quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

NAZISMO PARTE III

Alô queridos e queridas! Eu espero que estejam bem, mas não prometo que vão continuar assim depois de ler este post. Na verdade, se você não está bem, por favor, nem leia. Eu digo isso porque não há como ficar bem lendo um post sobre guerra, morte, destruição, injustiça, derramamento de sangue, tortura, mácula, vilipêndio, violação, enfim tudo aquilo que nós seres humanos temos de pior e que um dia foi excretado sobre a face da Terra. Este post é, em outras palavras, deprimente e horrível, cheio de espectros injustiçados e corpos insepultos, espíritos que clamam por redenção e justiça. Você ouvirá o lamento deles e o seu clamor por descanso no decorrer da leitura.

Dedico, portanto, este post à memória daqueles que tiveram de passar pela terrível provação da guerra.

NAZISMO – Parte III
Campos de desolação

 Entrada de Auschwitz-Birkenau, extraída do Google.

Nem a própria autobiografia de Adolf Hitler, Mein Kampf, nem a historiografia, a sociologia, a psicologia, a psicanálise ou mesmo a psicografia conseguem apresentar explicações satisfatórias para um fato que marcou a era Hitler: o anti-semitismo. Uns dizem que foi por causa de dinheiro; outros que por causa de poder; outros que foi por causa de problemas conjugais; outros ainda que foi simplesmente porque eram judeus. Enfim, ninguém consegue organizar as idéias quanto a isso e esse fato particular do governo do ditador permanece sem resposta concreta. Seja por que motivo for, Hitler viu nos judeus um verdadeiro rebanho expiratório, para o qual dirigiu todo o seu ódio, repulsa, asco, nojo e desejo de vingança.

Partamos do seguinte princípio: para os nazistas, judeus não eram humanos, não eram nada, algo que o próprio Füher sintetiza com suas próprias palavras: “Sem dúvida, os judeus são uma raça, mas não são humanos”. Vamos falar um pouco sobre os campos de concentração, que muitas pessoas, inclusive pensadores, tendem a definir como análogos as prisões convencionais. Não preciso dizer que isso é uma grande mentira, embora seja preciso mencionar que a verdade que se conhece sobre os campos de extermínio e concentração foi criada pelos vencedores da Segunda Guerra: norte-americanos, cuja economia desde a abolição da escravidão era largamente comandada por judeus (e é até hoje). Vamos, então, diferenciar prisão, campo de concentração e campo de extermínio.

Uma prisão, bem ou mal, é envolta e perpassada por leis: há leis específicas que determinam tempo e método de punição, dentre as quais, convenções nacionais e internacionais de direitos humanos; há separação entre homens, mulheres, jovens e crianças, para os quais há legislação punitiva distinta, levando-se em consideração uma série de fatores desde o tipo de infração até questões fisiológicas como condição de saúde e idade. Os presos recebem visitas, tem direitos prescritos e sua punição, salvas algumas exceções, se resume ao cárcere que é, para um Estado de Direito, basicamente a privação dos direitos à liberdade, propriedade e trabalho assalariado. E, cá entre nós, se você tem grana nem preso você fica, independente do país, ou, caso não haja solução, o dinheiro garante férias ao invés de cárcere dentro do sistema prisional.

O campo de concentração é um pouco diferente de uma prisão. Geralmente, é fruto de ato legal do Poder Executivo quando em Estado de Guerra e trata-se, em tese, de um local específico para onde devem ser enviados os prisioneiros de guerra. Essas pessoas tem seus direitos civis e políticos suspensos, ato que deve perdurar somente enquanto permanecer o Estado de Guerra, porém, sem supressão de direitos humanos os quais são determinados observando-se convenções internacionais. Portanto, tecnicamente, o prisioneiro no campo de concentração, embora tenha parte dos seus direitos suspensos, não pode ser vítima de violência ou maus tratos, prevalecendo sua condição de indivíduo e sujeito de direitos. Caso seja comprovado qualquer desrespeito ou desacato a suprema condição humana, os responsáveis, em tese, devem responder pessoalmente pelas acusações e podem ser condenados a pena capital por crime de lesa humanidade.

