MACABRO [mɐ'kabru]: que evoca a morte; indefinido; sinistro; obscuro; amedrontador.
Arte de Greg Staples para o card game Magic: the gathering, 9ª Edição, 2005
Tudo aquilo que é oculto procova um sentimento de ambiguidade no ser humano. Ao mesmo tempo que o desconhecido desperta o pânico e o corpo esteja preparado para a fuga em situações como essa, nasce também um sentimento de curiosidade que leva, necessariamente, ao desejo por conhecimento. O problema é que quando seguimos alienadamente esse caminho, quase sempre nos fodemos porque deixamos a curiosidade nos dominar.
O fascínio que o desconhecido exerce sobre nós, pobres e débeis mortais, é tão grande que há momentos em que esses sentimentos reagem com energias ocultas e acabam se materializando na forma dos chamados fenômenos sobrenaturais, dando origem às mais terríveis abominações: fantasmas, demônios e toda sorte de criaturas da noite. Sim, é verdade.
Mas... e quando esses sentimentos não se materializam por si? E quando a vontade de desconhecido fica latente, martelando na nossa cabeça e ficamos entre duas situações: ou não temos a sensibilidade necessária para gerar um poltergeist, parir um demônio, o que o valha; ou até temos essa sensibilidade, mas temos medo? Essa é situação em que a maior fatia do contingente se enquadra.
Se esse é o seu caso, como é o meu, então só há uma coisa a fazer com sua vontade de desconhecido: expulsá-la de dentro de você; despejá-la; vomitá-la; excretá-la para fora da sua mente e, portanto automaticamente, do seu corpo e da sua alma. Como? Me desculpe, mas não tenho todas as respostas. Cada um descobre uma maneira de fazer isso. Por exemplo: Da Vinci, pintava nas horas vagas; Htichcok dirigia; Charles Manson matava; Jimmi Hendrix tocava. Há uma infinidade de maneiras para canalisarmos nossa vontade pelo desconhecido.
Ou, você pode escrever contos macabros como eu. Claro que tive em quem me inspirar. No caso, um contista que escreveu entre as décadas de 1920 e 1950, chamado Clark Ashton Smith. Suas obras mais brilhantes foram publicadas em uma revista americana pulp de literatura fantástica chamada Weird Tales, dirigida por ninguém menos que Howard P. Lovecraft. Eu segui essa linha e andei escrevendo alguns contos macabros (que inclusive eu mandei para todos os meus amigos e pro meu irmão... mas só o meu irmão leu) apoiado pelos contos de Smith pra expuslsar alguns demônio de dentro de mim e olha, acreditem no que digo: funciona. As artes são os caminhos menos tortuosos para purgarmos nossas frustrações e, principalmente, nossa vontade de desconhecido.
Infelizmente, ainda não posso publicar os meus contos aqui por motivos particulares. Mas, não os deixarei na mão. Deixo os links dos dois contos de Clark Aston Smith que me inspiraram nessa empreitada:
The Empire of the Necromancers (O Império dos Necromantes)
The Isle of the Torturers (A Ilha dos Torturadores)
Os contos estão em inglês, mas com a ajuda de um bom programa tradutor é possível acompanhar as histórias tranquilamente.
Não vão se impressionar ein...
Não vão se impressionar ein...
Nem sempre a arte é uma forma de escape para os fantasmas que nos atormentam.
ResponderExcluirQuanto mais estudo as artes, mais percebo que os grandes mestres (Da Vinci, Hitchcock, Hendrix, para ficar entre os que você menciona) não usavam a arte para satisfazer suas vontades do desconhecido, para escapar de si mesmos ou de algo que os atormentava, mas sim para manipular esses sentimentos naqueles que iriam apreciam sua artes, ou seja, todos nós.
Os grandes mestres são aqueles que têm uma compreensão muito além da nossa sobre os sentimentos, todos os sentimentos, os bons e os maus. Por isso, são capazes de se distanciarem deles a ponto de torná-los arte e, com isso, criarem a possibilidade de nós, meros mortais, exorcizarmos nossas frustrações e necessidades do desconhecido.
Veja, então, que isso é um exercício de infinita doação dessa compreensão por parte desses mestres, e não um exercício de narcisismo, como a maioria das pessoas pensa ser a arte.
Esses mestres tinham muito pouco ou quase nada a exorcizar em si próprios, mas compreendiam as necessidades alheias de exorcismo e, por algum motivo inexplicável, decidiram compartilhar maneiras de fazê-lo através de sua arte.
Sim, todos nós que nos aventuras pelo mundo das artes enquanto produtores de arte (você, eu, outras pessoas) começamos primeiramente com um exercício de exorcismo: exorcizamos nossas frustrações e necessidades do desconhecido.
Mas sempre haverá um momento em que o que era exorcismo se torna compreensão. É nesse momento que nossa arte vira, de fato, arte.
E fique tranqüilo: prometo não me impressionar com o Ashton Smith! rsrsrs
Acredite, irmão... há coisas muito mais impressionantes que ele, muito mais assustadoras, assombrosas e, mais do que isso, inquietantes. Edgar Allan Poe, por exemplo, alguns poemas de Emily Dickinson (depois farei uma pequena seleção para você), um ou dois contos de Nathaniel Hawthorne, um certo conto chamado “O homem da areia”, de Hoffman.
Abraços
Mas eu nunca disse que a arte é forma de escape; eu disse que é o caminho menos tortuoso purgarmos frustrações e vontade de desconhecido. Eu jamais apontaria a arte como única forma de escape. Veja que aqui exponho minha humilde opinião baseado em alguns fatos históricos e muitos fatos especulativos sobre a vida e a obra desses gênios e, para mim, é inegável que tenham pretendido em algum momento, uns mais outros menos, exorcizar demônios e saciar fome e sede de desconhecido.
ResponderExcluirEm geral, os artistas clássicos ( e mesmo os contemporâneos) estavam pouco se lixando para muitas das questões que a maioria dos críticos consegue enxergar (ou inventa) nas suas obras. Artistas não perdem tempo com muito mais além de si próprios e eles não eram diferentes de nenhum ser humano na face da terra, a não ser pelo fato de terem apoio financeiro e tempo livre para criar, algo que, historicamente, apenas detentores do poder possuem.
Quanto ao mestre, a minha visão é diferente. Para mim, mestres são assim chamados porque entendem que não possuem compreensão alguma sobre absolutamente nada e tampouco se acham capazes de grandes proezas. Eu vejo que o verdadeiro mestre é aquele que admite sua mísera condição humana e transmite esse ensinamento aos seus discípulos para que preencham seus espíritos com o mesmo entendimento e assim possam buscar novas maneiras de viver e se tornem fortes para as provações.
Você diz que, em dado momento, o exorcismo se torna compreensão. Mas, compreensão do quê? Existe, por Deus, alguma coisa que seja compreensível, minimamente inteligível no simplório universo dos seres humanos? Esse paradoxo corrói as minhas vértebras.