Acabei de ler uma entrevista do Lobão (http://www.elhombre.com.br/lobao-joga-ventilador-el-hombre/). Eu
não gosto das músicas do Lobão. Particularmente, sempre achei que ele fosse um
reacionariozinho enrustido. No entanto, não posso deixar de concordar com a
opinião dele sobre a música brasileira, no seguinte sentido: há muito tempo que
a imundície sonora polui os meus ouvidos. Eu não suporto mais ligar o
rádio ou a TV e ouvir/assistir sempre a mesma merda em termos de
"atrações" musicais. De fato, qualidade nunca foi uma preocupação da
mídia brasileira porque o público não é exigente: se aceita o que se oferece.
Ninguém discute. Ninguém opina. Parecemos um bando de vaquinhas de presépio,
simplesmente abaixando a cabeça e dizendo "amém" pra tudo que vemos e
ouvimos.
Até hoje, penso que só tivemos surtos de qualidade na música brasileira e começou
com a Bossa Nova, um movimento interessante e proposto a um projeto realmente
inovador: introduzir o jazz. Mas, infelizmente, os artistas dessa leva ou eram
somente bons letristas ou somente bons instrumentistas e isso, a meu ver,
prejudicou ao longo do tempo o desenvolvimento desse estilo que se tornou
absurdamente erudito, fechado e sem espaço para inovação. A Tropicália tentou
uma proposta muito legal e, no início, foi bem sucedida, trazendo algo bastante
inovador e que tendia à popularização. No entanto, em determinado momento
criou-se um cânone de "intocáveis" e a qualidade da música se perdeu
paulatinamente, porque caiu na mesmice e depois na chatice. A Jovem Guarda
tinha, por outro lado, uma capacidade peculiar de movimentar a juventude
brasileira e, no início, isso deu muito certo. A introdução do rock n' roll no
Brasil foi um feito memorável, mas, de repente, o seu maior expoente se rendeu
ao mercado musical, causando uma fratura tão grande que nenhum dos músicos
desse movimento conseguiu jamais se recuperar.
Nos anos 1980 e 1990, ao
contrário, muita gente fez coisa muito boa: muita gente nova surgiu e alguns
dos antigos amadureceram e foi o período em que a música no Brasil se
remodelou. Parecia que tudo se encaminhava pra um desenvolvimento musical no
melhor sentido possível. Entretanto, a partir de meados dos anos 1990, só
existe uma expressão que seja capaz de definir o sentimento que tenho: QUE
PORRA É ESSA? De uma hora pra outra não existe mais trabalho musical; a letra
perde cada vez mais espaço pro ritmo nas composições; os temas se tornam cada
vez mais simplórios; os instrumentistas e os vocalistas não se experimentam
mais. Não há, enfim, mais espaço pra duas coisas fundamentais no trabalho
artístico musical: exploração e experimentação.
O problema, então, não é o funk, nem o
sertanejo, ou o pagode, ou o samba, ou a MPB, porque cada um desses estilos
musicais constitui uma parte importante e valiosa da cultura musical
brasileira, tecendo uma história caleidoscópica dessa cultura. O problema é que cada um desses estilos musicais está estagnado e não dialoga com os demais. Cada um segue o seu caminho, como se não existisse mais
nada ao redor, como se não houvesse um "ao redor". Se isso continuar, de fato a música brasileira não vai passar de
uma sombra mesmo.