Um campo de extermínio é completamente diferente de uma prisão convencional ou um campo de concentração.

Homens ou mulheres, adultos ou crianças, ricos ou pobres: todos são uma coisa só, uma massa degenerada completamente alheia ao conceito de humanidade. É um lugar amaldiçoado onde os sujeitos são a todo o momento e de todas as formas despidos da sua condição humana através da tortura, da humilhação, do vilipêndio, da profanação, da violação, da violência. Não há dignidade nem escolha. Tudo o que resta aos prisioneiros de campos de extermínio é esperar por uma morte pouco dolorosa, enquanto preparam seu espírito porque nem mesmo seus corpos lhes pertencem. Os enclausurados em campos de extermínio não são considerados humanos, nem sujeitos e muito menos indivíduos... eles não são nada... eles não são ninguém. Em outras palavras, estão lá para um único propósito apenas: morrer.

Auschwitz: "o trabalho liberta"

 Entrada de Auschwitz-Birkenau. Foto recente extraída do Google.

Não foi a toa que Theodor Adorno, no seu famoso ensaio “A educação após Auschwitz” (1965), foi enfático: Auschwitz não pode acontecer nunca mais! Evidentemente, havia muitíssimos desses campos que eram controlados pela SS, a polícia nazista, e foram idealizados da maneira como conhecemos por Heinrich Himmler, terceiro homem no escalão do Reich e comandante da SS. Mas dentre todos os campos, Auschwitz-Birkenau, sem dúvida, foi o pior. Tratava-se de um complexo gigantesco que abrigava, ao mesmo tempo, prisões, campos de concentração e campos de extermínio. Por isso que, desde Auschwitz, é comum as pessoas confundirem campos de concentração com prisões e campos de extermínio. Estima-se que mais de um milhão de pessoas, entre judeus, ciganos e demais prisioneiros de guerra, tenham morrido durante o período de funcionamento de Auschwitz, entre 1940 e 1945.

Uma vez lá confinadas, as pessoas estavam sujeitas a todo o tipo de vilipêndio: trabalho forçado; torturas; experimentos científicos, como aquele que o doutor Josef Menguele empreendeu na ala Birkenau: métodos de esterilização em massa, injeções de substâncias nos olhos para mudança da cor, dissecações ainda em vida. Além disso, havia também as surras; a escassez de comida; as doenças contagiosas; os vermes; os animais peçonhentos etc.

Imagem de Campo de Concentração extraída do Google.

Auschwitz foi o fruto mais viçoso dos ideais racistas e anti-humanistas dos nazistas. Há poucos dias assisti um documentário feito pela Discovery que se chama “A conspiração nazista”, exibido pela primeira vez em 16 de outubro de 2010 pelo Discovery Channel. Nesse documentário, os autores mostram como, paralelamente a criação de um Rich absolutamente ariano, os ideais nazistas de pureza de sangue e raça eram propagados aos alemães desde tenra idade. A engenharia do esquema tinha uma precisão assustadora, era milimetricamente calculada a curto, médio e longo prazos, desde uma pedagogia nazista até a participação na principal empresa nazista chamada Tausendjährige Reich (Reich de Mil Anos), passando, é claro, pela religião do nazismo, que agregava elementos de várias culturas antigas, como o uso da suástica invertida, mas principalmente aqueles advindos do saxão arcaico, como as runas de Odin que adornavam os uniformes da SS e referiam a divisões distintas, com tarefas distintas no Reich. Auschwitz era para onde convergia toda essa dinâmica, era o lugar de gestação dos ideais que o alto comando postulava em Berlim e por isso era tão grande e proporcionalmente tão terrível.

Se o que o cartunista de vanguarda Art Spiegelman contou na obra “Maus” (1980) foi verdade, é compreensível o medo que Adorno transmite ao falar de Auschwitz. 

