Alô queridos e queridas! Eu
espero que estejam bem, mas não prometo que vão continuar assim depois de ler
este post. Na verdade, se você não está bem, por favor, nem leia. Eu digo isso
porque não há como ficar bem lendo um post sobre guerra, morte, destruição,
injustiça, derramamento de sangue, tortura, mácula, vilipêndio, violação, enfim
tudo aquilo que nós seres humanos temos de pior e que um dia foi excretado
sobre a face da Terra. Este post é, em outras palavras, deprimente e horrível,
cheio de espectros injustiçados e corpos insepultos, espíritos que clamam por
redenção e justiça. Você ouvirá o lamento deles e o seu clamor por descanso no
decorrer da leitura.
Dedico, portanto, este post à
memória daqueles que tiveram de passar pela terrível provação da guerra.
NAZISMO – Parte III
Campos de desolação
Entrada de Auschwitz-Birkenau, extraída do Google.
Nem a própria autobiografia de
Adolf Hitler, Mein Kampf, nem a historiografia, a sociologia, a psicologia, a
psicanálise ou mesmo a psicografia conseguem apresentar explicações
satisfatórias para um fato que marcou a era Hitler: o anti-semitismo. Uns dizem
que foi por causa de dinheiro; outros que por causa de poder; outros que foi
por causa de problemas conjugais; outros ainda que foi simplesmente porque eram
judeus. Enfim, ninguém consegue organizar as idéias quanto a isso e esse fato
particular do governo do ditador permanece sem resposta concreta. Seja por que
motivo for, Hitler viu nos judeus um verdadeiro rebanho expiratório, para o
qual dirigiu todo o seu ódio, repulsa, asco, nojo e desejo de vingança.
Partamos do seguinte princípio:
para os nazistas, judeus não eram humanos, não eram nada, algo que o próprio
Füher sintetiza com suas próprias palavras: “Sem dúvida, os judeus são uma
raça, mas não são humanos”. Vamos falar um pouco sobre os campos de
concentração, que muitas pessoas, inclusive pensadores, tendem a definir como
análogos as prisões convencionais. Não preciso dizer que isso é uma grande
mentira, embora seja preciso mencionar que a verdade que se conhece sobre os
campos de extermínio e concentração foi criada pelos vencedores da Segunda
Guerra: norte-americanos, cuja economia desde a abolição da escravidão era
largamente comandada por judeus (e é até hoje). Vamos, então, diferenciar
prisão, campo de concentração e campo de extermínio.
Uma prisão, bem ou mal, é envolta
e perpassada por leis: há leis específicas que determinam tempo e método de
punição, dentre as quais, convenções nacionais e internacionais de direitos
humanos; há separação entre homens, mulheres, jovens e crianças, para os quais
há legislação punitiva distinta, levando-se em consideração uma série de
fatores desde o tipo de infração até questões fisiológicas como condição de
saúde e idade. Os presos recebem visitas, tem direitos prescritos e sua
punição, salvas algumas exceções, se resume ao cárcere que é, para um Estado de
Direito, basicamente a privação dos direitos à liberdade, propriedade e
trabalho assalariado. E, cá entre nós, se você tem grana nem preso você fica,
independente do país, ou, caso não haja solução, o dinheiro garante férias ao
invés de cárcere dentro do sistema prisional.
O campo de concentração é um
pouco diferente de uma prisão. Geralmente, é fruto de ato legal do Poder
Executivo quando em Estado de Guerra e trata-se, em tese, de um local
específico para onde devem ser enviados os prisioneiros de guerra. Essas
pessoas tem seus direitos civis e políticos suspensos, ato que deve perdurar
somente enquanto permanecer o Estado de Guerra, porém, sem supressão de
direitos humanos os quais são determinados observando-se convenções
internacionais. Portanto, tecnicamente, o prisioneiro no campo de concentração,
embora tenha parte dos seus direitos suspensos, não pode ser vítima de
violência ou maus tratos, prevalecendo sua condição de indivíduo e sujeito de
direitos. Caso seja comprovado qualquer desrespeito ou desacato a suprema
condição humana, os responsáveis, em tese, devem responder pessoalmente pelas
acusações e podem ser condenados a pena capital por crime de lesa humanidade.
Um campo de extermínio é completamente
diferente de uma prisão convencional ou um campo de concentração.
Homens ou mulheres, adultos ou
crianças, ricos ou pobres: todos são uma coisa só, uma massa degenerada
completamente alheia ao conceito de humanidade. É um lugar amaldiçoado onde os
sujeitos são a todo o momento e de todas as formas despidos da sua condição
humana através da tortura, da humilhação, do vilipêndio, da profanação, da
violação, da violência. Não há dignidade nem escolha. Tudo o que resta aos
prisioneiros de campos de extermínio é esperar por uma morte pouco dolorosa,
enquanto preparam seu espírito porque nem mesmo seus corpos lhes pertencem. Os
enclausurados em campos de extermínio não são considerados humanos, nem
sujeitos e muito menos indivíduos... eles não são nada... eles não são ninguém.
