sexta-feira, 21 de junho de 2013

O MPL E A VIOLÊNCIA

Antes de tudo, um mea culpa. Eu, sinceramente, não achava que os brasileiros seriam capazes, na contemporaneidade, de uma mobilização dessa magnitude. Que bom que eu mordi minha língua, que bom que eu me enganei. Ainda há esperança e isso me fez acreditar que é possível construir um país melhor. Eu agradeço aos manifestantes por mostrarem isso de forma muito legítima. O Movimento Passe Livre (MPL) foi o grande estopim dessa onda de manifestações que observamos no Brasil, mas aos poucos estão vindo à tona outras questões que permaneceram latentes durante muito tempo, dentre as quais notadamente a corrupção e as polêmicas de gênero causadas por Marcus Feliciano e toda a chusma que compõe a bancada da assembléia de Deus no Congresso. Os cidadãos brasileiros utilizaram o seu direito e o seu dever democráticos de manifestação legítima.

O problema é que a mídia inescrupulosa, sempre reacionária, sempre de rabo preso com o poder, ao invés de evidenciar a pauta de reivindicações da multidão comprometida com o protesto de forma séria e objetiva, fica evidenciando a violência. Não preciso dizer que a violência não deslegitima o movimento e explico porquê. Os reaças chamam de violência a agressão contra policiais e civis, a destruição de patrimônio público e privado. Bem, para falar disso eu me valho da definição de Renée Girard: a violência é uma situação que pode ou não se consumar em ato. E, por favor, não nos esqueçamos de Georg Simmel: a violência é uma das formas elementares de associação entre indivíduos. Portanto, o movimento é legítimo com ou sem violência.

Agora, se tem violência eu explico porquê. Os senhores políticos cospem na cara dos cidadãos todos os dias com sua corrupção desmedida e escancarada, isso não é violência? Uma mãe que tem que acordar cinco horas da manhã, com frio, calor, chuva, e enfrentar uma porra de uma fila pra marcar consulta pro seu filho, isso não é violência? Pessoas que morrem todos os dias nos hospitais largadas no chão, sem ao menos um leito pra apoiar seus restos mortais, isso não é violência? Um aposentado que passa anos sem reajuste no benefício, isso não é violência? Pessoas que são submetidas a regime de trabalho escravo, muitas delas crianças, enquanto os governantes fazem vistas grossas, isso não é violência? Os professores que são obrigados a carregar a educação moral dos indivíduos e enfrentar marginais em sala de aula com um toco de giz na mão, isso não é violência? Os policiais que, a mando dos governantes, descem a borrachada nos professores quando tentam lutar por condições mais humanas de trabalho, isso não é violência? Um político que supervaloriza uma obra que deveria servir ao público e enfia toda essa grana no bolso sem concluí-la e sem entregá-la devidamente funcionando a população, isso não é violência?

É claro que tudo isso corresponde a tipos diferentes de violência contra os cidadãos. Agora, me digam: por causa disso a política é deslegitimada? Por acaso os governantes perderam seu poder por não corresponder com as expectativas da população? Claro que não! A política ainda existe. Por outro lado, essas questões estiveram latentes por tanto tempo, que na situação atual propícia os indivíduos encontraram na violência uma das maneiras de se manifestar. E isso, por acaso, deslegitima as reivindicações? Quer dizer que todo o movimento se reduz a violência como mostram as coberturas jornalísticas? É CLARO QUE NÃO! Com ou sem violência, não importa, o fato é que os brasileiros resolveram cobrar os políticos e isso faz parte da democracia. Tanto é, que inúmeras cidades que haviam aumentado o valor das passagens de ônibus voltaram atrás! E os brasileiros e brasileiras estão de parabéns!