Capa da Edição Completa de Maus publicada no Brasil em 2005 pela Cia das Letras.

Vladeck Spiegelman e sua esposa Anja Spiegelman, ambos protagonistas de “Maus” e pais de Art, estiveram em Auschwitz. Eles sobreviveram, mas carregaram as cicatrizes daquele lugar maldito em seus corpos, em suas mentes e em suas almas até o fim de suas vidas. Mas, não é necessariamente este o ponto que me chamou a atenção no livro. Eu sempre me perguntei por que os judeus nunca reagiram durante o Holocausto? Eles resistiram, mas não reagiram. Medo? Religião? Ambos? Não sei. O que mais me chocou na leitura da obra de Spiegelman, muito mais do que a violência, foi a falta de união entre os judeus. Eles se ajudavam não pelo fato de estarem fodidos no mesmo barco, mas sim para adquirirem vantagens uns sobre os outros. Isto não é uma discussão de caráter, mesmo porque penso que seja difícil definir caráter em estado de guerra, mas o que me espanta é que não bastando a crueldade que sofriam dos nazistas, havia uma crueldade interna ao grupo, de tal forma que se estabeleceu uma hierarquia de comando entre os judeus. Não havia solidariedade, havia negociação. Mas o que eles tinham para negociar, afinal de contas? E mais do que isso: para que negociar? E isso sem mencionar os pelegos.

quadrinho de Maus (1980), de Art Spiegelman.

Há uma corrente neonazista que defende que os campos de concentração nazistas, sobretudo Auschwitz, eram retiros de paz e sabedoria para os judeus e foi o conhecimento desse fato que me motivou a fazer essa série de posts sobre o Nazismo. E você, cara leitora, caro leitor, depois do que escrevi até agora, o que você acha disso? Abaixo, o link da internet onde li a respeito para que você mesmo, para que você mesma, possa ver e tecer sua própria opinião.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

NAZISMO PARTE II

Antes de iniciar esse segundo post sobre o nazismo, eu preciso fazer algumas observações. Embora a maneira como costumo escrever aqui neste espaço de livre expressão que é o meu blog — ou pelo menos assim eu o considero — prime pela informalidade, há certos assuntos que não podem ter como ponto de partida a doxa em seu estado puro. Foi preciso que eu passasse minhas idéias por um filtro e, por isso, tive de entrar em contato com alguma literatura e algumas fontes de mídia que tratam ou referenciam o tema do nazismo.

No que diz respeito a literatura, estarei dialogando o tempo todo com: Origens do Totalitarismo (ARENDT, 1979); Educação após Auschwitz e Dialética do Esclarecimento (ADORNO, 1985 e 2003); O Livro Negro do Comunismo (1999); a autobiografia de Hitler, Mein Kampf (HITLER, 1937); escritos diversos de Foucault, Althusser e Gramsci; além da Tríade Digital do Século XXI: Scielo, Google e Wikipedia.

Nas fontes de mídia figuram as seguintes obras: O grande ditador (Chaplin, 1940); Fahrenheit 451 (Truffaut, 1966); Laranja Mecânica (Kubrick, 1971); Saló ou os 120 dias de Sodoma (Pasolini, 1975); 1984 (Radford, 1984); A lista de Schindler (Spielberg, 1993); Matrix (irmãos Wachowski, 1999); O Pianista (Polanski, 2002); A queda: as últimas horas de Hitler (Ganz, 2004); Operação Valquiria (Singer, 2008); e Bastardos Inglórios (Tarantino, 2009).

Espero que curtam o post.

