A mídia em geral, os livros e a maioria dos pesquisadores, inclusive, vivem a dizer e reafirmar: "vivemos em um mundo globalizado... precisamos estar atentos, informados... precisamos abrir nossas mentes ao novo e abandonar o obsoleto". Se isso quer dizer alguma coisa eu não sei... tudo o que sei é que a atualialidade é mais incerta do que nunca: tudo e nada se confundem e ninguém, absolutamente ninguém pode dizer que "é" e nem que "está". Em outras palavras, o momento histórico em que estamos hoje é um "não-lugar".
Eu concordo que o obsoleto, por razões óbvias, deve ser deixado para trás; eu partilho da opinião dos nossos queridos cientistas e pesquisadores de que é necessário cosmopolizar nossa visão; e penso ser válido afirmar a diferença como uma caracterísitca que todos os seres humanos têm em comum... mas [como diz o meu irmão: "e sempre tem que ter um maldito mas"], é preciso ter cuidado. Mesmo nesta "atualidade líquida", utilizando aqui uma terminologia baumaniana, as relações, por mais diáfanas que sejam, precisam de seu tempo de maturação; precisam de tempo para aceitação; precisam, em última instância, se desenvolver, ainda que essa fase de desenvolvimento pareça simplesmente não existir, dada a dinâmica volátil do nosso mundo.
O sexo é um grande exemplo disso. Ainda hoje, por incrível que pareça para o início da segunda década do século XXI, qualquer tipo de relação que fuja demais ao hétero, ao monogâmico, ao cristão, ao patriarcal, ao nuclear, é motivo de desconfiança e, se me permitem dizer, até mesmo de discriminação. Bem, se voltarmos algo em torno de três ou quatro mil anos atrás, na Grécia por exemplo, o hétero era o marginal em uma religião POLIteísta. Paradoxo interessante. A partir do momento que entrou em cena uma certa religião MONOteísta, entrou em voga o tipo de relacionamento HETEROssexual: POLI-HOMO; MONO-HÉTERO.
Nos dias hoje, entretanto, nem um nem outro podem ser comportados. Em primeiro lugar, porque a religião, e digo qualquer tipo de religião, perdeu o seu poder sobre o ser humano, senão completamente, quase isso... não acreditamos mais em nada essa é a verdade; em segundo lugar, porque o hétero está se transformando numa mesmice, as pessoas não querem mais se contentar com o que se convencionou chamar de "normal" e preferem procurar maneiras de antinomia, quando não anomia mesmo; e em terceiro lugar porque não há uma especificação precisa, hoje, que seja capaz de englobar a sexualidade humana. O que mais se aproxima de uma definição nesse sentido é o pansexualismo, que por irônico que pareça, é também uma definição insuficiente.
A relação paradoxal que propus toma uma dimensão ainda mais interessante: POLI-HOMO; MONO-HÉTERO; NADA-PAN [ou seja NADA-TUDO]. As interpretações dessa proposição eu deixo com vocês porque cada um tem a sua. Eu só quero dar a minha opinião: cuidado! Para aqueles que não sabem, TUDO e NADA são elementos essenciais do caos, aquela massa informe, difusa, concentrada e ao mesmo tempo diluída, em que não é possível a compreensão nem o esclarecimento. Sim amigos, esta é minha opinião: caminhamos para o caos, o que é natural em momentos de transição... o problema é o estacionamento nesse período de transição, neste momento de caos.
Buscar sempre mais é próprio do ser humano. "Navegar é preciso" dizia Fernando Pessoa: viajar para outros mundos; para outras sensações; escalar outras montanhas que não as costumeiras. Sim, é verdade! É preciso! É necessário! Contudo, e agora eu assumirei a minha costumeira posição de chato, a história nos mostra que temos o péssimo costume de buscar o além antes de entendermos o aqui, o agora. Então, aqui fica a perguntinha filha da puta que eu sempre gosto de deixar: estamos preparados para enfrentar o além, e digo toda a forma de além imaginável, se vemos a cada dia que o aqui é demais para nós?