Ao longo do ano nós fazemos as piores coisas: falamos mal dos outros, xingamos, brigamos, traímos. No final, porém, envolvidos pelo espírito natalino — ou seja lá como isso se chama —, fingimos que nosso lado mal está temporariamente fora de serviço... no ano seguinte, óbvio, voltaremos a odiar uns aos outros e desejar mortes lentas e dolorosas pra todo mundo. O importante é que no fim do ano estejamos em paz conosco mesmos e com a consciência tranqüila, ainda que seja uma farsa.
Deveria ser fim de ano todo dia. Não pra que as pessoas parassem de se odiar, mas pelo feriado mesmo! Essa história de “fim de ano é tempo de reflexão, momento de união e paz” não passa de hipocrisia, uma estupidez necessária apenas pra que tenhamos a ilusão de que tudo o que fazemos pode ser justificado de forma simplista. Se fosse assim, o mundo seria o paraíso.
O fato é que o mundo não é o paraíso e as pessoas não vão parar de se odiar. O que fizemos das nossas vidas? O que estamos fazendo com este mundo? Vive-se em um ritmo frenético e colocam a culpa em Cronos “ah! não tenho tempo”; destrói-se a vida como se dela não dependêssemos! Evitamos ao máximo nos falar diretamente, dando preferência as chamadas redes sociais ou de relacionamento. Sociais? De qual sociedade? Que relação é essa que dispensa a presença do outro? Isso me lembra a obra A Christmas Carol, de Charles Dickens e aqui está uma boa dica de leitura.
Alguns dizem que temos todo o tempo do mundo pra mudar... isso é mentira! A vida é curta e não temos todo o tempo do mundo... nosso tempo é limitado, aceitemos isso ou não. O momento pra mudar não é estando em uma cama de UTI em estágio terminal, nem daqui a pouco e nem amanhã... é agora!
Interessante que eu dizendo isso, ninguém vai se importar... Mas se estivesse em um alt door, em alguma avenida importante de uma grande cidade, com o papai noel da coca-cola abrindo um sorriso e soltando o famoso aaahhh! de refrescância... aí você não iria mudar de vida, mas apenas trocar a pepsi pela coca.
Então, meus votos de final de ano não são tudo de bom porque ninguém quer nada de bom, apesar dos avisos dos ecologistas, das profecias e dos sinais; também não desejo um bom ano novo, porque o ano que vem vai ser igual ou pior do que esse, e isso não é pessimismo... é a direção para onde o mercado aponta. E não quero que você tenha muitas realizações, porque o que chamamos de “realizações” tem mais a ver com dinheiro e bens do que com sorrisos e abraços... e, cá entre nós, o planeta não agüentaria todas essas realizações!
O que desejo é que paremos de desejar, paremos de brincar de faz de conta e comecemos a agir! Agir para salvar o planeta da destruição; agir para sermos mais humanos; agir para produzirmos e consumirmos menos; agir para deixarmos de ser otários dos políticos... agir para que no final do ano que vêm paremos de desejar boas festas pra meia dúzia de gatos pingados e demos condições pra que milhões tenham boas festas de fato, incluindo nós mesmos.
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