Em outras palavras, estão lá para um único propósito apenas: morrer.
Auschwitz: "o trabalho liberta"
Entrada de Auschwitz-Birkenau. Foto recente extraída do Google.
Não foi a toa que Theodor Adorno,
no seu famoso ensaio “A educação após Auschwitz” (1965), foi enfático:
Auschwitz não pode acontecer nunca mais! Evidentemente, havia muitíssimos
desses campos que eram controlados pela SS, a polícia nazista, e foram
idealizados da maneira como conhecemos por Heinrich Himmler, terceiro homem no
escalão do Reich e comandante da SS. Mas dentre todos os campos, Auschwitz-Birkenau,
sem dúvida, foi o pior. Tratava-se de um complexo gigantesco que abrigava, ao
mesmo tempo, prisões, campos de concentração e campos de extermínio. Por isso
que, desde Auschwitz, é comum as pessoas confundirem campos de concentração com
prisões e campos de extermínio. Estima-se que mais de um milhão de pessoas,
entre judeus, ciganos e demais prisioneiros de guerra, tenham morrido durante o
período de funcionamento de Auschwitz, entre 1940 e 1945.
Uma vez lá confinadas, as pessoas
estavam sujeitas a todo o tipo de vilipêndio: trabalho forçado; torturas;
experimentos científicos, como aquele que o doutor Josef Menguele empreendeu na
ala Birkenau: métodos de esterilização em massa, injeções de substâncias nos
olhos para mudança da cor, dissecações ainda em vida. Além disso, havia também
as surras; a escassez de comida; as doenças contagiosas; os vermes; os animais
peçonhentos etc.
Imagem de Campo de Concentração extraída do Google.
Auschwitz foi o fruto mais viçoso
dos ideais racistas e anti-humanistas dos nazistas. Há poucos dias assisti um
documentário feito pela Discovery que se chama “A conspiração nazista”, exibido
pela primeira vez em 16 de outubro de 2010 pelo Discovery Channel. Nesse
documentário, os autores mostram como, paralelamente a criação de um Rich
absolutamente ariano, os ideais nazistas de pureza de sangue e raça eram
propagados aos alemães desde tenra idade. A engenharia do esquema tinha uma
precisão assustadora, era milimetricamente calculada a curto, médio e longo
prazos, desde uma pedagogia nazista até a participação na principal empresa
nazista chamada Tausendjährige Reich (Reich de Mil Anos), passando, é claro,
pela religião do nazismo, que agregava elementos de várias culturas antigas,
como o uso da suástica invertida, mas principalmente aqueles advindos do saxão
arcaico, como as runas de Odin que adornavam os uniformes da SS e referiam a
divisões distintas, com tarefas distintas no Reich. Auschwitz era para onde
convergia toda essa dinâmica, era o lugar de gestação dos ideais que o alto
comando postulava em Berlim e por isso era tão grande e proporcionalmente tão
terrível.
Se o que o cartunista de
vanguarda Art Spiegelman contou na obra “Maus” (1980) foi verdade, é
compreensível o medo que Adorno transmite ao falar de Auschwitz.
Capa da Edição Completa de Maus publicada no Brasil em 2005 pela Cia das Letras.
Vladeck
Spiegelman e sua esposa Anja Spiegelman, ambos protagonistas de “Maus” e pais
de Art, estiveram em Auschwitz. Eles sobreviveram, mas carregaram as cicatrizes
daquele lugar maldito em seus corpos, em suas mentes e em suas almas até o fim
de suas vidas. Mas, não é necessariamente este o ponto que me chamou a atenção
no livro. Eu sempre me perguntei por que os judeus nunca reagiram durante o
Holocausto? Eles resistiram, mas não reagiram. Medo? Religião? Ambos? Não sei.
O que mais me chocou na leitura da obra de Spiegelman, muito mais do que a
violência, foi a falta de união entre os judeus. Eles se ajudavam não pelo fato
de estarem fodidos no mesmo barco, mas sim para adquirirem vantagens uns sobre
os outros. Isto não é uma discussão de caráter, mesmo porque penso que seja
difícil definir caráter em estado de guerra, mas o que me espanta é que não
bastando a crueldade que sofriam dos nazistas, havia uma crueldade interna ao
grupo, de tal forma que se estabeleceu uma hierarquia de comando entre os
judeus. Não havia solidariedade, havia negociação. Mas o que eles tinham para
negociar, afinal de contas? E mais do que isso: para que negociar? E isso sem
mencionar os pelegos.
quadrinho de Maus (1980), de Art Spiegelman.
Há uma corrente neonazista que
defende que os campos de concentração nazistas, sobretudo Auschwitz, eram
retiros de paz e sabedoria para os judeus e foi o conhecimento desse fato que
me motivou a fazer essa série de posts sobre o Nazismo. E você, cara leitora,
caro leitor, depois do que escrevi até agora, o que você acha disso? Abaixo, o
link da internet onde li a respeito para que você mesmo, para que você mesma,
possa ver e tecer sua própria opinião.