e vou sorrir enquanto você cai de joelhos ou tomba diante de mim, depois de eu te mostrar o esplendor da verdade.
Então aqui vai a minha resposta com a força da pétala de uma rosa.
ResponderExcluirO poder, como qualquer coisa que nos é dada neste mundo, é um dom.
Você tem consciência dos dons que possui? Sabe como usá-los? Usa-os de fato como eles deveriam ser usados? Lembre-se que, apesar de dado, o dom precisa ser aperfeiçoado e exercitado, do contrário ele é parcialmente dom ou não tem nenhuma utilidade. Lembre-se também que o dom nunca é para você, mas para os outros.
A resposta para essas perguntas é a mesma para a sua pergunta.
Dentre todos os dons possíveis, impossíveis, imagináveis e inimagináveis, o maior de todos é o poder. Por isso ele é o mais perigoso de todos e contam-se nos dedos das mãos quantas pessoas souberam de fato usá-lo. A maioria daquelas pessoas que têm poder não sabe e nem nunca saberá usá-lo plenamente, apenas parcialmente. Ou seja, sempre cometerão o erro de usá-lo para si próprias.
Por que os poderosos têm o mesmo perfil? Porque todas as pessoas que têm os mesmos dons têm o mesmo perfil. É assim que o dom funciona. A diferença entre as pessoas com os mesmos dons é como elas usam esses dons, e não o quanto o aperfeiçoaram.
Dentro dessa perspectiva que proponho aqui, então, o poder não é uma entidade. Ele não usa ninguém. Ele deixa-se usar. Ninguém serve ao poder, porque ele não seria poder se precisasse de servos (como Deus não seria Deus se precisasse da criatura que criou).
Além disso, não podemos nos esquecer, como bem nos ensina Foucault, que o poder é mais uma invenção humana, uma ilusão criada por aqueles que têm algum dom sobre a Palavra e aceita como real por aqueles que não têm esse dom.
Agora... me preocupa o fato de você querer ser a pedra no sapato daqueles que receberam o dom do poder. Me preocupa você querer cruzar o caminho dessas pessoas, ainda que apenas ideologicamente ou aqui neste blog: “eu vou cruzar você querendo ou não... e vou sorrir enquanto você cai de joelhos ou tomba diante de mim, depois de eu te mostrar o esplendor da verdade”.
O que você busca com isso: o poder?
Tiranos cruzam caminhos, querendo-se ou não, e sorriem quando outros caem ou tombam aos seus pés. E tiranos são os que mais têm o dom do poder e os que menos sabem usá-lo.
Qual seria o esplendor da verdade? Quem é que detém a verdade esplendorosa, a verdade última? Não somos nós, seres humanos, por certo.
Tudo que conseguimos acessar são meias verdades, nunca as verdadeiras verdades. Nossos próprios olhos não nos permitem isso, pois vemos apenas três dimensões das várias que existem.
Cuidado para você não se tornar justamente aquilo que critica, o que seria terrivelmente triste.
Mas o que é isso? Você se tornou jusnaturalista ou o quê? Kkkkkkkkkkk!!! De fato, eu não tenho e jamais teria medo desses seres ocos porque já tive um dia e decidi que não preciso mais ter. Isso é bom, significa que consegui uma das minhas pretensões para esta vida: me tornar imune a outros discursos. E, já que nasci com o dom de destruir símbolos, agora só me falta ser um heresiarca para acender de vez a fogueira da inquisição sob meus pés rsrsrsrsrsrsrs!!!
ResponderExcluirSe respondo a um assim chamado “superior” é porque alguma coisa me obriga e não porque me deixo. Eu prometi que meus joelhos se dobrariam diante de um único senhor e é somente ele que tem poder sobre mim para me fazer curvar inclusive diante de outros senhores. Foucault? Franceses não conseguem ir muito além do país deles. Ele pensou o poder pela perspectiva do discurso, o que não é nada quando a violência substitui a palavra. Tarantino, Coppola, Pasolini explicitam isso muito bem nos seus filmes, assim como Bourdieu, Gramsci, até mesmo Marx, nos seus escritos. Entre cães e lobos, vence quem tem os caninos mais resistentes e afiados a despeito de quem late mais alto ou mais bonito.
Ora, se o discurso é a arma mais poderosa, por que razão foi uma bomba que pôs fim à segunda Grande Guerra? Por que Cristo, o maior de todos os discursistas, teve de pagar com a vida para ser ouvido? Por que alguém tem que pagar com a vida quando o cartucho do discurso acaba? E por que é que esse "alguém" tem de ser sempre um inocente?
Eu cheguei em um ponto em que me cansei de manipuladores de discurso, estou farto das imbecilidades, idiotices e hipocrisias que sou obrigado a ouvir, ler e assistir todos os dias. Durante toda a minha vida esses malditos têm sido a pedra no meu sapato. Agora penso que é preciso virar o jogo: vou ser a pedra no sapato deles e está acabado, está decidido! É apenas uma questão de ponto de vista, ou, nas palavras de Michael Corleone “it’s not personal. Strictly business”.
continuação...
ResponderExcluirVocê diria: "cuidado... primeiro você precisa do poder". E eu respondo dizendo que, assim como o próprio Foucault bem explicitou – e poucos atentam para isso –,o poder somente passa a existir de fato a partir do momento em que manipulador e manipulado reconhecem-se um ao outro enquanto tal. A diferença é que o poder atribuído ao manipulador exerce influência simbólica sobre o inconsciente do manipulado e é por isso, e apenas por isso, que ele é manipulador.
Acontece, porém, que eu me preparei para captar justamente essa essência invisível, materializá-la, desmontá-la e observá-la nos seus pormenores. Isso significa que, se eu não reconhecer o poder sintetizado em um símbolo diante do qual eu deva me curvar ou respeitar, ele simplesmente não existe.
Foi essa atitude que levou Cristo ao Calvário e eu estou ciente de que é o que me aguarda também: ele simplesmente ignorou aqueles que pensavam ter algum poder... um poder fugaz, um poder sórdido e perverso, como é o dos poderosos. E esses todos tiveram ou terão choro e ranger de dentes... talvez não pela eternidade, talvez não após a morte, mas por um longo tempo, em qualquer lugar que seja, nesta ou em outra vida, neste ou em outro mundo... não importa.
Agora, me diga por que eu deveria temer máscaras de seres ocos que pensam ser o que nunca serão quando tenho o exemplo de quem simplesmente ignorou essa condição ridícula e se tornou o nome acima de qualquer nome? Eu devo temer o que não conheço, mas eu sou capaz de reconhecer e entender o discurso dos poderosos porque fui treinado para isso. Não há, portanto, razão alguma na face da Terra para que eu tema.
Não pretendo tirar a vida de ninguém nem fazer como o escravo de Quincas Borba, afinal, descontar a raiva gera um prazer momentâneo, sem graça, e essas pessoas merecem algo que seja duradouro, que os faça lembrar a todo momento quem realmente são e que os corroa mais do que o pior dos ácidos.
Minha maneira de pisar em calos é muito sutil, muito singela, quase simplória. E, na maioria das vezes, as pessoas vão perceber que tiveram seu calo esmagado depois que já cicatrizou, mas aí já é tarde... eu já deixei minha marca. Uma marca que não se pretende como a de um herói; um soldado morto é só um soldado morto. A minha marca é a de alguém que se recusa a curvar-se diante de um vácuo humano, pois é isso que se esconde atrás da máscara; é a marca de quem não procura a morte, mas antes a aceita e apenas deseja compartilhar essa revelação com alguns construtores de castelos de areia e de torres de babel que existem por aí.