Nazismo – Parte II
O despertar de um líder

O cenário que se apresentava no pós Primeira Guerra era um quadro desesperador. Após o armistício de 1919, o mundo mergulhou em uma profunda crise econômica. Destruída, a Europa dependia de terceiros para se reorganizar e se reestruturar e por um longo tempo não seria o mercado promissor de outrora, uma vez que os investimentos debandaram. Fome, miséria, desemprego, doenças e uma profunda cicatriz na alma do hemisfério norte constituíam o produto da Primeira Grande Guerra, o grande legado da vontade de igualdade que fizeram os países mais ricos do mundo entrarem em conflito.

Aproveitando-se do desespero da Europa destruída, os Estados Unidos fizeram crescer sua economia em larga escala financiando a recuperação do Velho Continente, conseguindo, em troca, taxas de exportação extremamente propícias, o que fez sua produção e mercado interno aumentarem indiscriminadamente. A Europa engoliu seu orgulho e beijou a mão do Uncle Sam, aceitando essa sujeição provisória em troca de uma pequena chama de esperança. Já na segunda metade da década de 1920, entretanto, a Europa conseguiu retomar sua produção interna e restabelecer parcialmente sua economia, reduzindo consideravelmente as importações dos EUA. Isso, combinado ao crescimento econômico desenfreado e mal planejado dos EUA, acarretou a grave Grande Depressão a partir de 1929: extrema produção e demanda quase nula, situação que apenas se resolveu com o final da Segunda Guerra.

Ironicamente, o quadro favoreceu os germânicos: de um lado, os países aliados, felizes que estavam por conseguir retomarem sua economia, deixaram de lado o castigo à Alemanha; de outro, os EUA estagnou sua economia e sofreu um período de crise extrema, a ponto da máfia se infiltrar no governo americano e controlá-lo dos bastidores. Preocupados que estavam com seus próprios problemas, todos eles se esqueceram da República de Wiemar.

Percebendo a crise internacional e se aproveitando do restabelecimento econômico europeu, os alemães ao mesmo tempo em que retomaram sua própria economia, procuraram se organizar social e politicamente. Vários partidos se formaram durante esse período e a Alemanha, gradativamente, retomou também seu controle político interno. Entre esses partidos, havia um certo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei), cuja sigla resumida era NAZI. Um certo Adolf Hitler, jovem austríaco, nascido na província de Linz e lutador condecorado com a Cruz de Ferro de Primeira Classe na Primeira Grande Guerra por bravura, filiado ao NAZI, começou a chamar a atenção dos defensores do Nacional Socialismo pelo seu histórico, pela sua retórica revanchista, pelos trabalhos que vinha prestando ao exército alemão como divulgador do nacionalismo e pelo seu discurso anti-semita, o qual Hitler apoiava desde o início da década de 1910, quando esteve em Viena pela primeira vez e teve contato com os panfletos anti-semitas de Jörg Lanz von Liebenfels, que no exército alemão era defendido por Dietrich Eckart, o qual logo se tornou amigo pessoal de Adolf. Em 1929, como expoente do NAZI, Hitler já conclamava os alemães a recuperarem seu orgulho ferido pelo Tratado de Versalhes e em novembro de 1933 ele prestava juramento como Chanceler ao Reichstag.

Imbuído desse arsenal retórico-demagógico e apoiado pelo alto escalão das forças armadas, Adolf Hitler precisou apenas sitiar e se apossar da última instância de resistência de qualquer nação orgulhosa: o povo. A partir de então, se tornou seu condutor, o Füher, o supremo comandante. “Tudo o que vocês são, o são através de mim; e tudo o que eu sou, sou somente através de vocês” (ARENDT, 1979, p. 374). Essa frase proferida pelo próprio Hitler em discurso, mostra a essência da sua política totalitária: não havia nada entre ele e o povo; ele era o povo e tudo, absolutamente tudo o que ele fizesse representaria a própria vontade do povo. Uma sacada genial, é preciso admitir. Com essa jogada de mestre, ele, a um só tempo, eliminou oposições e unificou opiniões que justificariam os empreendimentos da “limpeza étnica” e do avanço extra fronteiras do Estado alemão. Como Hitler representava a vontade do povo, não houve questionamento popular, embora dentro do partido tenha havido várias insurgências, todas localizadas, reprimidas e punidas exemplarmente.

