sexta-feira, 4 de março de 2011

O QUE É QUE SE COMEMORA NA PORRA DO CARNAVAL?!

Esta é outra das dez questões que eu gostaria de ver respondidas antes da minha morte. Existem várias versões que se propõem a respondê-la, cada uma mais improvável do que a outra, cada uma mais sem sentido do que a outra. Vejamos algumas:

1) Versão religiosa:
Os primeiros cristãos, pouco antes de celebrarem o suplício de Cristo, precisavam se livrar das fraquezas da carne para participarem da Páscoa purificados. Então, festejam três dias e noites para, logo em seguida, entrarem no período de penitência chamado Quaresma. Isso significa que eles aproveitavam esses três dias para cometerem todos os pecados que podiam, visto que seriam perdoados logo em seguida. Nesta versão, a nomenclatura “carnaval”, forma apropriada para o português proveniente do grego carnis vallis, ou do latim carnelevarium, poderia ser traduzida como "festa da carne", "comemoração carnal" ou "adeus à carne".
Já por esta primeira versão você já percebeu que desde os primórdios não há o menor sentido para esta festa.

2) Versão pagã (entenda-se por “pagãs” as religiões pré-cristãs e aquelas que foram e/ou são consideradas apostasia ante os preceitos da Santa Sé):
Esta provém das religiões que cultuavam divindades da natureza, mais precisamente aquelas que os antropo-biólogos do século XIX e os assim chamados “antropólogos” do início do século XX se encarregaram de chamar de “inferiores” por utilizarem a magia. Dentre elas, as religiões germânicas festejavam a mudança da fase lunar que marcava também a mudança do inverno para o verão e, portanto, o início de um novo ano. Em algum momento da história, alguma "mente brilhante” associou, não se sabe ao certo a razão, esta versão com a religiosa, de onde surgiram os carnavais ditos “de alto nível” (Veneza, Paris etc). Neste sentido, o carnaval poderia ser associado a uma espécie de “ano novo” daquelas religiões.
Aqui você vê que também não faz sentido associar o carnaval àquela  festa, visto que nada tinha a ver com período de privações, mas o desejo de bons auspícios trazidos por um novo ano... na verdade, ano novo e carnaval não tem absolutamente nada em comum.

3) Versão popular:
Não existe. Eu perguntei a várias pessoas a seguinte questão: para você, o que é que se comemora no carnaval? Um momento de silêncio sempre antecedeu respostas como: não importa; não interessa; foda-se!; você é um doente!; ninguém é obrigado a gostar das mesmas coisas que você!; e por aí vai. Isso denota que, para elas, parece razoável sair por aí pulando e bebendo atrás de carros de som durante três dias (no caso de Salvador, são sete), sem que se saiba o que é que tanto se comemora. Nesta versão, a palavra carnaval não quer dizer nada porque ninguém sabe para o que serve a festa e a opinião unânime é, pura e simplesmente, a própria festa. Uma festa cujo sentido se encerra em si mesmo; portanto, uma festa vazia, uma festa inútil; uma festa que, a meu ver, reflete a essência do povo brasileiro de uma maneira ainda mais clara do que o congresso nacional. Concordemos que esta versão é a mais próxima do real.

Bem... vejamos, agora, a minha versão:
Não vejo utilidade no carnaval. Eu, francamente, estou pouco me lixando para o que as pessoas fazem no seu tempo livre. Não é problema meu a vida individual de cada um. Estabelecendo uma analogia com manifestações culturais, eu poderia até considerar o carnaval um grande movimento de cultura que associa as diversas classes sociais e as coloca no mesmo patamar, visto que é uma festa universalizante no sentido de abranger todos os públicos. Mas, como sociólogo, infelizmente, eu estaria enganando a mim mesmo se o fizesse. Não me parece razoável os governos das três esferas dispensarem verba pública para patrocinar algazarra e bebedeira, cujo produto final é sempre uma grande soma de mortos, feridos e doentes a aumentarem as perturbadoras estatísticas brasileiras (em que pese a arbitrariedade dessas estatísticas). Não me parece razoável festejar “sei lá o que” quando as escolas estão uma catástrofe; as estradas idem; o saneamento idem (paulistanos, essa foi em sua homenagem); os impostos absurdos! Não me parece razoável seguir um carrinho de som aos berros uma vez que pessoas não têm o que comer, estão morrendo de fome enquanto o povo pula. Nesta versão, a palavra carnaval significa hipocrisia, mas não uma simples hipocrisia. A hipocrisia a que me refiro é a hipocrisia generalizada e propositalmente difundida, como uma droga... talvez seja esta a pior doença transmitida pelo carnaval.

