sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal

Quando eu era criança, o Natal tinha um significado diferente do que tem hoje. A começar pelo clima da época. Eu me lembro que, nos anos 1990, passei poucos Natais sem chuva. Nos últimos dez anos, me lembro de um ou dois Natais chuvosos. Mas, falando de clima, não é apenas o clima do tempo que era diferente, mas o clima em relação às próprias pessoas. Todos se preparavam para as festas, todos se convidavam para inúmeros encontros, fazíamos amigo secreto (os cariocas chamam de "amigo oculto", provavelmente só pra colocar um "cu" onde não tinha).

Na faculdade eu fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que, a bem da verdade, simplesmente desconhecem o Natal, o que se deve à uma questão simplesmente cultural: sendo o Brasil um caleidoscópio de nações, é mais do que natural que muitas pessoas não estejam nem aí pro Natal. Ainda assim, aquilo me espantou. Eu sempre fui acostumado a viver um clima de reunião nos Natais. Mas, infelizmente, o mundo não é assim. As pessoas não querem se reunir umas com as outras. Estamos cada vez mais ocupados, cada vez mais ricos e cada vez mais distantes. Não nos preocupamos conosco mesmos nem com nosso futuro. Para nós, a natureza que se foda, porque o mundo precisa "progredir"... Fiquei seis anos na graduação e agora vou para o mestrado sem saber que diabos significa essa palavra. Três sílabas... apenas três sílabas são a justificativa para guerras, morte, destruição, desespero, inflecidade.

Muitos perguntam "para que serviu o Natal desde que foi criado?". Eu pergunto: o que seria do mundo se não tivesse havido nenhum Natal? Estaríamos aqui hoje? Como é possível parar máquinas de fazer dinheiro? Antigamente, sangue inocente seria a resposta. Hoje em dia, nem isso mais. Não há absolutamente nada que seja capaz de parar ou ao menos limitar o domínio que o dinheiro e o poder exercem sobre os seres humanos.

O Natal, apesar de ser sim uma festa comercial e mais uma fonte de riqueza pra quem vive da exploração das pessoas, traz, ainda que praticamente extinta, uma chama de alento aos nossos espíritos. O mundo não tem mais encanto. Aquela sensação de magia que eu sentia quando criança, nas apenas no Natal, mas todos os dias, por mais que eu queira, por mais que eu busque desesperadamente, não sinto mais. Aquele cheiro de dia de Natal se extinguiu, e eu temo que para sempre. O espírito do Natal parece ter deixado este mundo. Tudo o que nos resta são pistas, rastros que em breve serão cobertos pelo pó que compõe este mundo.

Se você concorda ou discorda de mim, não importa. Apenas não se esqueça que o Natal, apesar do que possa parecer nesse mundo desencantado, tem um significado muito mais profundo e muito mais abrangente, que, inclusive, vai muito além até mesmo do que a igreja nos ensina. Meu desejo é que em algum momento da sua vida você encontre esse significado, independente de crença, e sinta o que eu sinto quando é Natal.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Pensamento do dia. Tenha um bom fim de semana!

O mundo dos seres humanos não é tão diferente do mundo dos animais: aqui sobrevive o mais forte, aquele que tem poder simbólico o suficiente para fazer frente aos demais. Poder simbólico. Esta é a grande diferença entre os dois mundos, o dos animais e o dos seres humanos: entre estes vale o símbolo de poder; entre aqueles vale o mais forte, que comprova sua superioridade física corpo-a-corpo. 

Não somos animais. Somos homens e mulheres. Somos diferentes dos animais em muitas coisas; em outras somos semelhantes a eles; e em algumas somos idênticos. Um exemplo de diferença: não precisamos nos morder até a morte para provarmos nossa força. Um exemplo de semelhança: demarcamos território com papéis, cores e muita conversa afiada ao invés de mijo. Um exemplo em que somos idênticos: quando em grupo, precisamos reconhecer ao menos um líder*.

Entretanto, muito embora não precisemos nos morder para demonstrarmos força e nem mijar na terra para demarcar território, nos sujeitamos a fazê-los em nome de um líder... ou para sermos o líder.
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* Na mitologia grega, Quiron não reconhecia nenhuma liderança porque era um centauro: uma espécie de híbrido, um ponto de convergência entre seres humanos e animais, uma síntese, portanto. A representação de Quiron, como arquétipo da figura do centauro, aparece na iconografia tendo a parte humana acima da parte animal, denotando um ideal de supremacia da razão sobre o instinto. Quiron é o grande mestre de várias das mais célebres figuras mitológicas gregas, como Zeus, Hércules e Aquiles, porque está em um ponto extremamente estratégico: 1) é um ser divino, portanto, goza de imortalidade; 2) é metade homem e, como tal, representa o ideal grego de perfeição humana: sabedoria, inteligência e espiritualidade; 3) é metade animal, agregando, além das habilidades de desenvolvimento dos sentidos, força e agilidade próprias dos animais, a capacidade de compreender a própria linguagem natural. Quiron representa, em si, um portal que dá acesso a vários mundos diferentes, sendo ele mesmo a própria chave desses portais, razão pela qual é mais representado como líder do que como liderado.