Assim ascendeu ao poder o “Grande Ditador” do século XX, sob os auspícios da população, dos políticos, dos industriários e das forças armadas. O Füher não apenas restabeleceu o orgulho alemão, como expandiu a economia interna com o fabrico de armamentos e investimentos pesados em tecnologia bélica, aumentando a oferta de emprego e ganhando, definitivamente, o total apoio popular. Após seis anos de investimento em guerra, faltava apenas uma coisa para coroar a subida de Hitler ao poder: uma guerra.

Continua em NAZISMO – Parte III: campos de desolação

sábado, 4 de agosto de 2012

A falácia das Olimpíadas

Agora há pouco, estive lendo um post muito interessante sobre as tais olimpíadas (compartilhado na minha página do facebook). A bandeira levantada é a do fair play, da união, do trabalho em equipe. Se você acredita mesmo nessa idiotice, permita-me lembrá-lo de que onde há competição não há fair play, nem união, nem trabalho em equipe, porque o que importa é vencer, estar no primeiro lugar do pódium, ser o coroado. Os Jogos Olímpicos tiveram início na Grécia, entre os séculos VIII a.C. e IV a.D., mas não eram os únicos. Havia, também, os Jogos Píticos que eram tão ou mais tradicionais do que os jogos olímpicos, embora ninguém sequer os mencione. A diferença é que os Jogos Olímpicos aconteciam na cidade de Olímpia e eram dedicados a Zeus; e os Jogos Píticos aconteciam em Delfos e eram dedicados a Apolo.

A concepção de atleta não surgiu do pacotinho que as redes televisivas embrulham e nos entregam. Não há como saber exatamente como surgiram, embora o mais provável seja que as habilidades que, ao longo do tempo, passaram a integrar a concepção de atleta que temos hoje sejam provenientes das atividades de agricultura, caça e defesa territorial. Vejam vocês, por exemplo, que os atletas gregos eram todos soldados. Bem, alguém já se perguntou, em uma época em que o ser humano tinha que fazer tudo para se sustentar, desde plantar sua comida até costurar as amarras dos próprios sapatos, como seria possível haver pessoas que em meio a tantos afazeres ainda encontravam tempo para treinar? É evidente que essas pessoas tinham quem fizesse o resto por elas para que se preocupassem com treinamento e não o treinamento para jogos e sim o treinamento para a guerra. Eu detesto destruir ilusões, mas eis o porque de fair play, união e espírito de equipe não passarem de jargões hipócritas: a concepção de atleta nasceu fundamentalmente atrelada à guerra, de forma que só pode haver um vencedor. Sem misericórdia. Sem altruísmo. Guerra é guerra. Bom, ao menos sempre foi assim que nós seres humanos, dotados de incrível inteligência, a concebemos não é?

Então, por favor, não me venham reclamar que os "coitadinhos" dos atletas brasileiros são injustiçados. Não são. Na Antiguidade, os atletas competiam pelas honras da consagração como herói junto ao deus cultuado. Vencer era muito mais do que ganhar uma rodela de ouro em volta do pescoço ou uma coroa de tempero em volta da cabeça; era uma questão muito mais de fé e respeito ao deus cultuado do que trazer pedacinhos de terra ou plantas para o país de origem. Hoje, ganhar significa justamente isso: quanto mais rodelinhas de metal você tem em volta do pescoço, melhor você é, melhor o seu país é. Eu me pegunto quem, em sã consciência, representaria com garra e determinação um país como o Brasil que se diz entre o Top Ten mundial enquanto jovens chegam ao ensino médio sem saber juntar letras para formar palavras. Quando eu digo isso, muita gente me diz "não misture as coisas, uma não tem nada a ver com outra". Não mesmo? Eu discordo. Para mim tudo tem a ver com tudo no sentido em que ainda pensamos o Brasil, como Estado-nação. De que adianta, por exemplo, investir todo o PIB em olimpíada e copa, se isso significa negar infraestrutura necessária ao país? Eu sempre me pergunto o que o Brasil ainda quer provar para os gringos, uma vez que eles já sabem que nossa "cultura" se resume e bunda gostosa, futebol e samba.