Agora me diga você gari ou margarida, encanador, pedreiro, policial, socorrista, enfermeiro ou enfermeira, médico de unidade pública... me diga o que é que sobra de toda essa “alegria” insensível? Eu pergunto isso a você, profissional de alguma dessas áreas, porque o povão que pula depois vai embora pra casa dormir e se recuperar da bebedeira... mas você é quem vai ter que limpar toda a sujeira que ficou para trás... é você que vai ter que abrir caminho em congestionamentos ou cortar caminho para não atrapalhar a “alegria do povo” para atender ocorrências; é você que vai ter que se sujar para limpar a nojeira e a podridão que o “povo alegre” lhe deixou de presente ou para ressuscitar riquinhos bêbados e drogados. Para você... o que significa essa porra de carnaval? O quão razoável lhe parece esta estupidez que o povo brasileiro tanto se orgulha de ser o portador?

E a você, que está lendo este post, o quão razoável lhe parece olhar para a direita e ver fantasias e carros alegóricos que custam, em média, mais de 10 milhões de reais para serem produzidos; e olhar para a esquerda e ver crianças e jovens dormindo ao relento, pedindo esmola com medo de chegar em casa e apanhar dos pais, ou pessoas sem lar que clamam a misericórdia do “povo alegre”... quiseram eles poder ter essa, com diz a globo, “alegria que contagia”... mas esse é justamente o problema... a alegria contagia; a sensibilidade pelo outro, não.

E depois o doente sou eu.

9 comentários:

  1. Parabéns, gostei do post.
    E, CLARO, concordo com você!

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  2. Neidson

    Obrigado por prestigiar o meu blog! Carnaval sucks!

    Abraço!

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  3. vc tem toda razão , muita gente passando fome...
    e o governo gasta donheiro com bobagem....

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  4. concordo com voce tem toda a razão.É uma porcaria mesmo falta deconsiaderação com si proprio

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  5. é eu concordo com vc pois muitas coisas ruim aconteçem por causa do carnaval pois quantos ñ morrem,quantos ñ matam isso por causa do carnaval

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  6. Sua opinião só formaliza a indignação de todos que lêem o post até o final. E vemos que esta festa so serve para: lavar dinheiro (jogo do bicho), promover artistas ( até porque antigamente era realizado pela comunidade, agora não mais) e alavancar as estatísticas de tragédias anunciadas ( através dos acidentes ocorrido por pessoas embriagadas, drogadas e tudo mais).
    Muito bom seu post. Abraço!

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  7. É uma miscelania de coisas. Lavagem de dinheiro. Propaganda. Indústria do entretenimento medíocre, falta de análise reflexiva, falta de valorização ao próprio tempo e integridade física. É assim pq interessam a grupos que deliberar. É assim pq o brasileiro médio não tem alerta para contestar algo q parece ser uma onda que todos parecem querer pegar. Um evento destes, no modelo q é, só poderia existir no Brasil. As condições peculiares para que ocorram so existem aqui.

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  8. Realmente é o carnaval uma festa inútil, e sempre tive esse pensamento. carnaval nada mais é que celebração do ócio, que diga-se de passagem, não é um ócio criativo. Repito mais uma vez: carnaval é uma festa absolutamente inútil.

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