terça-feira, 11 de janeiro de 2011

ESCLARECIMENTO

O meu irmão mais velho fez um blog recenteme - aliás, recomendo dar uma olhada O caminho recusado - em que, na postagem inicial, afirma que eu fui uma das suas ninfas inspiradoras, dizendo que o meu blog - Perversão! - fala sobre a ordem vigente, acrescentando "seja lá o que isso quer dizer".

Diante dessa lacuna semântica, esclareço que a "ordem vigente" de que falo se refere à sociedade normativa composta por indivíduos que são levados a crer que fazem parte de um todo maior e que esse todo serve para a coexistência social.

Não entendeu ainda? É que faltou a legenda:

ordem vigente é a existência, ao mesmo tempo, de riqueza e pobreza extremas. Alguns (leia-se donos de empresas, políticos e multimilionários) fazem questão de manter essa relação desigual para que possam comprar tranquilamente seus carros do ano, jóias, roupas, propriedades e afins, enquanto outros (leia-se pais de família, assalariados, marginalizados etc) vendem o almoço pra comprar o café da tarde, porque a janta é muito cara.

Entendeu agora? Então TCHAU!

4 comentários:

  1. Adorei a "lacuna semântica"!!! HAHAHA!

    E "ninfa inspiradora" é a sua avó!!! [Que, no caso, coitadinha, é a minha também!... RSRS].

    O "seja lá o que isso quer dizer", que acrescentei entre parênteses ao lado de "ordem vigente" quando mencionei seu blog era, é claro, uma brincadeira.

    Contudo, se nós colocarmos de lado, por um momento, a brincadeira, talvez "ordem vigente" não seja algo tão simples de ser definido como no maniqueísmo pobreza-riqueza.

    Pobreza-riqueza são, sem dúvida, os extremos mais perceptíveis de uma certa "ordem vigente" que, na minha concepção, se instaurou pós-Segunda Guerra Mundial. Antes disso, se não me engano, a "ordem vigente" era outra, pautada em princípios do século XIX como organização e progresso.

    No século XXI, depois de todos os -ismos, num distópico contexto pós-tudo, pensar uma "ordem vigente" social em termos de extremos talvez seja querer resgatar uma organização social que, por se estruturar hierarquicamente, parece fixa e imutável e, com isso, gera ilusões como estabilidade social, progresso, segurança, desenvolvimento. Tudo isso, como diria São Marx, desmanchou-se no ar há bastante tempo, ou, como diria a grande filósofa Gislaine, não te pertence mais.

    A meu ver, a "ordem vigente" hoje é múltipla: permanecem ainda, é claro, os maniqueísmos todos (riqueza/pobreza, progresso/atraso, guerra/paz etc.), mas outros fatores se agregaram a eles tornando difícil identificar uma "ordem" outra que não seja uma tendência para o caos.

    À "ordem vigente" definida como "sociedade normativa composta por indivíduos que são levados a crer que fazem parte de um todo maior e que esse todo serve para a coexistência social", ou seja, o velho, bom e seguro status quo tão caro às Ciências Sociais (que status? que quo? Eu, como bom pós-estruturalista que sou, preciso questionar isso...), creio que devemos acrescentar a "ordem virtual", que não se restringe apenas ao multiverso chamado internet, mas se estende aos nossos extratos de contas bancárias, à imprensa, às relações interpessoais etc.; a "ordem do terror", inventada durante a Guerra Fria, concretizada nas guerras travadas pelos EUA a partir da década de 1990 e no conseqüente 11 de setembro de 2011, e institucionalizada no conceito etéreo de "Guerra contra o Terror"; a "ordem do efêmero", criada pela indústria do entretenimento e pela completa massificação de tudo que diz respeito ao jurássico conceito de "cultura", conceito este hoje sinônimo de Google; a "ordem da repetição", efeito colateral da "ordem do efêmero"; a "ordem do simulacro", profetizada por São Freud em "O mal-estar na civilização" e que nada mais é do que a incômoda proliferação da sensação de que tudo, inclusive nós mesmos, não passa de mera cópia de uma cópia que nunca teve um original; a "ordem da hiper-realidade", em que o fictício é mais real do que o próprio "real" (veja os rótulos de iogurte de morango, por exemplo... alguém já viu na feira um morango tão perfeito como aquele?); etc.
    [continua abaixo]

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  2. Veja que cada uma dessas "ordens" tem suas características próprias e não são necessariamente estruturadas pelo maniqueísmo. Entretanto, todas elas servem a algum tipo de organização sócio-política, que ao mesmo tempo em que dita uma (pseudo)ordem é por ela ditada. O problema é que todas essas “ordens” se interpenetram, misturam-se, opõem-se e confluem-se ao mesmo tempo e em todas as direções, colocando em xeque a própria noção de "ordem".

    Hoje, infelizmente, pensar numa "ordem" em termos universais, como faziam os Iluministas, estruturada apenas em oposições extremas (dialéticas), no contexto de um mundo globalizado como nosso mundo do século XXI, soa anacrônico, até alienígena (e isso me faz ter uma saudade imensa dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando tínhamos Cassiano Gabus Mendes para nos poupar o trabalho de avacalhar a “ordem vigente” na saudosa “Que Rei Sou Eu?” e “Cavaleiros do Zodíaco”, que nos fazia estar nem aí pra “ordem vigente” ou pra qualquer “ordem” que não fosse a das lutas na Guerra Galáctica... bons tempos aqueles...).

    Hoje há uma "ordem" para cada sujeito, para cada grupo, para cada sociedade, para cada Estado, para cada continente, para cada organização, mas não há mais uma "ordem universal". Em meio a tantas ordens, a ordem se perdeu em si própria e está, portanto, em "desordem", exceção àquelas simuladas e dissimuladas pela Política e pela Economia.

    Perverter a ordem, portanto, é muito mais um movimento de resgatá-la, recuperá-la, reorganizá-la, reestruturá-la, do que propriamente de subvertê-la. Subverter o que quando a subversão já está subvertida? Perverter ou subverter implicam em uma ordem a priori, implicam na existência de um objeto a ser pervertido/subvertido. Como esse objeto, a ordem (vigente ou não), já há muito deixou de ser uma grandeza universal e passou a ser um monte de estilhaços, então é necessário criar um objeto para ser pervertido/subvertido. A "ordem vigente", portanto, é um simulacro, um efeito de "ordem" revelando que não existe mais "ordem" além do perímetro do que se consegue inventá-la.
    Não é à toa, portanto, que um país que tenha escrito na sua bandeira “Ordem e Progresso” seja o País do Carnaval e, como bem ensina José Simão, o País da Piada Pronta...

    Como se posicionar diante disso? O que fazer diante disso? Como viver nesse contexto?

    Nesses últimos dez anos tenho procurado respostas para essas questões, mas elas têm me escapado como grãos de areia por entre os dedos. Talvez por que elas sejam só isso: grãos de areia... Onde estaria o mar, o que realmente importa, então?

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  3. Parece que a lacuna semântica se revelou um abismo semiótico... tá vendo porque é preciso perverter a ordem vigente?

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  4. A Semântica e a Semiótica são apenas duas perspectivas do real... como a Matrix ou a ordem vigente.

    Abismos semióticos são TU-DO! Eles não explicam nada, mas fazem a gente fazer umas perguntas legais!

    RSRSRSRSSRSRSRRSSRSRSR

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