Vamos parar de ficar com dozinho de atletas olímpicos. Eles sabem no que se meteram e porque estão lá, ninguém foi buscá-los em casa dizendo "por favor, compita pelo Brasil, nós precisamos de você". Todos e cada um deles sabe que ao decidir pelo nível mundial, a seleção começa muito mais pelo bolso do que pela habilidade, dedicação e treinamento. Olimpíada é coisa de rico e se o atleta não tem como se bancar, sinto muito, mas o Estado está pouco se lixando para isso. O que importa para a imagem do Brasil, em termos de olimpíadas, é o quantum de Au-197 os atletas irão trazer. Se trouxerem bastante, ótimo, somos os melhores. Se trouxerem pouco, ninguém vai consolá-los ou dizer "eu acredito em você", porque serão vistos como desperdício de grana e, infelizmente, o dinheiro, o mercado e as finanças são capazes de superar qualquer marca olímpica. Então atleta, por favor, pare de competir pelo Brasil e compita por você, porque o mérito da vitória tem que ser seu e não de uma nação que não o apóia e, ainda assim, cobra rendimento.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

COMISSÃO DA VERDADE É O CARALHO!

Então a tal da """""""""""""""""""Comissão da Verdade"""""""""""""'' foi """""aprovada""""". Ótimo! E nada mais justo do que começar, é claro, pela apuração dos crimes (?) das vítimas das ditaduras entre 1946 e 1985. Nada mais justo do que começar por onde? Pela esquerda, ora essa!. Eu não sei nem o que dizer diante da reportagem da Folha de São Paulo desta quarta-feira, 16/05/2012, sobre essa farsa muito mal montada intitulada de "Comissão da Verdade" (vejam o link no final da postagem). Eu fui obrigado a parar tudo o que estava fazendo para manifestar o meu repúdio, para dizer o mínimo, diante dessa chusma de filhos da puta que estão brincando com a história.

Essa merda já começou mal, e muito mal diga-se de passagem. Minha opinião quanto a isso é uma só: se for para ficar brincando de passa-anel e depois de pega-pega, é melhor nem começar. Dito de outra forma: para que mexer com o passado senão para acertar as contas com ele? Se é apenas para deixar os cardíacos como eu em estado ainda mais crítico, então é melhor deixar toda essa merda na latrina em que se encontra agora: alguma gaveta fétida, de alguma sala imunda em uma sala de lugar nenhum. Essa porra dessa comissão da puta que pariu não vai punir os responsáveis pelos crimes de lesa-humanidade, mas apenas vai trazê-los a público, evidentemente, porque uma parcela considerável deles ainda está viva (pelo menos aqueles do período entre 1964-1985). E esta é, também, a razão pela qual protelou-se e negociou-se tanto para que fosse aprovada. O resultado, pelo que tenho observado, é que essa vai ser mais uma daquelas marolinhas, mais um daqueles surtos, mais um daqueles espasmos de mudança na história brasileira. Nesses momentos Caio Prado Júnior e seu livro História Econômica do Brasil visitam a minha mente: surtos de desenvolvimento; surtos de riqueza; surtos de mudança; surtos, surtos... somente surtos.

Abaixo o link apenas da manchete na Folha online. Eu recomendo a todos e a todas que, se possível, comprem o jornal e leiam a reportagem na íntegra.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

NAZISMO PARTE I

Há algum tempo, venho sendo acometido por um estranho sentimento que, embora suportável, está sempre visitando os recônditos mais profundos e sombrios da minha mente exortando-me ao dever. Não é, absolutamente, um sentimento ruim, mas um chamado a cumprir certas promessas que fiz a mim mesmo há muito tempo atrás. Por fim, decidi que devia seguir minha natureza e levar a cabo esta empreitada. Decidi, ainda, que vou fazê-lo em diversos volumes, dividindo em vários posts esta breve ontologia do nazismo.

O que espero de vocês, internautas, que aqui chegaram e prestigiam meu humilde blog? Paciência. Compreensão. Eu espero que as linhas que escreverei a seguir não se tornem um mote para extremismos, mas que sirvam, minimamente, para trazer tão somente um ponto de vista a somar aos incontáveis já existentes. Além disso, espero que vocês contribuam com suas opiniões a respeito do que escreverei.

NAZISMO – PARTE I
A pré-história

Não vou me deter em definir um conceito de nazismo... por enquanto. Antes, porém, de mergulhar nesse mundo obscuro e repleto de inconsistências, talvez seja interessante analisar o contexto em que o nazismo ocorreu. Para isso, convido a todos a atrasar o tempo para o século XIX, no período histórico conhecido como Imperialismo ou Neocolonialismo, proporcionado pela segunda Revolução Industrial, em que o ideal de produção em massa havia se alastrado de tal maneira pela Europa que o continente ficou pequeno para as emergentes potências industriais, encabeçadas por Inglaterra, França, Alemanha e Bélgica e, posteriormente, aderido pela Rússia e Itália. Duas outras nações vinham na mesma marcha, porém, caminhavam a espreita: na América, EUA, e na Ásia o Japão. O que estava em jogo era o controle do Mundo [só pra variar], de forma que o vencedor dessa corrida industrial ditaria os rumos históricos [acha?!]. É importante, aqui, pensarmos o conceito de controle do mundo em todos os termos possíveis: econômico, evidente, mas também político, social e cultural. Na verdade, o vencedor daquela corrida desmedida por expansão e lucro seria capaz controlar o poder dos demais e dizer-lhes o que pensar, como agir, ditar-lhes rumos independentemente das suas aspirações internas, impor costumes, fazer regras etc. Até aqui, como vocês já devem ter percebido, nenhuma novidade. Em termos históricos, esse sempre fora o rumo das grandes conquistas empreendidas pelo homem. Apenas um único fator marcou a diferença entre aquelas potências e decidiu os rumos da humanidade a partir de então: a indústria bélica. É claro. Cada uma das potências manipulava diversas técnicas de industrialização de metais e possuía a capacidade de transformar esse potencial em produção de armamento em massa. E não duvidem de que estavam dispostas e utilizá-las sob os auspícios da soberania nacional e da supremacia racial, razões de fato utilizadas por todas elas para expandirem suas fronteiras extra-continente e que, em um futuro não muito distante dali, serviria também para justificar as mais terríveis e abomináveis atrocidades.

A corrida expansionista atravessou o Mediterrâneo, encontrando em seu caminho a velha África, onde as potências acharam por bem estabelecer suas, digamos assim, “bases” de exploração. Indo um pouco mais adiante, entraram também no território asiático, estabelecendo suas “novas colônias” na Índia, nos Tigres Asiáticos etc. Aproveitando a deixa, o Japão entrou em guerra com a China e dominou a região da Manchuria e suas rotas comerciais. Começava, então, um dos períodos mais funestos da história, sob o estandarte da exploração e do racismo por parte de países que se auto-intitulavam “civilizados”. Sim... Milhões de vidas sacrificadas em nome daquilo que se convencionou chamar “progresso”, transmutado depois para “civilização”. Mas, por que África e Ásia? Houve na Europa, em meados do século XIX um movimento chamado Evolucionismo, erroneamente atrelado a teoria da Seleção Natural de Charles Darwin. Esse movimento, apropriado pelos donos do poder, passou a entender o desenvolvimento humano como uma marcha em linha reta atravessando etapas de desenvolvimento, do primitivo ao civilizado. Estabeleceu-se, evidentemente, padrões sociais do que se entendia por “civilizado” a partir do estilo de vida europeu, mais precisamente, o estilo inglês, uma vez que a Inglaterra atravessava a sua primavera histórica conhecida como Era Vitoriana. Partindo desse recorte, estabeleceu-se a primitividade como sendo tudo o que diferia dos tipos sociais ingleses de base aristocrática: o gentleman e a lady. É válido dizer que havia pouquíssimos gentlemen e quase nenhuma lady além da Europa, então, curiosamente, africanos e asiáticos foram considerados exatamente o contrário, razão esta utilizada pelos europeus para legitimar suas ações extra-continentais.

No final do século XIX, as potências européias decidiram que a África e a Ásia seriam partilhadas, pelo fato de que as potências que possuíam colônias naquelas terras, em virtude da sua expansão desmedida, começaram a invadir territórios pertencentes a outros países. Contudo, um país que vinha em contínua marcha de crescimento, sentiu-se prejudicado nessa partilha, dada a escassez de territórios. Este foi o estopim da Primeira Guerra Mundial, que colocou europeus contra europeus em um dos maiores genocídios da história da humanidade. O confronto central se deu entre dois grupos: a Tríplice Aliança  encabeçada por Alemanha, Império austro-húngaro e Itália, países estes que se sentiram lesados na partilha da África e Ásia, versus a Tríplice Entente regida por Inglaterra, França e Rússia, os quais juntos detinham a maior capacidade industrial.

Dentro desse conflito, outros propósitos que estavam latentes havia séculos, foram vomitados na face da terra por parte de cada um dos países envolvidos: nacionalismo, xenofobismo, vinganças as mais diversas, poder, questões políticas, rixas internas e externas etc. Mas o confronto tomou tamanhas proporções devido ao fator armamentista e acabou por fugir ao controle dos envolvidos. Quando se deram conta, a “civilizada” Europa estava em ruínas e nenhum dos países envolvidos poderia voltar atrás, sob pena de extinção. Não havia retorno: teriam de lutar todos até o último homem se fosse preciso. Porém, ironicamente, nenhum dos países combatentes alcançou aquilo que tanto almejava, nenhum deles conseguiu o domínio do mundo. Foi um outro país, dotado, é preciso reconhecer, de exímios políticos e negociantes implacáveis, que deu o maior chapéu da história, transformando a Guerra Mundial em nada além de lucro e fazendo os europeus vítimas das suas próprias artimanhas liberalistas: os Estados Unidos da America, cujo período de quatro anos de guerra entre europeus foi mais do que o suficiente para que se transformasse na maior potência da terra e submetesse todos os “civilizados”, um a um, enquanto se digladiavam vorazmente. Bem, se os EUA foram os verdadeiros vitoriosos da guerra, é claro que houve a contrapartida, o perdedor, o bode expiatório: a Alemanha. Como os europeus estavam reduzidos, literalmente, a pó e não poderiam, mesmo que se unissem, guerrear contra os EUA, se contentaram em espoliar a Alemanha, assinando em 28 de junho de 1919 o Tratado de Versalhes, o armistício mais desprezível da história da humanidade. A Alemanha foi dividida entre Capitalistas e Socialistas; perdeu o direito de exploração dentro e fora de suas fronteiras; perdeu os territórios que tinha na África e Ásia; foi proibida de formar exército; e teve de pagar indenizações à Tríplice Entente e seus aliados. Isso tudo, somado a um país reduzido a, praticamente, cinzas. A Alemanha foi humilhada, foi ferida em seu brio de nação, perdeu seu rumo e foi entregue a terceiros por muitos anos.

Mas, a Tríplice Entente, ao reduzir uma potência industrial a espólio de guerra, não levou em consideração três fatores históricos que sempre foram decisivos nos destinos da Europa: o orgulho, a obstinação e a frieza germânicas.


Continua em NAZISMO – PARTE II: o despertar de um líder...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Em breve (coming soon)


Um post sobre o nazismo